Vídeo de marcha militar não mostra resposta do Texas a decisão da Suprema Corte dos EUA em 2024

Em 22 de janeiro de 2024, a Suprema Corte dos Estados Unidos autorizou a administração Joe Biden a remover uma cerca de arame farpado instalada pelo governo do Texas na fronteira com o México. Desde então, um vídeo de soldados marchando foi visualizado mais de 4 mil vezes nas redes sociais, com a alegação de que mostraria militares desrespeitando a decisão do tribunal e instalando mais barreiras. Mas a gravação é de maio de 2023, durante uma operação fronteiriça, e não tem relação com essa decisão judicial.

“A Guarda Nacional do Texas responde à ordem da Suprema Corte para remover o arame farpado em Eagle Pass instalando ainda mais. O governador Abbott disse que ‘o Texas não recuará’ ao defender sua fronteira”, diz a legenda de um vídeo compartilhado no Threads, no Facebook, no Telegram, no Twitter e no LinkedIn.

O conteúdo também foi publicado em inglês e espanhol.

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Captura de tela feita em 7 de fevereiro de 2024 de uma publicação no Telegram (.)

A sequência circula em meio a um impasse entre o governo Joe Biden e o governador republicano do estado do Texas, Greg Abbott, sobre a imigração ilegal.

O governador começou a instalar cercas farpadas na fronteira do Texas com o México em maio de 2023, antes de expirar a norma sanitária conhecida como Título 42, que durante dois anos bloqueou a entrada de migrantes por conta da pandemia de covid-19.

Em dezembro de 2023, um tribunal federal de apelações proibiu a patrulha de fronteira de remover o arame farpado instalado pelo Texas perto da cidade de Eagle Pass, no Rio Grande (chamado de Rio Bravo no México), a menos que houvesse uma emergência médica.

O Texas aproveitou a oportunidade para instalar mais arame farpado sem esperar pela deliberação da Suprema Corte em um recurso emergencial apresentado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Com uma votação apertada, em 22 de janeiro de 2024, o tribunal decidiu a favor do governo Biden e permitiu a remoção do arame farpado.

No entanto, a gravação viral é antiga e não corresponde a uma resposta do Texas à decisão do tribunal em 2024.

Vídeo antigo

Por meio de uma busca reversa no Google com frames da sequência, a AFP localizou um artigo publicado em 12 de maio de 2023, relatando que o governador Abbott havia anunciado o envio da nova Força Tática de Fronteira do Texas em resposta ao encerramento do Título 42.

O texto inclui uma captura de tela de uma publicação de Abbott no X, na qual ele divulgou a gravação viral e escreveu que o grupo “foi enviado para [a cidade de] Brownsville para ajudar a fechar um ponto crítico para travessias ilegais”.

Uma busca na conta de Abbott no X permitiu encontrar a postagem, publicada em 10 de maio de 2023, com o vídeo creditado a Bill Melugin, correspondente do canal Fox.

“Com o Título 42 terminando amanhã, o Texas não hesitará em responder à crise que o presidente Biden criou na fronteira”, concluiu Abbott.

Uma pesquisa no Google por “Texas Tactical Border Force” retornou a um comunicado do Gabinete do Governador do Texas publicado em 8 de maio de 2023. Os militares, segundo a nota, foram posicionados ao longo da fronteira para ajudar a interceptar e repelir grandes grupos de migrantes ilegais.

O governador referiu esta ação como a terceira fase da “missão de segurança fronteiriça”.

A primeira etapa começou em abril de 2023 com a transferência de soldados da Guarda Nacional do Texas e o uso de drones e barreiras de arame farpado em pontos ativos ao longo da fronteira entre o Texas e o México. A segunda foi o envio de duas forças de reação rápida compostas por unidades da Polícia Militar, uma na cidade de El Paso e outra implantada de San Antonio ao Vale do Rio Grande.

O estado continuou fortalecendo as margens do Rio Grande, apesar da decisão do Supremo Tribunal.

“O arame farpado do Texas é um impedimento eficaz contra passagens ilegais fronteiriças, incentivadas pelas políticas de fronteiras abertas de Biden. Continuamos a implantar este arame farpado para repelir a imigração ilegal”, escreveu Abbott em sua conta no X em 24 de janeiro de 2024.

Referências

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