Imagem de suposta apreensão de toras ilegais de "ONG da Amazônia" volta a circular em 2024

  • Publicado em 13 de agosto de 2024 às 16:15
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
É falso que uma imagem de caminhões carregados de toras de madeira mostre uma apreensão do Exército de uma carga ilegal pertencente ao fundador da “principal ONG de preservação ambiental” na Amazônia e “cabeça” do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) no Pará. A alegação, que já circulou nas redes sociais junto à foto em 2020, voltou a ser compartilhada milhares de vezes em agosto de 2024. Mas o registro circula pelo menos desde 2016, vinculado a uma doação para uma festividade religiosa.

“Amazônia…. Segura seus Zé Ruelentos chorões e vê quem são os que não prestam”, diz uma das publicações que circulam no X e no Facebook.

Image
Captura de tela feita em 12 de agosto de 2024 de uma publicação no X (.)

A imagem das toras de madeira em caminhões é acompanhada por um texto sobreposto, que diz: “O dono de toda essa madeira apreendida, com escolta de caminhões do exército, pertencia ao fundador da principal ONG de preservação ambiental da Amazônia, cabeça do MST no Pará, esquerdista radical, detentor de vários títulos recebidos na Europa, por ser cidadão defensor e protetor do bioma da região. Esse é o Brasil que a maioria não conhece, Bolsonaro neles”.

Publicações semelhantes circularam em 2020 e foram verificadas pelo AFP Checamos.

Em agosto de 2024, a imagem voltou a circular em meio a críticas à política ambiental do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), motivadas principalmente pelos incêndios recordes registrados no Pantanal.

Porém, a foto não é de 2024, nem mostra uma suposta apreensão de madeiras ilegais feita pelo Exército na Amazônia.

Publicação de 2016

Por meio de uma busca reversa da imagem no Google, a equipe de checagem do Comprova, projeto colaborativo do qual o AFP Checamos faz parte, chegou a fotografias semelhantes, uma delas com a inscrição Máfia da Tora.

Uma pesquisa posterior indicou uma página no Facebook com o mesmo nome. 

Uma consulta às fotos publicadas por essa página levou a registros da mesma imagem em 2017 e 2016. A postagem mais antiga atribuía o registro ao “leitor Alessandro Antoniazze”, afirmando que foi feita durante o festejo da padroeira da cidade de Cláudia, no Mato Grosso. 

A padroeira em questão é Nossa Senhora da Glória, que dá nome à paróquia da cidade e cuja festa é comemorada todo mês de agosto.

Em 2020, quando o conteúdo começou a circular pela primeira vez, a equipe de checagem da AFP tentou contatar o usuário mencionado, mas não obteve retorno.

Mas, na mesma ocasião, o AFP Checamos conseguiu entrar em contato com Eloi Lourenço, pároco responsável da igreja, que explicou se tratar de uma “fake news que está circulando”. De acordo com ele, a foto foi feita em 2015, durante a festa da padroeira.

“Na época, os madeireiros costumavam doar, com nota fiscal, comprovadamente, para o leilão” que acontece durante o festejo, disse. Lourenço explicou ainda que o leilão tinha o objetivo de arrecadar fundos para a manutenção da paróquia e de suas obras.

Procurado à época pelo Comprova, o Exército informou também que não havia registros de nenhuma apreensão nas condições descritas pelas publicações virais.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a instituição indicou que “as operações realizadas pelo Exército Brasileiro, bem como os resultados obtidos, são os divulgados no site da Força”. No site oficial, por sua vez, não foram encontrados registros de qualquer apreensão como a relatada nas publicações em 2020 e em 2024.

Ao Comprova, o MST também desmentiu em 2020 ter relação com o caso: “Desde a semana passada temos sido alvo de uma série de informações falsas que têm circulado deliberadamente na Internet”.

Conteúdo semelhante foi checado por Aos Fatos e Agência Lupa.

Esse texto faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas da Band News FM e do Estadão. O material foi adaptado pelo AFP Checamos.

Referências

Há alguma informação que você gostaria que o serviço de checagem da AFP no Brasil verificasse?

Entre em contato conosco