Captura de tela de uma notícia disseminando informação falsa sobre produtos orgânicos na Dinamarca, feita 19 de julho de 2018. (Saber Vive Mais/AFP)

Não, a Dinamarca não será 100% orgânica em 2020

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  • Publicado em 20 de julho de 2018 às 09:29
  • Atualizado em 20 de julho de 2018 às 14:29
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  • Por AFP Brasil
No contexto da votação do chamado “pacote veneno” na Câmara dos Deputados do Brasil, a informação de que a Dinamarca terá 100% de seus produtos alimentícios orgânicos começou a circular nas redes sociais. Entretanto, este dado é falso.

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Polícia de choque em frente a um barril de plástico -- representando pesticidas agrícolas - jogado por membros do MST durante uma manfiestação na frente do Palácio do Planalto em Brasília, 12 de fevereiro de 2014. (AFP / Beto Barata)

No dia 25 de junho, um projeto de lei impulsionado pela bancada ruralista na Câmara dos Deputados foi aprovada em Comissão Especial. O Projeto de Lei revoga a atual Lei dos Agrotóxicos e impõe medidas mais permissivas sobre o uso de pesticidas. Agora aguarda ser colocado na Ordem do Dia da Casa, para votação definitiva.

O “pacote veneno”, como o chamam seus detratores, foi criticado por organizações da sociedade civil. O abaixo-assinado organizado pela coalizão “Chega De Agrotóxicos” teve mais de 1 milhão e meio de assinaturas. 

A suposta notícia de que a Dinamarca, considerada um país modelo na implementação de políticas favoráveis ao consumo e à produção de alimentos bio, irá substituir completamente os alimentos cultivados com pesticidas por orgânicos foi extensamente compartilhada. No entanto, ela não é verdadeira.

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Ativistas pelo meio ambiente seguram diferentes banners para protestar pelo consumo saudável de alimentos em Copenhagen em frente ao Centro Bella, sede do evento Conferência do Cambio Climático da ONU (UNCCC), 11 de dezembro de 2009. (AFP / Attila Kisbenedek)

Checamos a informação. O governo da Dinamarca estabeleceu como meta em 2011 dobrar o território dedicado ao cultivo de alimentos orgânicos até 2020, em relação à área total existente em 2007. Naquele ano, a agricultura bio ocupava 150.000 hectáreas, 5,6% das terras cultiváveis do país nórdico. Em 2018, o número mudou para 245 mil hectares, representando 9%. O país, contudo, não é sequer o primeiro neste quesito na Europa. Lichtenstein tem a proporção de 38%, a Áustria, de 22% e a Suécia, de 18%, segundo o Ministério da Agricultura dinamarquês.

A política de suporte aos produtos orgânicos realizada pelo governo dinamarquês atua nos setores público e privado. No público, o governo encoraja e financia a produção de alimentos bio nas terras estatais e acompanha a conversão de cantinas públicas (em escolas, hospitais, administrações) à alimentação orgânica. Segundo a agência governamental Danmarks Statistik, as compras orgânicas nas cozinhas do governo dobraram entre 2013 e 2017, e o objetivo é que 60% dos produtos consumidos nas mesmas sejam orgânicos em 2020. No setor privado, o Estado oferece incentivos financeiros para a conversão e a investigação.

Na Dinamarca, 13% dos alimentos vendidos em supermercados são orgânicos, o número mais alto do mundo segundo o governo, e as vendas crescem de 10 a 15% por ano, representando cerca de 1,7 bilhão de dólares anuais.

Ainda que o governo adote uma robusta política de incentivo da indústria orgânica e do consumo de alimentos bio há anos, a informação de que a Dinamarca será um país 100% orgânico em 2020 é exagerada e imprecisa.

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