
A imagem de uma mulher abraçando seus filhos não é uma pintura de Gustav Klimt, e sim criada com IA
- Publicado em 7 de março de 2025 às 17:06
- 4 minutos de leitura
- Por Sofia BARRAGAN, AFP Argentina
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“Na década de 1930, Gustav Klimt pintou o retrato de uma mulher judia em Viena que mais tarde foi assassinada no Holocausto. Este desenho se repete e nós estremecemos”, diz a legenda da publicação no Facebook, no Instagram, no TikTok e no Threads, junto à imagem da suposta pintura do artista.
O conteúdo também circula em espanhol.

Gustav Klimt foi um pintor austríaco que nasceu em Viena em 1862 e faleceu em 1918, anos antes do início do Holocausto. Reconhecido mundialmente por obras como “O Beijo” e “Danae”, destacou-se também por retratar mulheres acompanhadas de crianças, como em “As Três Idades da Mulher” e “Morte e Vida”.
A ilustração viral, no entanto, não foi feita por Klimt. Uma busca reversa no Google pela imagem compartilhada nas redes sociais exibiu a publicação original, feita no Instagram pela usuária “@dtkarnieli” em 20 de janeiro de 2025.
“Em breve, só mais um pouco, vocês estarão aqui juntos... Rezo com todo meu coração... para que logo, só mais um pouquinho, todos vocês estejam aqui juntos”, diz a legenda em hebraico e inglês, em tradução para o português.
No canto inferior esquerdo da imagem é possível visualizar a assinatura “D.t Karnieli”, uma abreviação do nome da usuária Deganit Tzabari Karnieli.
Contatada pela AFP, a autora da imagem explicou por e-mail, em 26 de fevereiro de 2025, que criou a ilustração em agosto de 2024.
“Minha inspiração surgiu em um momento angustiante quando Shiri Bibas segurou e abraçou seus dois filhos, Ariel e Kfir, no trágico dia de seu sequestro, em 7 de outubro”, disse Karnieli. Ela também explicou que pediu ao aplicativo para “adicionar um estilo artístico que lembrasse Gustav Klimt, pois gosta de seu estilo”.
Karnieli disse que a imagem foi compartilhada ao redor do mundo em uma tentativa de “conscientizar a opinião pública” sobre a família Bibas e os reféns em Gaza, mas “um golpista online a rotulou falsamente como uma pintura original de Gustav Klimt da década de 1930”.
“Essa desinformação deliberada distorceu o propósito da minha criação e levou alguns a me acusarem de copiar uma obra de arte de Klimt, o que é totalmente falso”, afirmou.
Em 19 de fevereiro de 2025, o Hamas publicou uma lista de reféns que morreram e cujos corpos seriam devolvidos. As autoridades israelenses confirmaram que entre os nomes estavam os da família Bibas.
O Hamas entregou quatro corpos, supostamente de três membros da família Bibas e do jornalista israelense aposentado Oded Lifshitz. No entanto, horas depois, o porta-voz do Exército israelense, Avichay Adraee, confirmou que Ariel e Kfir Bibas foram mortos em cativeiro em novembro de 2023 por terroristas palestinos. Além disso, Adraee alegou que um dos corpos não pertencia a Shiri ou a outro refém israelense, mas que se tratava de um corpo “não identificado”.
O grupo armado em Gaza reconheceu um possível “erro” e a Cruz Vermelha informou sobre a transferência de novos restos humanos para Israel, embora sem especificar a quem pertenciam. Os Bibas confirmaram, após o processo de identificação, que Shiri foi morta em cativeiro e seus restos mortais retornaram para casa.
Após a viralização de sua imagem, a autora publicou-a novamente no Instagram, em 13 de setembro de 2024, para esclarecer que usou inteligência artificial para criá-la.
“Esta foto (que criei usando o Midjourney) da mãe Shiri e das crianças Ariel e Kafir Bibas (que ainda estão mantidos em Gaza) recebeu muita exposição nas redes sociais e milhares de compartilhamentos e curtidas. Alguns deram crédito e outros omitiram ou apagaram minha assinatura e colocaram seus nomes, mas o que realmente importa no final é a grande exposição e conscientização pelo retorno dos reféns, e, daqui, continuaremos orando pelo retorno da família Bibas e para que cada refém volte para casa”, escreveu em hebraico e inglês.