Não há registro de uma vereadora chamada “Edilene Pezão” nas bases de dados do TSE

  • Publicado em 14 de junho de 2024 às 17:18
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Em 2020, o registro de uma briga entre duas mulheres circulou em meio às eleições municipais daquele ano. Quatro anos depois, o conteúdo voltou a circular, acumulando mais de 900 interações desde abril de 2024. Segundo as publicações recentes, a briga teria ocorrido porque uma das envolvidas não votou na candidata “Edilene Pezão”, do Partido dos Trabalhadores (PT). É falso: a vereadora citada não existe, segundo os registros oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). À época, a Polícia Civil do Rio de Janeiro afirmou que o episódio não teve motivação política.

Vereadora do PT Edilene Pezão. Se não votar nela o couro come. Ainda dizem que o voto é secreto”, diz uma das mensagens publicadas no X. O conteúdo circula também no Facebook, no Instagram e no Kwai.

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Captura de tela feita em 12 de junho de 2024 de uma publicação no X (.)

A gravação mostra uma mulher que exibe o celular para outra e, em seguida, começa a agredi-la fisicamente perto de um carro no qual está colado um adesivo com propaganda política.

Uma busca reversa por fragmentos da imagem no Google, usando a ferramenta InVid We Verify*, levou a uma imagem da sequência que foi publicada pelo veículo Metrópoles em 2020, em uma matéria intitulada: “Vídeo: briga que viralizou no dia das eleições não foi por causa de voto”.

Segundo a matéria, o caso ocorreu em Magé, no Rio de Janeiro, dias antes do primeiro turno das eleições municipais daquele ano, em 15 de novembro.

O texto também relata que o delegado da Polícia Civil  Ângelo José Lages Machado desmentiu que a briga tivesse motivação política. Segundo o delegado, a discussão ocorreu porque as duas mulheres são concorrentes comerciais e uma delas teria feito uma publicação no Facebook criticando a comida vendida pela outra.

No início do vídeo viral, de fato é possível ouvir uma das mulheres questionando a outra: “O que que você botou no Face [Facebook]?”. Em seguida, a outra envolvida nega que tenha publicado na rede social. A outra mulher, então, mostra o celular e insiste: “Olha aqui, você botou”, e começa a praticar as agressões.

Segundo a matéria publicada pelo Metrópoles, o delegado explicou que, como o vídeo circulou perto das eleições municipais, a frase “você botou” foi compreendida por usuários como “você votou”.

O veículo O Dia, que também noticiou o caso, reportou que o adesivo visto no carro era o do candidato a prefeito Rogério do Valle (PL). No vídeo, é possível ver o número 22, em referência ao número do partido do candidato.

O AFP Checamos entrou em contato com a assessoria de comunicação da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro para confirmar as informações relatadas e obter mais detalhes, porém a corporação afirmou apenas que um procedimento havia sido aberto em 2020 e que o caso foi repassado ao Juizado Especial Criminal (Jecrim).

Vereadora citada não existe

O AFP Checamos buscou o nome da vereadora citada, “Edilene Pezão”, no site DivulgaCand Contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que reúne informações sobre os candidatos de cada pleito.

Dentre os vereadores que concorreram ao cargo para o município de Magé em 2020, não há registro de “Edilene Pezão”:

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Captura de tela feita em 13 de junho de 2022 de uma consulta à plataforma DivulgaCand do TSE (.)

A organização não-governamental Base dos Dados também mantém um repositório de dados do TSE, com informações sobre candidatos desde 1994.

Uma busca nessa base de dados por candidatos que tenham o nome ou o nome de urna registrados como “Edilene Pezão” tampouco trouxe qualquer resultado:

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Captura de tela feita em 12 de junho de 2024 de uma consulta a uma das tabelas do projeto Base dos Dados (.)

Procurada pelo AFP Checamos, a assessoria de imprensa do TSE afirmou que consultou a área interna do órgão que estrutura os dados de candidatura e mantém as bases atualizadas. “Pedimos para que consultassem se havia algum registro desse nome de urna e nada foi localizado”, afirmou o tribunal.

Este conteúdo também foi checado pela Agência Lupa.

Referências

*Uma vez instalada a extensão InVid-WeVerify no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisá-la em vários buscadores.

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