Performance feita no Brasil circula como se mostrasse franceses urinando em criança africana
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- Publicado em 29 de setembro de 2023 às 15:56
- Atualizado em 29 de setembro de 2023 às 17:59
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- Por Manuela SILVA, AFP Uruguai, AFP Brasil
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“Vamos tornar isto viral até que as pessoas responsáveis por este abuso dos direitos humanos sejam presas e processadas (...) A cena desumana e chocante de dois homens e uma mulher urinando numa criança africana, numa das aldeias francesas, e a criança, completamente despida, deitada de bruços no chão”, diz uma das publicações que circulam no Facebook e no TikTok.
As mensagens, que também circulam em espanhol e em países africanos de língua portuguesa (1, 2), acrescentam: “Isto ocorreu depois que o estado do Mali expulsou o embaixador francês. Os franceses prenderam um dos malianos numa aldeia francesa e urinaram nele publicamente. A África deve acordar para ver a verdadeira e feia face da França”.
Em 1º de janeiro de 2022, o embaixador francês no Mali, Joel Meyer, recebeu uma ordem para abandonar o país, em um forte sinal de deterioração dos laços entre a nação da África ocidental, que havia sido assolada por uma insurgência islâmica, e seu antigo governo colonial.
Porém, o vídeo viral não tem relação com esse fato.
Uma busca reversa por fragmentos da sequência no Google levou a uma publicação do Instituto Hemisférico de Performance e Política, da Universidade de Nova York, sobre uma atuação da artista guatemalteca Regina José Galindo, realizada no Departamento de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo, em 2013.
Segundo o site, a performance se chama “Piedra” (Pedra) e retratava “o corpo das mulheres latino-americanas (...), que sobreviveu à conquista e à escravidão, que como uma pedra guardou o ódio e o rancor em sua memória para transformá-lo em energia e em vida”.
Na página, é possível ver fotos da atuação, que coincidem com o vídeo viral:
Registros na página oficial da artista confirmam o lugar e o momento da obra:
Uma busca no Google sobre Galindo levou a uma publicação de 2021 da revista Escena, da Universidade da Costa Rica, que analisa suas obras. Nela, explica-se que, em “Piedra”, Galindo “com o corpo nu, coberto de carvão, agachou-se e repousou o tórax sobre suas coxas em um espaço público para simular uma rocha que foi urinada por voluntários”.
Galindo disse à AFP, em 18 de setembro de 2023, que sua obra consistiu em “um trabalho que fala sobre as minas de carvão abertas em todo o Brasil e a exploração que sofrem as mulheres e crianças que ali trabalham”.
Referências
29 de setembro de 2023 Altera formatação do primeiro parágrafo