Os veículos e o semáforo nestas imagens não derreteram devido a razões meteorológicas
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 2 de janeiro de 2020 às 20:47
- 5 minutos de leitura
- Por AFP México, AFP Paquistão, AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“63 graus sufocam o Kuwait, a temperatura mais alta do planeta”, diz o título de um artigo, ilustrado com a foto dos dois carros derretidos e compartilhado mais de 10 mil vezes no Facebook desde 22 de outubro. “Semáforo no Kwait [sic]! Temperatura extrema! 63 graus! A mais alta registrada na Terra”, escreveu uma usuária ao compartilhar a imagem do semáforo também no Facebook, em 16 de junho de 2019.
Ambas as imagens circulam de maneira semelhante em espanhol (1, 2), inglês e francês.
Os carros derretidos
Uma busca reversa* pela foto dos automóveis leva a diferentes versões sobre a mesma imagem. Publicações de 2018 feitas em inglês no Facebook asseguram que os carros foram afetados pelas altas temperaturas em Omã, ou no Arizona, nos Estados Unidos.
No início de junho de 2019, outras versões em inglês e em hindi garantiam que os automóveis haviam sido fotografados na Arábia Saudita. Pouco depois, surgiu em inglês, espanhol e português a versão sobre os 63ºC no Kuwait.
Continuando a pesquisa, a equipe de checagem da AFP localizou uma publicação em espanhol que questionava a veracidade das postagens, assinalando que a foto foi tirada durante um incêndio no estado norte-americano do Arizona.
Uma nova busca foi feita, então, com as palavras-chave “Arizona”, “carros” e “derretidos” em inglês, localizando a mesma imagem publicada no Facebook em 20 de junho de 2018. “Do outro lado da rua de onde aconteceu o incêndio na construção da residência estudantil ontem à noite”, diz a legenda que acompanha a publicação em tradução livre do inglês.
Com essas informações adicionais, a equipe de checagem realizou uma nova busca no Google apenas com palavras-chave, encontrando duas matérias de junho de 2018 de um veículo local de Tucson, Arizona, nos Estados Unidos.
A primeira reportagem afirma que o incêndio aconteceu na madrugada do dia 19 de junho. A segunda, de 22 de junho, explica que até aquela data as autoridades desconheciam a origem do fogo, cujas chamas foram tão fortes que “iluminaram o céu da manhã e derreteram carros em um estacionamento próximo”.
Em outro artigo do mesmo veículo, de 12 de julho de 2018, é possível ver outras imagens dos efeitos do incêndio.
O semáforo
Algumas publicações sobre as altas temperaturas no Kuwait incluem a imagem de um semáforo parcialmente derretido. Esta matéria, em espanhol, cita como fonte de seu texto o jornal mexicano Excelsior, “com informações da AFP”. A ilustração é enganosa, porém, e não corresponde à informação da matéria.
Outra busca reversa*, desta vez pela imagem do semáforo, localizou diferentes publicações, em árabe e persa, que incluíam mais duas fotos: uma, de um carro em chamas; e outra, de um automóvel já queimado.
Uma busca por estas duas fotografias permitiu localizar uma matéria de julho de 2013, ilustrada com um vídeo do YouTube de 29 de junho do mesmo ano, na qual é possível ver um carro em chamas. Segundo a informação fornecida na gravação, tratava-se de um incêndio próximo ao shopping Al-Bairaq, no Kuwait.
Como o serviço Google Street View não está disponível nesta área do Kuwait, não foi possível confirmar desta maneira se, efetivamente, tratava-se de um local próximo ao shopping Al-Bairaq. Com esse intuito, a equipe de checagem da AFP comparou as imagens do semáforo, do carro em chamas e do automóvel já queimado com o vídeo do YouTube e com esta foto do centro comercial, identificando os seguintes elementos:
- Semáforo derretido
- Teto com a cúpula do shopping
- Semáforos na linha amarela
- Carro em chamas
- Cone laranja
Como é possível observar na comparação das imagens, o semáforo derreteu pela mesma razão dos carros do Arizona: foi exposto a um incêndio, neste caso, de um automóvel.
63 graus no Kuwait?
De acordo com a Organização Mundial de Metereologia, a maior temperatura registrada nos últimos 106 anos foi de 56,7ºC em Furnace Creek, no parque nacional Death Valley, na Califórnia, Estados Unidos, em 1913. Um segundo recorde foi estabelecido em 1931, com 55ºC em Kebili, na Tunísia.
Além disso, a Revista Internacional de Climatologia publicou em 17 de junho de 2019 uma pesquisa avaliando a maneira como foi medida a temperatura no Kuwait em 2016 e no Paquistão em 2017, confirmando que estas eram as novas temperaturas máximas registradas na região asiática.
Segundo a revista, em 21 de julho de 2016, foi registrada a temperatura de 53,87ºC em Mitribah, no Kuwait, enquanto em Turbat, no Paquistão, a temperatura chegou a 53,72ºC em maio de 2017.
A AFP também usou a ferramenta Weather Underground - que permite consultar o clima de um local específico em um período do tempo -, corroborando que não foram registrados mais de 53,87ºC no Kuwait.
Frente às altas temperaturas registradas no verão do hemisfério norte em 2019, a AFP verificou outros dois vídeos associados ao calor no Kuwait e a suas supostas consequências.
Em resumo, não é verdade que a temperatura chegou a 63ºC no Kuwait. Além disso, nenhuma das imagens analisadas neste artigo mostra o efeito das altas temperaturas registradas no país asiático, mas o resultado de dois incêndios diferentes.
