É falsa a manchete de que o STF teria tornado ilegal a apreensão de 45 fuzis em uma mansão

  • Publicado em 31 de outubro de 2023 às 21:10
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Não é real a notícia de que o Supremo Tribunal Federal (STF) teria tornado ilegal uma operação policial que apreendeu 45 fuzis em uma mansão na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O conteúdo, compartilhado mais de 2 mil vezes nas redes sociais desde, pelo menos, 12 de outubro de 2023, alega que a decisão do STF teria sido motivada por um pedido do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), comandado por Flávio Dino (PSB). Mas tanto a pasta quanto a Corte negaram essa informação à AFP. A suposta notícia também tem a mesma aparência de outras manchetes falsas que circularam no passado.

“A pedido do MJ, STF torna ilegal operação que apreendeu 45 fuzis de guerra em mansão na Barra da Tijuca”, diz o título da suposta notícia compartilhada no TikTok. A imagem circula também no Facebook, no Instagram, no Kwai e no X (antes Twitter).

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Captura de tela feita em 27 de outubro de 2023 de uma publicação no TikTok ( .)

A suposta notícia teria sido publicada em 11 de outubro de 2023 e assinada pelo jornalista “Astolfo Canuto”.

Uma busca no Google pela manchete citada trouxe como resultado a informação de que, em 10 de outubro de 2023, a Polícia Federal (PF) apreendeu 47 fuzis em uma mansão de luxo na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (1, 2, 3). Em nenhum dos textos, porém, era dito que o STF suspendeu tal operação.

Nesse mesmo dia, o próprio ministro Flávio Dino fez uma publicação sobre a operação da PF em sua conta no X (antes Twitter):

Manchete falsa

O conteúdo viral tem uma identidade visual que remete à do portal g1. Mas uma pesquisa dentro do site pelo começo da manchete “A pedido do MJ, STF torna ilegal operação” não trouxe resultados.

Além disso, a imagem que circula nas redes tem inconsistências. Enquanto o cabeçalho nas postagens virais inclui o símbolo de diversas redes sociais como opção de compartilhamento, em uma manchete verdadeira do g1, publicada na mesma data da suposta notícia, há somente três símbolos — o do Facebook, o do WhatsApp e um símbolo geral de compartilhamento de link. Além disso, os títulos do portal não possuem ponto final, diferentemente da imagem que circula nas redes.

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Comparação feita em 30 de outubro de 2023 entre capturas de tela de uma publicação no Facebook (E) e uma manchete autêntica do portal g1, versão mobile ( .)

Manchetes falsas podem ser facilmente geradas por sites que utilizam a identidade visual de veículos de mídia. O AFP Checamos já verificou anteriormente outro conteúdo produzido em um deles.

Utilizando esse mesmo site do conteúdo previamente verificado, o AFP Checamos fez o teste e conseguiu gerar uma imagem muito semelhante à viral, com exceção dos horários e do nome do suposto jornalista que assinaria a notícia.

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Comparação feita em 31 de outubro de 2023 entre o teste feito pelo AFP Checamos no site “geradordefakenews” (E) e o conteúdo viral ( .)

Examinando o código-fonte do site usado para criar a manchete falsa, também percebe-se que a autoria das supostas reportagens são geradas a partir de uma lista de nomes e sobrenomes pré-definidos, conforme descrito em um dos arquivos contidos no código. Essa lista inclui a possibilidade do nome “Astolfo Canuto”, que assina o conteúdo viral.

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Captura de tela feita em 30 de outubro de 2023 de um trecho do código-fonte do site “geradordefakenews” ( .)

Além disso, o nome de “Astolfo Canuto” já apareceu como autor de duas outras manchetes falsas do portal g1 verificadas pela AFP (1, 2). Em uma das ocasiões, a assessoria da Globo confirmou que não há nenhum repórter com esse nome na equipe do portal.

Ao AFP Checamos, tanto o STF quanto o MJSP negaram que a alegação do conteúdo viral seja verdadeira. A Corte informou à AFP que não há nenhuma decisão nesse sentido. Uma busca no site de notícias do portal do STF usando o termo “fuzis” não mostrou resultados compatíveis.

De maneira semelhante, o ministério afirmou que tampouco teria feito essa solicitação ao STF.

“O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) informa que não procede a informação de solicitação deste órgão ao STF para tornar ilegal a operação conduzida pela Polícia Federal ocorrida na Barra da Tijuca, cujo resultado foi a apreensão de 47 fuzis numa mansão de luxo, além da localização de uma fábrica clandestina de armamentos em Belo Horizonte”, diz a resposta da pasta enviada à AFP.

Referências

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