Captura de tela de uma publicação do Facebook disseminando notícia falsa, feita no dia 9 de de julho de 2017. (Facebook/AFP)

Não, o Cacique Raoni não chorou por causa da construção das barragens de Belo Monte

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  • Publicado em 9 de julho de 2018 às 11:10
  • Atualizado em 9 de julho de 2018 às 23:13
  • 2 minutos de leitura
  • Por Jean-Gabriel FERNANDEZ
Uma foto que mostra o líder indígena chorando circula na internet há 10 anos, mas a interpretação atribuída a ela é falsa. A imagem na realidade mostra um ritual de lamentações de sua tribo, e não lágrimas de tristeza.

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Captura de tela de uma publicação do Facebook disseminando notícia falsa, feita no dia 9 de de julho de 2017. (Facebook/AFP)

O choro do Cacique Raoni Metuktire, líder da tribo indígena dos Caiapó, comoveu milhares de internautas do Brasil e do mundo. Desde sua primeira aparição em 2011, esta foto do grande chefe supostamente em lágrimas por conta da construção do complexo de barragens da usina hidrelétrica de Belo Monte, nas terras de seu povo, na bacia do Rio Xingú, foi publicada milhares de vezes nas redes sociais. Uma destas publicações recentemente teve mais de 30 mil compartilhamentos no Facebook. No entanto, a imagem foi retirada de seu contexto original. A foto foi tirada em 2009 por Magna Oliveira da Silva, professora de História. Em 2012, ela publicou no Facebook a versão original da mesma, denunciando sua manipulação.

Contatada pelo jornal Le Monde em 2013, Magna declarou que “Raoni não chora em razão da barragem de Belo Monte. Trata-se de um ritual de lamentações entre membros Kayapó que vieram de todo o país e não se viam há muito tempo”.

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A foto original, não manipulada. (Magna Oliveira da Silva)
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Lider Caiapó Raoni em um protesto em Brasília contra a construção da barragem da hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingú, Amazônia. 8 de fevereiro de 2011. (AFP / Evaristo Sa)

O recorte de jornal que circula na internet contém outros erros factuais. O texto fala de 400 mil hectares de floresta inundada e 40 mil indígenas removidos da área. No entanto, até mesmo o chefe Raoni, uma figura emblemática na luta contra a barragem, fala de 40 mil hectáreas de inundação e 20 mil indígenas que deverão encontrar outro lugar para viver. Estas informações são corroboradas por dados veiculados no Le Monde e na France Info.

Belo Monte já está em construção e suas consequências para o meio ambiente foram denunciadas por organizações da sociedade civil e até pelo atual ministro da Transição Ecológica da França, Nicolas Hulot. O cacique Raoni também recebeu o apoio do Papa em sua luta contra a barragem.

Ainda que baseada em fatos reais, a informação foi gravemente deformada e tirada de seu contexto de diferentes maneiras, durante quase 10 anos. Estas histórias fornecem uma visão errônea da situação; a equipe de Raoni denunciou em seu site oficial: “Podemos deduzir ao ver (esta foto) que Raoni está abatido, desencorajado e resignado: mas ele não está assim. O chefe nos confirma estar mais determinado que nunca”.

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