Descarte de urnas acontece desde 2008 e não impossibilita auditoria nem apaga dados de eleições

  • Publicado em 18 de março de 2025 às 15:50
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informar o descarte de 195 mil urnas eletrônicas em fevereiro de 2025, publicações com mais de 7 mil interações nas redes sociais apontam que a medida visaria “apagar rastro de fraude”, uma vez que impossibilitaria a auditoria de eleições anteriores. Mas isso é falso: os dados coletados pelas urnas nas eleições são armazenados em mídias externas e podem ser auditados mesmo após a destruição dos dispositivos. Além disso, o descarte não é novidade, e ocorre esporadicamente desde 2008.

“TSE DETONA 200 MIL URNAS PARA APAGAR O RASTRO DA FRAUDE Regime acelera a destruição de provas e enterra qualquer chance de auditoria”, lê-se na imagem que circula no Instagram, no Facebook, no X e no Threads

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Captura de tela feita em 14 de março de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

O conteúdo começou a circular após o Tribunal Superior Eleitoral divulgar, em 21 de fevereiro, o descarte de 195 mil urnas fora de uso do modelo UE 2009. 

Como informado pelo órgão, o descarte dessas urnas foi publicado no Diário Oficial da União em 22 de dezembro de 2023, um dia após a assinatura do contrato com a empresa responsável pela operação, e o recolhimento dos dispositivos foi finalizado em outubro de 2024. 

Mas, diferentemente do que apontam as publicações, o descarte das urnas não implica no apagamento de dados de eleições e tampouco impossibilita a auditoria de seus resultados. 

Dados armazenados em diferentes mídias

Como explicado pelo TSE, uma vez digitados nas urnas, os votos são armazenados no arquivo eletrônico Registro Digital do Voto (RDV) de forma aleatória. Em seguida, essas informações são armazenadas em mídias diferentes, sendo uma interna e outra externa. 

Após o encerramento dos pleitos e da divulgação dos boletins de urna (BUs), a mídia removível é enviada para um local onde seus dados são transmitidos para o servidor central do TSE, de onde são totalizados os votos. 

Como explicou Avelino Francisco Zorzo, professor doutor do grupo de segurança e confiabilidade de sistemas da PUC-RS, o armazenamento dos dados em diferentes mídias, justamente, possibilita a auditoria. 

“A urna possui uma mídia interna  que tem o sistema operacional, os dados da eleição, registro digital de votos, logs… Há uma segunda mídia, externa, que mantém cópia desses dados. Além disso, tem mais uma mídia externa que é usada para posterior transmissão dos votos. Os votos ficam registrados em todas essas mídias. Assim, existem diversas possibilidades de auditoria”, afirmou. 

Auditoria em diferentes momentos

Sendo assim, o descarte das urnas não impede a auditoria e tampouco deleta dados, porque eles são armazenados em dispositivos diferentes. 

“Os dados das eleições, coletados pelas urnas eletrônicas, são transmitidos para o TSE, onde ficam armazenados. Mesmo assim, as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições ainda ficam preservadas por um tempo, caso alguém queira fazer alguma verificação”, acrescentou Zorzo. 

De acordo com o TSE, as urnas possuem vida útil de dez anos e o descarte acontece desde 2008.  

O modelo descartado em 2025 pelo TSE não foi utilizado nas eleições municipais de 2024. Na eleição presidencial de 2022, do total de 577.125 urnas usadas, 73.284 eram do modelo UE 2009

Como explicado pelo Checamos, a auditoria das urnas e dos resultados das eleições pode ocorrer em diferentes momentos, tanto antes como após as eleições. 

Antes de cada pleito, as urnas passam por cerimônias e testes de auditoria que podem ser acompanhados pelo público, como a cerimônia de Assinatura Digital e Lacração dos Sistemas Eleitorais e a votação paralela, uma eleição simulada para conferir o funcionamento das urnas. 

No dia da eleição, é emitido a zerésima, um documento impresso pela urna antes do início da votação para conferir que não há nenhum voto registrado. Também são realizados testes de autenticidade nesse mesmo dia. 

Já a auditoria após as eleições pode ser feita por meio de arquivos e relatórios que são disponibilizados pelo TSE na internet, como o log das urnas, os RDVs e os boletins de urna (BUs).  

TSE nega alegação 

O TSE negou em nota, publicada em 5 de março de 2025, que o descarte das urnas seja para “ocultar dados” das eleições e destacou que nenhuma urna descartada possuía dados armazenados. 

“Nos estritos termos da legislação vigente, após o encerramento de cada eleição, todas as informações são transmitidas para a totalização em uma mídia eletrônica independente. Portanto, não há qualquer risco de perda de dados no processo de descarte ecológico dos equipamentos”, informa o texto. 

Para Zorzo, as peças de desinformação compartilham afirmações que não “correspondem à realidade dos fatos”

“Esta alegação falsa é mais uma criada para prejudicar a estabilidade do país e gerar desconfiança onde não existe”, assinala

Esse conteúdo também foi verificado por Aos Fatos, Agência Lupa e Estadão Verifica

O Checamos já verificou outras alegações sobre as urnas eletrônicas (1, 2, 3

Referências 

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