Faber-Castell não terá que vender kit escolar “por menos de R$ 160”; empresa alerta para golpe

  • Publicado em 8 de fevereiro de 2024 às 19:33
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
A multinacional de materiais escolares Faber-Castell não foi obrigada a vender “kits escolares completos” a menos de R$ 160 após uma determinação judicial, como afirmam publicações que circulam desde 14 de janeiro de 2024 nas redes sociais. As postagens citam como fonte uma suposta reportagem e um comunicado da empresa, que informaria estar cumprindo a decisão de uma juíza do Maranhão. Mas os conteúdos são falsos. À AFP, a Faber-Castell desmentiu as alegações e indicou ser um golpe.

“Juíza do Maranhão determina que Faber Castell venda Kit Escolar por menos de R$ 160”, diz a mensagem que acompanha as postagens no Facebook.

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Captura de tela feita em 5 de fevereiro de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

As publicações são acompanhadas por um link para uma suposta matéria da Folha de S.Paulo sobre o tema. Segundo a reportagem, “após perder processo, Faber Castell é condenada e deve vender 13.000 unidades de Kit de Material Escolar completo por menos de R$ 160 para todo o Brasil”.

O texto informa que a decisão teria sido tomada pela juíza Olívia Amaral Cabral Saveiro, do Maranhão, após consumidores acusarem a multinacional de propaganda enganosa. No conteúdo encontra-se ainda um suposto comunicado oficial, em que a empresa afirmaria estar seguindo “o cumprimento de preço realizado pela Justiça”

Para adquirir os supostos kits escolares, no final da matéria é indicado clicar em uma caixa que contém a frase: “Toque para verificar disponibilidade na Faber Castell”. Ao acessar o link, o usuário é direcionado a mais um comunicado publicado em uma página que simula o portal oficial da empresa.

Reportagem falsa

Porém, a suposta reportagem não foi publicada pela Folha de S.Paulo, e a Faber-Castell não foi alvo de uma determinação judicial desse teor.

Uma busca por palavras-chave no site da Folha de S.Paulo não levou a nenhuma matéria publicada sobre o tema.

Uma nova busca, dessa vez filtrando por 2 de janeiro de 2024, data em que o conteúdo teria sido publicado, e o nome de Júlia Moura, repórter que teria assinado a matéria, tampouco levou a algum resultado.

Uma análise do material mostra que o conteúdo apresenta indícios de falsificação. O domínio utilizado para o site com a suposta matéria (“faber-castell.site”), por exemplo, não é o original da Folha de S.Paulo (folha.uol.com.br). Além disso, na reportagem viral não há peças de publicidade, nem a barra de navegação superior que existe no site do jornal, e o nome da empresa está escrito de maneira errada: “Faber Castell”, quando o correto é “Faber-Castell”, com hífen.

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Comparação de capturas de telas, feita em 5 de fevereiro de 2024, entre o conteúdo compartilhado pelas publicações (à esquerda) e uma matéria original da Folha de S. Paulo (.)

Na página que simula o portal da Faber-Castell também é possível identificar inconsistências em comparação com o site oficial da empresa. 

O domínio do site viralizado (“faber-castell.site”) também não é o original (lojafabercastell.com.br); os itens “Histórico de Compras” e “Atendimento” estão posicionados em locais diferentes; é cometido o mesmo erro na grafia do nome da empresa; não é possível consultar os itens ao passar o cursor do mouse pelos produtos destacados; e, do mesmo modo, faltam peças publicitárias.

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Comparação de capturas de tela, feita em 5 de fevereiro de 2024, entre o site que simula o portal da Faber-Castell (à esquerda) e o site original da empresa (.)

Decisão falsa

Uma busca realizada no Portal do Poder Judiciário do Estado do Maranhão (TJMA) por “Olívia Amaral Cabral Saveiro”, a suposta juíza que proferiu a decisão, também não indicou nenhuma magistrada com esse nome na região. Uma nova busca com esse nome no Google tampouco trouxe resultados.

À AFP, a Faber-Castell desmentiu as alegações. Em 5 de fevereiro de 2024, a empresa disse, por meio de um comunicado, que “vem sendo alvo de fake news", com promoções falsas sobre seus produtos. “A matéria do site da Folha de São Paulo não é verdadeira e a Faber-Castell não reconhece o comunicado”.

De acordo com a multinacional, este período do ano é mais propício para o surgimento desse tipo de desinformação, por conta da volta às aulas. No comunicado, a empresa também pede aos consumidores que procurem informações sobre seus produtos por meio dos canais oficiais da empresa. 

A Faber-Castell informou, ainda, que “está tomando as medidas cabíveis para remoção dos conteúdos golpistas”.

Procurada pelo AFP Checamos, a Folha de S. Paulo não retornou o contato até a publicação desta matéria.

Conteúdo semelhante foi verificado por UOL Confere e Agência Lupa.

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