Não, venezuelanos não assassinaram comerciantes em Roraima
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- Publicado em 29 de agosto de 2018 às 22:11
- Atualizado em 30 de agosto de 2018 às 19:16
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- Por AFP Brasil
Falsas afirmações relacionadas ao evento em que Raimundo Nonato de Oliveira, de 55 anos, sofreu agressões durante um assalto à sua residência em Pacaraima, cidade na divisa entre Venezuela e Brasil, circularam em português e espanhol na internet. “Venezuelanos assassinaram um senhor idoso”, diz uma publicação no Facebook. “Delinquentes venezuelanos assassinaram dois comerciantes e bateram em seus familiares”, afirma outra.
Raimundo está vivo, e concedeu uma entrevista ao portal G1, em que descreveu o episódio. Segundo ele, foi agredido com uma chave de fenda depois de ser surpreendido no quintal de sua casa por quatro indivíduos. O comerciante assegurou que, por ter identificado o idioma em que falavam, os mesmos eram venezuelanos. Maria Carneiro da Frota Oliveira, sua esposa, também foi agredida pelos ladrões.
Depois que os criminosos fugiram com cerca de R$ 23.000 e aparelhos eletrônicos, Raimundo foi conduzido a um hospital em Boa Vista, capital do estado, onde ficou dois dias. O comerciante foi socorrido em um carro particular, uma vez que a ambulância do hospital local não estava disponível.
Contatada no dia 28 de agosto pela AFP, a assessoria de imprensa da Polícia Civil de Roraima, que investiga o caso, informou que dois inquéritos foram instaurados: apuração do roubo praticado por quatros homens venezuelanos ao comerciante e sua esposa e, por requisição do Ministério Público Estadual, investigação sobre crimes de discurso de ódio, xenofobia e incitação pública durante uma manifestação em Pacaraima logo após o ataque dos ladrões.
“Estamos com trabalhos de investigações bem adiantados e contamos inclusive com o apoio do Ministério Público. As investigações demandam tempo e estamos seguindo algumas linhas de trabalho para identificarmos os autores do crime”, manifestou a delegada Rozane Wildmad.
Segundo Wildmad, a Polícia Civil tem indícios de quem seriam os autores do roubo e que seriam estrangeiros. Os dois inquéritos, se não concluídos em 30 dias, serão encaminhados ao poder judiciário estadual. Segundo a corporação, a omissão da ambulância no socorro de Raimundo também será investigada. Não foi aberta uma investigação de homicídio, como afirmam publicações nas redes sociais.
De acordo com a Polícia Federal, de 2015 a junho de 2018, um total de 56.740 venezuelanos solicitaram refúgio ou residência no Brasil, embora seja difícil precisar quantos permanecem no país. A disputa por serviços públicos que já são escassos na região, assim como o aumento da delinquência em determinadas regiões de Boa Vista e Pacaraima geram tensões com a população local.
A solicitação mais urgente das autoridades locais é a realocação dos imigrantes em outros estados brasileiros. Até agora, apenas 820 venezuelanos foram transferidos e 270 serão trasladados nesta semana.
Ao reiterar que a fronteira não será fechada, o ministro de Segurança Pública, Raúl Jungmann, admitiu que o processo de transferências não está funcionando com a rapidez exigida, mas assegurou que o governo federal está empenhado em prestar a assistência necessária para continuar acolhendo os imigrantes.
O presidente Michel Temer determinou nesta terça-feira a mobilização do Exército para proteger a fronteira e anunciou a intenção de buscar apoio internacional para enfrentar a crise na Venezuela, que "ameaça a harmonia" da América do Sul.
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