Esta foto de um homem segurando uma criança não foi tirada no Afeganistão, mas no Iraque em 2017

“Rezemos pelo Afeganistão!”, escreveram milhares de usuários juntamente com a fotografia de um homem carregando uma criança em seus braços, ambos chorando, em publicações compartilhadas mais de 10 mil vezes nas redes sociais. O registro começou a circular no último 20 de agosto, poucos dias depois dos talibãs tomarem o palácio presidencial de Cabul. No entanto, a foto foi feita em Mossul, no Iraque, em março de 2017.

“Um pai vai proteger seus filhos!!! Rezemos pelo Afeganistão! Você que é pai, mãe, avó, avô, pessoas de família e de bem. Rezem por eles, a mais de 5 dias estão sofrendo, perseguição, alguns cristãos estão sendo mortos, outros tentaram fugir do lado de fora de um avião”, indicam as legendas das postagens, que viralizaram no Facebook (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2).

Alegação semelhante foi amplamente compartilhada em outros idiomas, como o espanhol e o inglês.

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Captura de tela feita em 25 de agosto de 2021 de uma publicação no Facebook

Esse conteúdo começou a circular cinco dias depois de os talibãs chegarem ao palácio presidencial afegão em Cabul.

Esse mesmo grupo islâmico radical já esteve no comando do Afeganistão entre 1996 e 2001, tendo o seu regime caracterizado por reiteradas violações aos direitos humanos e pela aplicação da sharia, a lei islâmica.

A origem da fotografia

Uma busca reversa pela imagem no Google levou à mesma foto publicada em um artigo em espanhol datado de julho de 2017. Nele é indicado que o registro mostra um homem com sua filha em um setor controlado pelo Estado Islâmico em Mossul, cidade do Iraque.

Além disso, a fotografia é creditada a Goran Tomasevic, da agência Reuters.

De fato, a imagem pode ser encontrada na galeria dessa agência de notícias internacional junto com outras semelhantes (1, 2).

“Um homem chora e carrega sua filha enquanto caminha por uma parte de Mossul controlada pelo Estado Islâmico em direção aos soldados das forças especiais iraquianas durante uma batalha em Mossul, no Iraque, em 4 de março de 2017”, diz a descrição.

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Captura de tela feita em 24 de agosto de 2021 da galeria de fotos da agência Reuters

Na época, a AFP reportou sobre a intensificação dos combates em Mossul e no norte da Síria, o que estava provocando o êxodo de dezenas de milhares de civis, agravando a situação humanitária nos dois países.

O Estado Islâmico é um grupo extremista que em junho de 2014 proclamou a instalação de um “califado” em territórios a oeste da Síria e a leste do Iraque.

Seu regime, que caiu em 2019, também foi caracterizado por violações dos direitos humanos, confinamento das mulheres em casa ou para servirem como escravas sexuais, além de execuções em locais públicos.

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