Hillary Clinton disse que as redes devem ser reguladas para proteger as crianças, não para “censurar”
- Publicado em 28 de outubro de 2024 às 19:05
- 4 minutos de leitura
- Por Roxana ROMERO, AFP Estados Unidos
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“Hillary Clinton, um dos grandes expoentes do progressismo mundial, falando à CNN que o mundo precisa de mais censura, pois, do contrário, ela e seu bando perderão o controle sobre o vasto mundo de pretensos súditos que pretendem esmagar com sola de ferro”, diz a legenda de publicações compartilhadas no Telegram pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e no Facebook e no X por seu filho e vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL).
Conteúdo semelhante circula no Instagram e no Threads, e também em outros idiomas, como espanhol e inglês.
No trecho compartilhado nas redes sociais, Clinton afirma: “Deveríamos, na minha opinião, revogar algo chamado ‘Seção 230’, que concedeu imunidade às plataformas na internet porque se pensava que eram apenas intermediárias, que não deveriam ser julgadas pelo conteúdo que é publicado. Mas agora sabemos que essa era uma visão excessivamente simplificada. Se as plataformas, seja Facebook, Twitter X, Instagram, TikTok ou qualquer outra, não moderarem nem controlarem o conteúdo, perderemos o controle total”.
Frases tiradas do contexto
Uma busca reversa no Google por fragmentos do conteúdo viral levou ao vídeo original da entrevista, com nove minutos de duração, publicado em 5 de outubro de 2024 no site da CNN.
Na sequência, Clinton falou sobre seu novo livro de memórias “Something Lost, Something Gained” e contou que a cantora Joni Mitchell lhe serviu de inspiração para resumir as diferentes fases de sua vida.
Ela também comentou o capítulo “Um é prata, outro é ouro”, no qual descreveu sua experiência como “escoteira” com as amigas que a acompanharam ao longo de sua vida: “Eu queria escrever sobre amizade e família e por que é importante realmente pensar sobre o que nossos filhos precisam para ter a melhor vida possível”.
Além disso, destacou a preocupação, expressa no livro, com o vício das crianças em redes sociais, acrescentando que os celulares têm grande impacto na forma como elas passam o tempo e interagem com outras pessoas.
“Agora sabemos que as crianças são frequentemente afetadas pela ansiedade ou pela depressão, ou por todos os tipos de problemas que estão ao menos ligados, se não causados, por esse vício em telas”, declarou.
Em seguida, o apresentador da CNN perguntou a ela o que deve ser feito para regular as redes sociais, já que, na sua opinião, nem os republicanos nem os democratas estão fazendo algo a respeito. É nesse momento que Clinton pronuncia as palavras viralizadas, mencionando a necessidade de as empresas moderarem ou controlarem os conteúdos que oferecem aos usuários, acrescentando que não se trata apenas de efeitos sociais e psicológicos, mas de danos reais. Ela deu como exemplos a pornografia infantil e as ameaças de violência.
“Precisamos eliminar a imunidade de responsabilidade e precisamos estabelecer limites. Precisamos de regulamentação”, disse ela. No entanto, não foi falado em “censura” nem de perda do “controle total”.
Seção 230
A Seção 230 é uma parte fundamental da lei dos Estados Unidos que protege as plataformas da internet, como redes sociais e sites, de serem legalmente responsabilizadas pelo conteúdo publicado por seus usuários.
Essa seção foi aprovada em 1996 como parte da Lei de Decência nas Comunicações, e seu texto está no Título 47 do Código dos Estados Unidos, Seção 230.
Nos últimos anos, tem havido um debate crescente sobre se a Seção 230 deve ser reformada ou revogada. Cada vez mais considera-se que essa seção contribui para os efeitos nocivos das redes sociais.
Sem a proteção da legislação, os sites estariam potencialmente expostos a ações judiciais pelo conteúdo publicado pelos usuários, fazendo com que as discussões espontâneas vistas nessas plataformas estivessem sujeitas a uma moderação muito mais rigorosa.
O Congresso norte-americano, que tem posturas divididas, não atualizou a legislação e muitos estados estão aprovando suas próprias leis para fazer com que plataformas como Facebook, Instagram e TikTok tenham mais responsabilidade com os conteúdos.