O governo Dilma não anistiou a dívida da Guiné Equatorial e não há indícios de que o dinheiro apreendido em Viracopos era destinado a Haddad ou Adélio de Oliveira

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  • Publicado em 18 de setembro de 2018 às 17:25
  • Atualizado em 18 de setembro de 2018 às 22:28
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  • Por AFP Brasil
Depois que a Polícia Federal (PF) apreendeu mais de 16 milhões de dólares em dinheiro e relógios de uma comitiva da Guiné Equatorial no aeroporto de Viracopos, em Campinas, no último sábado, 15 de setembro, começaram a ser compartilhadas viralmente nas redes sociais alegações de que o governo de Dilma Rousseff  (2011-2016) anistiou a dívida do país africano e que a fortuna confiscada era destinada à campanha do candidato à presidência Fernando Haddad (PT), ou ainda a Adélio Souza de Oliveira, suposto autor do atentado contra o candidato Jair Bolsonaro. A primeira afirmação é falsa e não há indícios sobre as duas últimas.

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Foto tirada no dia 24 de janeiro de 2012 mostra Teodoro (aka Teodorin) Nguema Obiang Mangue, filho do presidente da Guiné Equatorial, falando em Mbini-Rio Benito, ao sul de Bata. (AFP / Abdelhak Senna)
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Captura de tela de uma publicação no Facebook disseminando a informação sem indícios, feita 18 de setembro de 2018 (Facebook/AFP)

Uma publicação que voltou a circular afirma que “Dilma anistiou dívida da Guiné Equatorial, ditadura sangrenta que patrocinou a Beija-Flor”. Sobre isso, um usuário comenta: “Então os 50 milhões de reais apreendidos provavelmente eram pro PT”. No Facebook, uma postagem alega que “criminosos internacionais vieram deixar dinheiro para campanha de Haddad”. Outro artigo, publicado na manhã de segunda-feira, 17 de setembro, insinua: “Dinheiro da Guiné Equatorial pode ter sido enviado para pagar os advogados de Adélio [de Oliveira]”, o homem acusado de ser o autor do atentado contra Bolsonaro no dia 6 de setembro.

Checamos a informação. Em maio de 2013, a Presidência brasileira anunciou em Adis Abeba, capital da Etiópia, a anulação de 900 milhões de dólares em dívidas de 12 países africanos, durante as celebrações do cinquentenário da União Africana. Dos 12 países que tiveram suas dívidas perdoadas, os principais beneficiados foram a República do Congo, com uma dívida de US$ 352 milhões, e a Tanzânia, com US$ 237 milhões. Entre os outros países beneficiados estão Zâmbia, Senegal, Mauritânia, Sudão, Costa do Marfim, Gabão, Guiné, Guiné-Bissau, República Democrática do Congo e São Tomé e Príncipe.

Na ocasião, o então porta-voz da presidência, Thomas Traumann, declarou que "manter relações especiais com a África é estratégico para a política externa brasileira".

No entanto, a Guiné Equatorial nunca teve sua dívida perdoada pelo governo do Brasil, que desmentiu a informação neste comunicado oficial. “Ao contrário do extensivamente reportado, o Governo da Guiné Equatorial não tem dívida em atraso com o Brasil, não tendo recebido, portanto, qualquer perdão de dívida do governo brasileiro”, afirmou o ministério de Relações Exteriores em uma nota de esclarecimento publicada no dia 6 de agosto de 2013.

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Captura de tela de uma publicação disseminando a informação sem indícios, feita 18 de setembro de 2018 (Jornal da Cidade/AFP)

Até o momento, não há indícios que confirmem as alegações de que o dinheiro e os relógios de luxo estariam destinados à campanha presidencial de Fernando Haddad (PT), ou para custear a  defesa legal de Adélio de Oliveira.

Contatados pela AFP, tanto a Receita Federal, que confiscou o material de valor trazido pela comitiva guinéu-equatoriana, quanto a Polícia Federal, que investiga o caso, declararam que não houve nenhuma manifestação oficial sobre o episódio.

O ministério das Relações Exteriores declarou à AFP que “mantém comunicação permanente com a Polícia Federal e o Serviço de Aduanas para seguir o caso e decidir sobre quais medidas tomar”, sem dar mais detalhes.

A Embaixada da Guiné Equatorial no Brasil não respondeu à solicitação de contato feita pela AFP.

Condenado em outubro de 2017 a três anos de prisão condicional na França por lavagem de dinheiro, o vice-presidente e filho do atual presidente, Teodorin Obian Nguema Mangue já visitou o Brasil várias vezes.

Em 2015, assistiu o Carnaval do Rio de Janeiro quando a Beija-flor teve seu país como tema de desfile. A escola sofreu críticas quando, depois de ganhar o título, foi acusada de ter sido financiada pelo regime ditatorial do presidente Obiang.

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