Não é verdade que o Tribunal Superior Eleitoral permitiu a Bolsonaro disputar as eleições de 2026

  • Publicado em 23 de maio de 2024 às 22:08
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não permitiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) dispute as eleições de 2026, como sugerem publicações acompanhadas por um vídeo, visualizado mais de 420 mil vezes nas redes sociais desde 20 de maio de 2024. Na verdade, o conteúdo compartilhado é um trecho de voto do ex-ministro do TSE Benedito Gonçalves em julgamento de uma ação rejeitada em 2023, mas que não anula outras condenações do ex-mandatário, inelegível até 2030.

“O  Tribunal Superior Eleitoral rejeitou o PROCESSO DE INEGILIBIDADE DO BOLSONARO. Portanto o Presidente Jair Bolsonaro está de volta nas próximas eleições de 2026”, diz a legenda de publicações no Facebook e no X.

A alegação é compartilhada junto a um vídeo, que também circula no Kwai e no TikTok, com as inscrições “o sol da esperança está renascendo” e “2026”, acompanhadas de fotos de Bolsonaro, Elon Musk e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. 

Na sequência, no lado esquerdo da tela, é exibida uma fala do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Benedito Gonçalves, que afirma: “Assim, apesar de constatar que a live eleitoral foi mantida nos canais, dia da semana e horário tradicionalmente reservados pelo ex-presidente da República para se comunicar com a população ao longo do mandato, não é possível concluir, no atual estágio de compreensão da matéria, que lhe fosse vedado alterar a destinação do programa para atender a seus interesses eleitorais”

Adiante, ele complementa: “No que diz respeito à live de 18 de agosto de 2022, concluo pela não configuração das condutas vedadas pelo artigo 73, I e III da Lei nº 9.504 e, em consequência, pela não configuração do abuso de poder político (...). Rejeito a preliminar suscitada neste feito e julgo improcedente o pedido.”

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Captura de tela feita em 22 de maio de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

Uma pesquisa pelas palavras-chave “live”, “Bolsonaro” e “julgamento” exibiu reportagens (1, 2) publicadas em 17 de outubro de 2023 com a notícia de que, na referida data, o TSE rejeitou três ações contra Bolsonaro.

Na ocasião, o TSE retomou o julgamento conjunto de ações, de autoria do Partido Democrático Trabalhista (PDT), contra o ex-presidente e seu então candidato a vice, o general Walter Braga Netto, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante as eleições de 2022.

Uma outra busca pelos termos “sessão plenária” e “17 de outubro de 2023” no canal da Justiça Eleitoral no YouTube exibiu a íntegra da sessão

Além de Gonçalves, que era o relator, participaram: o então presidente do tribunal, Alexandre de Moraes, e os ministros Raul Araújo, Floriano de Azevedo Marques, Kassio Nunes Marques, Cármen Lúcia e André Ramos Tavares.

A partir de 39 minutos e 55 segundos da transmissão, o então ministro do TSE Benedito Gonçalves profere o seu voto – é a mesma sequência agora viralizada nas redes sociais.

Em sua explicação, Gonçalves votou pela improcedência da ação movida pelo PDT, que argumentava que o então presidente teria cometido irregularidades ao realizar uma transmissão ao vivo, em 18 de agosto de 2022, supostamente no Palácio do Alvorada. 

O relator alegou que não ficou comprovado o uso da estrutura da administração pública, já que o cenário da transmissão era apenas uma parede branca. O voto foi seguido por unanimidade pelos demais ministros da corte.

Inelegível até 2030

Porém, essa decisão não anulou o resultado de outros dois julgamentos do TSE, de junho e outubro de 2023 (1, 2), que tornaram Bolsonaro inelegível até 2030. O plenário da Corte Eleitoral tomou a decisão em razão das alegações do ex-mandatário sobre a suposta vulnerabilidade das urnas eletrônicas, durante uma reunião com embaixadores, e por abuso de poder nas comemorações do Bicentenário da Independência. Nas duas ocasiões, Gonçalves, que também era relator, votou pela inelegibilidade de Bolsonaro.

Anteriormente, o Checamos verificou conteúdo semelhante. Na ocasião, a assessoria de imprensa do TSE afirmou à AFP que “a inelegibilidade do candidato Jair Bolsonaro foi declarada em três ações de investigação judicial eleitoral julgadas pelo TSE nos meses de junho e de outubro deste ano”.

A defesa de Bolsonaro recorreu ao STF contra a decisão do TSE. A ação ainda não foi julgada pelo ministro Luiz Fux, relator do recurso. 

Em 25 de abril de 2024, a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou (1, 2) contra o recurso de Bolsonaro e defendeu que o STF rejeite a ação movida pelo ex-presidente para reverter a decisão que o tornou inelegível.

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