Não, esta foto não foi feita na Síria

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  • Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 15:23
  • Atualizado em 14 de fevereiro de 2019 às 16:23
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  • Por AFP Brasil
Um meme que viralizou nas redes sociais alega mostrar uma imagem da Síria destruída pelos Estados Unidos. No entanto, a foto utilizada para ilustrar a afirmação não foi feita no país de Bashar al-Assad.

“Assim ficou a Síria depois de receber a ‘democracia’ dos Estados Unidos”, diz a descrição da imagem que mostra uma cidade destruída por bombardeios, compartilhada mais de 4.500 vezes no Facebook desde que foi publicada no dia 5 de fevereiro de 2019.

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Captura de tela de ApImages.com com a descrição da foto original, feita 14 de fevereiro de 2019

A equipe de checagem da AFP no Brasil verificou a informação e constatou que a foto, na realidade, é de Mossul, uma das maiores cidades do Iraque, cerca de 400 quilômetros ao norte da capital, Bagdá. Foi tirada no dia 15 de novembro de 2017 pelo fotógrafo Felipe Dana, a serviço da Associated Press (AP).

Na ocasião, tinham se passado mais de 4 meses da liberação de Mossul, tradicional ponto de comércio na região do rio Tigre, do controle do Estado Islâmico. A batalha por Mossul foi considerada uma das maiores da década no mundo e envolveu forças iraquianas e curdo-iraquianas, iranianas, paquistanesas, estadunidenses, francesas e do grupo Hezbollah. Segundo um relatório das Nações Unidas (ONU), 2.521 civis morreram no episódio, assim como dois jornalistas franceses e, segundo um observatório local, 47 repórteres iraquianos.

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Fumaça depois de um bombardeio na parte oeste de Mossul, durante uma ofensiva das forças iraquianas para retomar a cidade do controle do Estado Islâmico, 6 de março de 2017 (AFP / Aris Messinis)

Desde junho de 2014, Mossul era governada pelo Estado Islâmico. Um relatório, feito em novembro de 2017, após uma visita in loco de Agnes Callamard, Relatora Especial para Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias da ONU, dá conta de “indescritíveis violações de leis humanitárias internacionais e direitos humanos contra cidadãos iraquianos, das Forças de Segurança Iraquianas (ISF) e forças afiliadas” por parte do movimento jihadista, grande parte delas ocorridas durante a ocupação de Mossul. Callamard também afirma que “há indicações de que o número de mortes de civis durante a batalha por Mossul (...) é muito maior, de cerca de 10.000, das quais 3.200 teriam sido causadas pelas Forças de Coalizão”.

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Omar perdeu sua família na batalha entre forças iraquianas e o Estado Islâmico e foi ajudado a escapar da Cidade Velha de Mossul por membros do Serviço Contra Terrorismo (CTS), 3 de julho de 2017 (AFP / Ahmad Al-Rubaye)

No auge de sua dominação, o Estado Islâmico impôs sua interpretação da lei Islâmica a um território equivalente em tamanho ao Reino Unido. No entanto, ofensivas militares tanto no Iraque quanto na Síria reduziram enormemente sua área de ocupação. Em dezembro de 2018, o presidente Donald Trump anunciou a retirada das tropas estadunidenses da Síria, pois considera que o movimento jihadista foi “vencido”.

No momento, o Exército jihadista defende a última parcela do proto-estado que reivindicou em partes da Síria e do Iraque em 2014, ante uma ofensiva lançada no último sábado, 9 de fevereiro, pelas Forças Democráticas Sírias, patrocinadas pelos Estados Unidos. Dois dias depois, Trump disse que a vitória ante o Estado Islâmico poderia ser declarada em questão de dias.

Ainda que a foto utilizada para denunciar a presença dos Estados Unidos na Síria tenha mostrado uma cidade devastada após um conflito de que as forças estadunidenses de fato participaram ao lado de outras, na verdade a imagem é do Iraque, em uma área que foi palco de um dos maiores conflitos armados dos últimos anos.

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