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Smartmatic não atuou nas eleições de 2022 do Brasil; urnas são geridas pela Justiça Eleitoral
- Publicado em 26 de fevereiro de 2025 às 19:35
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“A USAID doou meio milhão para a Smartmatic. Você se lembra da Smartmatic? Foi a empresa responsável pelas urnas eletrônicas de 2022 e contagem de votos, acusada de fraudar eleições”, afirmam as publicações que circulam no Facebook, no Instagram e no X.
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A publicação é acompanhada de uma captura de tela de uma notícia que teria sido publicada na página da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), onde lê-se no título: “Governo dos EUA investe US$ 500.000 para testar novas tecnologias de votação nas eleições municipais da Bósnia e Herzegovina em 2024”.
O conteúdo passou a ser compartilhado após o governo dos Estados Unidos, sob a gestão de Donald Trump, iniciar o desmantelamento progressivo da USAID, que financia programas de ajuda humanitária em mais de 120 países.
Smartmatic não participou do processo eleitoral de 2022
Em outubro de 2022, após circular uma alegação semelhante, de que a Smartmatic estivesse envolvida no pleito brasileiro daquele ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou a participação da empresa e afirmou que o sistema eletrônico de votação do Brasil foi concebido e é gerido inteiramente pela Justiça Eleitoral.
“As urnas brasileiras foram projetadas por servidores e técnicos a serviço da Justiça Eleitoral e são produzidas, sob a sua direta coordenação, por empresas selecionadas mediante licitações públicas e de ampla concorrência, o que garante ainda mais segurança e transparência ao processo eleitoral”, escreveu o TSE em sua página à época.
A Smartmatic também afirmou ao AFP Checamos, em 21 de fevereiro de 2025, que “sua tecnologia e serviços não estiveram envolvidos nas eleições brasileiras de 2022”. A empresa, contudo, teve três contratos com o TSE em outras ocasiões, em 2012, 2014 e 2016.
A companhia detalhou que as atividades para a Justiça Eleitoral brasileira consistiram em conexão de dados e voz, manutenção dos equipamentos, treinamento para operadores, suporte técnico a limpeza e remoção de selos, testes funcionais das urnas, triagem para manutenção corretiva e preparação para o armazenamento, além de outras tarefas.
O TSE informou que, em 2021, a empresa chegou a participar da licitação para a fabricação de urnas eletrônicas, mas perdeu para a Positivo.
“Em diversas oportunidades, o TSE reiterou que a empresa não forneceu nem fornece urnas eletrônicas para as eleições brasileiras, tampouco trabalhou na programação desses aparelhos. A empresa atuou apenas no treinamento de profissionais que prestaram suporte técnico e operacional para as urnas brasileiras”, afirmou o tribunal no texto de 2022.
US$ 500.000 para projeto na Bósnia e Herzegovina
As publicações virais também mostram um texto em um site com o selo da USAID, com um título indicando um repasse de US$ 500.000 da agência para um projeto na Bósnia e Herzegovina, e não no Brasil.
Na página da instituição, o AFP Checamos não encontrou o documento viralizado, que saiu do ar, mas está disponível na plataforma Wayback Machine, que salva versões anteriores de páginas na internet. Também foi possível encontrar o documento que aborda o equipamento “piloto de tecnologia eleitoral”.
A Smartmatic confirmou à AFP ter participado dessa iniciativa, afirmando que “foi contratada pela Democracy International para realizar um piloto relacionado ao apoio às eleições de outubro de 2024 na Bósnia e Herzegovina. O piloto foi concluído com sucesso e o contrato terminou logo após a conclusão da eleição”.
A página da USAID na Bósnia no Facebook detalha a iniciativa, na qual informa que a Democracy International era a organização responsável pela implementação do programa. No site da entidade, por sua vez, é possível identificar o chamado a empresas interessadas em desenvolver o projeto.
O site oficial do governo dos Estados Unidos mostra outros dois contratos com a Smartmatic, ocorridos em 2020 e 2021, sem vínculo com a USAID.
Acusações de fraude eleitoral
De 2004 a 2017, a Smartmatic atuou em todas as eleições na Venezuela.
Em 2017, a empresa denunciou fraudes nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte do país, acusando as autoridades de manipular os resultados.
Durante as eleições presidenciais de 2020 nos Estados Unidos, a companhia prestou serviços ao condado de Los Angeles e foi acusada por partidários de Trump de ter participado de uma fraude na contagem de votos no país. Essas alegações, no entanto, não puderam ser provadas.