Não há evidências de que Ricardo Boechat tinha informações sigilosas sobre Adélio Bispo

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  • Publicado em 13 de fevereiro de 2019 às 17:29
  • Atualizado em 13 de fevereiro de 2019 às 17:41
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  • Por AFP Brasil
A alegação de que o jornalista Ricardo Boechat estava em posse de informações privilegiadas sobre Adélio Bispo, o homem que esfaqueou Jair Bolsonaro, circula desde o acidente de helicóptero que tirou a vida do comunicador na última segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019. Não há nenhuma evidência que sustente esta versão.

“Um de seus amigos e também jornalista afirmou que Boechat estava empenhado em uma reportagem investigativa que buscava apurar quem seriam os financiadores dos advogados caríssimos que defendem Adélio Bispo de Oliveira (...) Boechat já tinha em mãos bastante conteúdo e informações de caráter sigiloso sobre o caso e que seriam publicadas na próxima semana”, diz uma publicação do blog “Jornal Aos Fatos”, compartilhada mais de 2.000 vezes no Facebook.

A publicação, replicada em outros portais, não possui nenhuma evidência que a respalde. Não existe referência ao fato de que ele tinha informações sigilosas sobre a contratação dos advogados de Adélio Bispo em motores de busca ou redes sociais.

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Jornalista brasileiro Ricardo Boechat falando durante um debate presidencial na TV Bandeirantes em São Paulo, Brasil, 7 de outubro de 2018 (AFP / Nelson Almeida)

A equipe de checagem da AFP no Brasil entrou em contato com um jornalista que trabalhava na equipe de Boechat na BandNews FM e no Jornal da Band. “Garanto que se tivesse acontecendo alguma coisa, ele teria me dito. E não, ele não me falou nada. É pura mentira”, declarou.

O conhecido jornalista e âncora Ricardo Boechat morreu nesta segunda-feira em um acidente de helicóptero no Rodoanel, em São Paulo, informaram autoridades. "Minha solidariedade à família do profissional e colega que sempre tive muito respeito, bem como do piloto", tuitou o presidente Jair Bolsonaro.

No dia 6 de setembro de 2018, em plena campanha eleitoral, o então candidato Bolsonaro sofreu um atentado com faca em Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, cerca de 250 quilômetros da capital Belo Horizonte . O agressor, Adélio Bispo, continua preso.

A partir da análise das câmeras de segurança de diferentes pontos no centro de Juiz de Fora, de vídeos publicados nas redes sociais e de testemunhos, uma primeira investigação da Polícia Federal concluiu que Adélio, um ex-militante do partido de esquerda PSOL, agiu só e planejou o ataque quando soube que Bolsonaro iria à cidade como parte de sua agenda eleitoral.

Mas Bolsonaro e seus apoiadores não se contentam com essa resposta, como o próprio presidente lembrou no último domingo, 10 de fevereiro, do hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde se recupera de uma cirurgia para retirada da bolsa de colostomia colocada após a facada.

“Espero que a nossa querida Polícia Federal (...) tenha uma solução para nosso caso nas próximas semanas (...) gostaríamos que a PF indicasse quem foi, ou quem foram, os responsáveis por determinar que o Adélio praticasse aquele crime em Juiz de Fora”, afirmou em um vídeo postado nas redes sociais.

Um segundo inquérito foi aberto no dia 25 de setembro de 2018 para investigar o financiamento da defesa de Adélio. Este foi prorrogado no dia 22 de janeiro de 2019 por 90 dias, depois de decisão do Ministério Público Federal (MPF).

Ainda que a identidade do contratante do advogado de Adélio Bispo seja desconhecida, não há nenhuma evidência de que Ricardo Boechat estivesse prestes a publicar informação sobre o caso.

A AFP já desmentiu diversas histórias relacionadas ao ataque a Bolsonaro.

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