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Não, a Dinamarca não será 100% orgânica em 2020
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- Publicado em 20 de julho de 2018 às 09:29
- Atualizado em 20 de julho de 2018 às 14:29
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- Por AFP Brasil
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No dia 25 de junho, um projeto de lei impulsionado pela bancada ruralista na Câmara dos Deputados foi aprovada em Comissão Especial. O Projeto de Lei revoga a atual Lei dos Agrotóxicos e impõe medidas mais permissivas sobre o uso de pesticidas. Agora aguarda ser colocado na Ordem do Dia da Casa, para votação definitiva.
O “pacote veneno”, como o chamam seus detratores, foi criticado por organizações da sociedade civil. O abaixo-assinado organizado pela coalizão “Chega De Agrotóxicos” teve mais de 1 milhão e meio de assinaturas.
A suposta notícia de que a Dinamarca, considerada um país modelo na implementação de políticas favoráveis ao consumo e à produção de alimentos bio, irá substituir completamente os alimentos cultivados com pesticidas por orgânicos foi extensamente compartilhada. No entanto, ela não é verdadeira.
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Checamos a informação. O governo da Dinamarca estabeleceu como meta em 2011 dobrar o território dedicado ao cultivo de alimentos orgânicos até 2020, em relação à área total existente em 2007. Naquele ano, a agricultura bio ocupava 150.000 hectáreas, 5,6% das terras cultiváveis do país nórdico. Em 2018, o número mudou para 245 mil hectares, representando 9%. O país, contudo, não é sequer o primeiro neste quesito na Europa. Lichtenstein tem a proporção de 38%, a Áustria, de 22% e a Suécia, de 18%, segundo o Ministério da Agricultura dinamarquês.
A política de suporte aos produtos orgânicos realizada pelo governo dinamarquês atua nos setores público e privado. No público, o governo encoraja e financia a produção de alimentos bio nas terras estatais e acompanha a conversão de cantinas públicas (em escolas, hospitais, administrações) à alimentação orgânica. Segundo a agência governamental Danmarks Statistik, as compras orgânicas nas cozinhas do governo dobraram entre 2013 e 2017, e o objetivo é que 60% dos produtos consumidos nas mesmas sejam orgânicos em 2020. No setor privado, o Estado oferece incentivos financeiros para a conversão e a investigação.
Na Dinamarca, 13% dos alimentos vendidos em supermercados são orgânicos, o número mais alto do mundo segundo o governo, e as vendas crescem de 10 a 15% por ano, representando cerca de 1,7 bilhão de dólares anuais.
Ainda que o governo adote uma robusta política de incentivo da indústria orgânica e do consumo de alimentos bio há anos, a informação de que a Dinamarca será um país 100% orgânico em 2020 é exagerada e imprecisa.