Mensagem falsa sobre “Arroz Dana” com vírus do Paquistão circula nas redes desde 2017

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  • Publicado em 16 de março de 2023 às 15:18
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  • Por AFP Colômbia, AFP Brasil
Não é verdade que autoridades brasileiras tenham identificado que um carregamento de arroz vindo do Paquistão estaria contaminado com um “vírus/bactéria”, ao contrário do que diz um texto compartilhado nas redes sociais e em aplicativos de mensagens desde 2017. O conteúdo voltou a circular em 2023, mas já foi refutado por autoridades sanitárias de distintos países, inclusive do Brasil. Além disso, é improvável que um vírus conseguisse sobreviver em um grão de arroz polido, explicou uma especialista à AFP.

“Um funcionário da alfândega informou que chegou um carregamento de arroz que não passou pelos padrões de saúde porque traz um vírus/bactéria que só é visto no PAQUISTÃO”, diz a mensagem, compartilhada no WhatsApp e enviada ao número do AFP Checamos para verificação.

A teoria, também difundida no Twitter, no Facebook, no Instagram e no Telegram, responsabiliza o governo petista pela comercialização do arroz supostamente contaminado: “O arroz é de lá e eles ‘conseguiram’ com o governo petista liberação da mercadoria que já se encontra no mercado brasileiro. O arroz se chama ‘DANA’ e a embalagem é azul e informa ser produzido no PAQUISTÃO. Produto altamente contaminado e já se encontra distribuído em supermercados venda”.

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Captura de tela feita em 15 de março de 2023 de uma mensagem que circula no WhatsApp ( .)

O texto, que também circula em espanhol, é acompanhado pela foto de uma embalagem de arroz onde se lê “Arroz Dana, Calidad Superior”, traduzido para o português como “Arroz Dana, Qualidade Superior”.

Teoria refutada por diversos países

Uma busca no Google com os termos “Arroz Dana” e “Paquistão” levou a uma declaração datada de 27 de fevereiro de 2023 do Instituto Nacional de Vigilância de Alimentos e Medicamentos da Colômbia (Invima), na qual a instituição esclareceu que as informações sobre o arroz do Paquistão que teria entrado na Colômbia contaminado “são falsas”.

No Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária afirmou que a teoria viral “não procede” e que, no caso do arroz, “nunca foram observadas contaminações que pudessem trazer qualquer risco ao consumidor”.

Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse ao AFP Checamos em 15 de março de 2023 que não recebeu nenhuma comunicação de suspeita do arroz da marca Dana, “seja notificação interna ou pelas redes de monitoramento” da agência.

Novas pesquisas permitiram constatar que a mesma mensagem é difundida desde 2017 em vários países. Autoridades do Panamá, da Guatemala, de El Salvador e da República Dominicana também fizeram declarações a respeito, descartando a veracidade da denúncia.

Outros verificadores de informações relataram a disseminação da corrente falsa na Espanha, no Chile, na Argentina e na Bolívia.

Vendido na Venezuela

Pesquisas por palavras-chave no Google não levaram a um site oficial do “Arroz Dana” ou a um perfil em redes sociais. Contudo, permitiram encontrar uma reportagem publicada em agosto de 2017 pelo portal venezuelano Vida Agro, especializado no setor agropecuário, que constatou a comercialização desse produto na cidade de Maracaibo.

O site descrevia, com várias fotos, que o arroz era importado dos Emirados Árabes Unidos e do Paquistão e que sua embalagem não continha as informações necessárias sobre registro sanitário e identificação do lote. Além disso, os dados do fabricante e do importador estavam incompletos.

O veículo não relatou ter encontrado qualquer indicação de um “vírus” no produto.

A AFP consultou a bióloga colombiana María Fernanda Álvarez, líder do Programa de Arroz do Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) e Bioversity International, que apontou a dificuldade que um vírus teria para sobreviver em um grão de arroz polido, como o das fotos virais.

“Um vírus precisa de células ativas para se replicar. No caso da semente, a atividade metabólica é mínima e está confinada à área do embrião. Isso é removido no processo de descascamento do arroz e finalizado com o polimento do grão. Nesse caso, o grão de arroz é apenas um acumulado de açúcares, onde os vírus não conseguem sobreviver ou se proliferar”, afirmou.

A especialista acrescentou que as mensagens não detalham o tipo de vírus que o arroz supostamente tinha, nem a forma como teria sido identificado, o que dá mais indícios de que se trata de uma alegação falsa.

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