Captura de tela de uma publicação disseminando a notícia falsa, realizada 7 de julho de 2018. (Paporetolive.com/AFP)

Não, esta foto não é de um tigre faminto em um zoológico na Venezuela

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  • Publicado em 10 de julho de 2018 às 19:02
  • Atualizado em 10 de julho de 2018 às 21:03
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  • Por AFP Brasil
Desde 2016 circula na internet a foto de um tigre faminto que estaria em um zoológico na Venezuela, vítima de maus tratos. Esta suposta informação surgiu diversas vezes, principalmente na América Latina. No entanto, é falsa.

Milhares de notícias, em sua maioria em espanhol e português, denunciam falta de abastecimento dos zoológicos venezuelanos. A petição online “Save the Dying Zoo Animals of Venezuela”, para que os governos do Brasil e da Colômbia ajudem os animais da Venezuela, contou com 169 mil apoiadores. Tudo isso foi ilustrado pela foto de um tigre esquelético.

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Captura de tela de uma petição mencionando falsamente a origem de Melani, realizada 7 de julho de 2018. (Care2 Petitions/AFP)
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Captura de tela de uma publicação no Facebook disseminando notícia falsa, realizada 7 de julho de 2018. (Facebook/AFP)

Checamos esta imagem. Não se trata de um felino passando fome em um zoológico da nação de Nicolás Maduro. Na verdade, a foto foi feita pelo jornalista australiano Michael Bachelard em uma reportagem realizada na Indonésia para o Sydney Morning Herald em 2013. O animal retratado se chamava Melani, uma tigresa da Sumatra. 

Melani, de uma espécie criticamente ameaçada de extinção segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), sofria de uma doença digestiva que a incapacitava de processar corretamente os alimentos. Esta é a razão dela ser tão magra. Melani habitava o zoológico de Surabaya, capital da província de Java Oriental, conhecido como o “Zoológico da Morte” após a reportagem de Bachelard que informou sobre sua péssima infra-estrutura. Segundo especialistas, o problema de saúde da tigresa foi causado pela carne. O repórter indicou à AFP a través de mails que a comida da tigresa estava contaminada com formaldeído, um produto preservante. Ele acrescentou que funcionários lucravam vendendo ao zoológico alimentos comprados por um preço barato nos mercados públicos.

Depois da investigação de Bachelard, Melani foi transferida para o zoológico Taman Safari, em Bogor, 60 km ao sul de Jacarta. Ainda que lá tenha recuperado um pouco de peso sob os cuidados do preservacionista indonésio Tony Sumampau, não resistiu aos sérios problemas digestivos e faleceu em agosto de 2014.

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Um tigre da Sumatra, em extinção, de nome Melani no Zoológico de Surabaya, 17 de abril de 2013. (AFP / Juni Kriswanto)

Michael Bachelard escreveu à AFP que ele não sabia que a foto que tirou de Melani vem sendo usada para gerar desinformação na internet. 

Em fevereiro deste ano a AFP reportou sobre casos de morte de animais e desnutrição severa devido à falta de comida em zoológicos venezuelanos, que segundo especialistas passam por uma “época negra”.

Em um comunicado emitido em abril, a Associação Venezuelana de Parques Zoológicos e Aquários denuncia o desabastecimento e escassez de alimentos, a falta de recursos humanos capacitados, invasões por parte de comunidades rurais em busca de alimentos e que o Estado não reconhece a crise pela qual passam os zoológicos do país. Uma fonte que solicitou anonimato, manifestou à AFP que no Zoológico de Zulia a situação dos animais melhorou recentemente, ainda que o mesmo siga de portas fechadas e seu reacondicionamento e remodelação não tenham começado.

As graves dificuldades económicas que a Venezuela atravessa provavelmente contribuíram a dar credibilidade à versão falsa sobre a história de Melani.

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