Campanha da Hershey’s pelo dia 8 de março mostra várias mulheres, entre elas uma trans

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  • Publicado em 10 de março de 2023 às 22:35
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  • Por AFP México, AFP Brasil
Centenas de usuários nas redes sociais afirmam que a empresa de chocolates Hershey's lançou uma campanha para o Dia Internacional da Mulher em 2023 tendo um homem como protagonista. A alegação circula nas redes desde 5 de março de 2023. No entanto, a informação foi tirada de contexto, já que dezenas de mulheres ao redor do mundo participaram da iniciativa, inclusive uma mulher trans. A empresa defendeu a "celebração inclusiva das mulheres" em sua campanha.

“No dia da mulher, Hersheys contrata um homem que finge ser mulher(roubando a vaga de uma mulher de verdade), para homenagear mulher...E ai mulherada, ninguém fala nada???”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook e no Twitter.

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Captura de tela feita em 10 de março de 2023 de uma publicação no Facebook ( .)

No dia 8 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher, por meio do qual lutam pela igualdade de gênero, justiça, reconhecimento dos direitos das mulheres e contra a violência sexista, temas que em 2023 tiveram retrocessos e avanços em várias partes do mundo.

Nesse contexto, diversas organizações e empresas internacionais se uniram à causa em defesa dos direitos das mulheres.

Campanha distorcida

Uma busca reversa pelas fotos contidas nas publicações usando a ferramenta InVid-WeVerify* permitiu constatar que desde o dia 2 de março foram divulgados vários artigos em meios de comunicação internacionais (1, 2, 3) noticiando que usuários nas redes sociais ameaçaram boicotar a Hershey's por incluir uma mulher trans em sua campanha de 8 de março de 2023.

Segundo as publicações, a mulher transgênero é Fae Johnstone, uma ativista de 27 anos.

Por meio de uma busca reversa na plataforma TinEye, descobriu-se que a imagem foi originalmente publicada em 2 de março de 2023, na página da Hershey's, como parte da campanha "HER for SHE" do Canadá.

Segundo a empresa, o mote da campanha canadense é celebrar que “as mulheres estão mudando o futuro das suas comunidades” e cinco mulheres ativistas (quatro biológicas e uma trans) ilustram a publicidade: Kélicia Massala, Rita Audi, Naila Moloo, Autumn Peltier e Fae Johnstone.

De acordo com um comunicado da The Hershey Company, a campanha “#HerSHE” surgiu no Brasil em 2020 e, em 2023, cinco países participaram dela, cada um com a imagem de mulheres “icônicas” estampada nas barras de chocolate.

No Brasil, por exemplo, foram 18 mulheres de diversos ofícios participando da campanha; no México,11; na Índia, oito; no Canadá, cinco e nas Filipinas, quatro. Apenas no Canadá uma mulher trans participou da campanha.

A empresa defende as embaixadoras

Depois que a hashtag “#BoycottHersheys” se espalhou nas redes sociais contra a campanha canadense pelo Dia Internacional da Mulher, a empresa respondeu em sua conta no Instagram, em 2 de março:

“Valorizamos a unidade e reconhecemos a força criada pela diversidade. Nos últimos três anos, nossa programação do Mês da História da Mulher tem sido uma celebração inclusiva das mulheres e seu impacto. Somos gratos aos inúmeros indivíduos e associações importantes por trás desses esforços."

Essa foi a mesma resposta que a empresa deu a vários meios de comunicação (1, 2, 3) que os consultaram sobre o tema.

Mulheres transexuais

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabelece que a identidade de gênero é uma “experiência interna e individual de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento” e explica que pessoas transgênero e com gêneros diversos são grupos que foram historicamente excluídos, discriminados e submetidos a diferentes níveis de violência.

A ONU Mulheres e outros órgãos da ONU também reconhecem as mulheres transexuais e o 2º artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que todos têm todos os direitos e liberdades proclamados na declaração, sem distinção de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de qualquer tipo, incluindo orientação sexual e identidade de gênero.

“A própria ONU promove o respeito aos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) de todas as idades e em todas as regiões do mundo”, diz o artigo.

No feminismo existem várias correntes, incluindo aquelas que reconhecem as mulheres transexuais como parte do movimento e aquelas que aceitam apenas mulheres cisgênero, ou seja, aquelas que se identificam com seu gênero biológico.

No entanto, a aceitação de mulheres trans dentro do movimento feminista é uma questão que tem provocado diversas posições, a favor e contra, e para a qual ainda não há um consenso geral entre todas as correntes.

A AFP verificou várias publicações enganosas e desinformações relacionadas ao Dia Internacional da Mulher, que podem ser encontradas aqui.

*Uma vez instalada a extensão InVid-WeVerify no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisa da mesma em vários buscadores.

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