O STF não exigiu demissão nem impôs bloqueios a Augusto Nunes em novembro de 2023

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  • Publicado em 6 de dezembro de 2023 às 20:35
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  • Por AFP Brasil
É falso que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha exigido que o jornalista Augusto Nunes fosse demitido, além de ter ordenado o bloqueio das redes sociais do comentarista, como afirmam publicações com mais de 14 mil interações nas redes sociais desde o final de novembro de 2023. No momento da circulação da alegação, o jornalista segue ativo nas redes sociais e atua como comentarista no veículo “Revista Oeste”, onde desmentiu as alegações viralizadas. A existência da suposta decisão também foi negada pela assessoria do STF.

“Supremo acaba de exigir a demissão do jornalista Augusto Nunes e o bloqueio de todas as suas redes sociais”, dizem postagens no Instagram, no Facebook, no TikTok e no X (antes Twitter).

A alegação também foi enviada para o WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem encaminhar conteúdos vistos em redes sociais, se duvidarem de sua veracidade.

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Captura de tela feita em 1º de dezembro de 2023 de uma publicação no X ( .)

Desde 2019, com o início do inquérito 4.781, conhecido como “inquérito das fake news”, o STF e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinaram o bloqueio de contas nas redes sociais de diversas pessoas consideradas suspeitas de difundir desinformação, ameaças aos integrantes da Corte, ou de supostamente apoiar atos antidemocráticos. Essas decisões já afetaram comunicadores, políticos e organizações partidárias.

Nunes é conhecido por tecer críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao STF e também ao ministro Alexandre de Moraes — a quem já chamou, inclusive, de ditador de ópera-bufa.

Porém, não foi localizada qualquer decisão do STF determinando o bloqueio das redes sociais de Augusto Nunes em novembro de 2023, muito menos exigindo a sua demissão.

Procurada, a assessoria do STF confirmou à AFP que “não há nenhuma decisão do STF nesse sentido”.

“Inteira liberdade”

Até 6 de dezembro de 2023, o jornalista segue ativo como comentarista e colunista no portal “Revista Oeste”, e suas contas no Facebook, no Instagram e no X não sofreram restrições.

Augusto Nunes refutou as alegações durante uma edição do programa “Oeste Sem Filtro”, transmitida pela Revista Oeste no dia 28 de novembro de 2023 em seu canal no YouTube. É possível conferir o momento da declaração do comentarista a partir de 1h 21min e 12s.

“Não aconteceu nada disso. Estamos aqui, faço comentários diários, acabo de lançar um curso sobre democracia e ‘tô’ agindo com inteira liberdade, como sempre”, declarou o comentarista.

Uma busca avançada pelo nome completo de Augusto Nunes no portal do STF tampouco encontrou qualquer processo mencionando o jornalista no ano de 2023, ou determinando a suspensão de suas redes sociais, ou sua demissão.

Saída da Jovem Pan

Antes de atuar principalmente na Revista Oeste, Augusto Nunes era comentarista na rede de rádio e TV Jovem Pan, de onde foi demitido em 31 de outubro de 2022 — um dia após a vitória de Lula nas eleições presidenciais. Além de Nunes, pelo menos sete profissionais deixaram a emissora no período.

Dias antes do anúncio da demissão, o jornalista já havia sido afastado do programa da emissora “Os Pingos nos Is”. Na ocasião, Nunes comentou sobre o afastamento em seu perfil no X, atribuindo a decisão a uma “pressão do TSE”.

A Jovem Pan não informou o motivo das demissões, mas elas ocorreram após o órgão conceder a Lula direitos de resposta a “alegações falsas e caluniosas” feitas por jornalistas da emissora, que disseram haver um conluio entre o TSE e a campanha do petista, afirmaram que Lula mentia ao dizer que tinha sido inocentado e asseguraram que ele iria perseguir cristãos.

O TSE também determinou que os comentaristas da emissora não deveriam repetir as mesmas afirmações sob pena de multa de R$ 25 mil “por reiteração ou manutenção da conduta nos citados meios de comunicação”.

Augusto Nunes expressou no X sua resistência em cumprir a determinação.

Dias após as demissões, a Folha de S.Paulo reportou que o dono do grupo da Jovem Pan, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, também conhecido como “Tutinha”, afirmou em reuniões internas que não arcaria com os custos do que chamou de “desobediência civil”.

O AFP Checamos já verificou diversos outros conteúdos desinformativos relacionados ao STF (1, 2, 3).

Referências

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