Estes são os tuítes agressivos contra “indígenas” e “nativos” que a presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, apagou
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- Publicado em 18 de novembro de 2019 às 21:27
- Atualizado em 21 de novembro de 2019 às 20:47
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- Por Valentina DE MARVAL, Bruno SCELZA, AFP Factual, AFP Brasil
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As capturas de tela dos supostos tuítes começaram a viralizar no Facebook (1, 2, 3, 4) e no Twitter (1, 2, 3, 4) - em português e espanhol -, logo após a posse de Áñez. Veja abaixo a verificação de quatro mensagens amplamente compartilhadas em redes sociais:
O ano novo aimara
Este tuíte é verdadeiro. “Que ano novo aimara nem estrela da manhã!! satânicos, ninguém substitui Deus”, diz, em tradução livre do espanhol, a mensagem de uma das capturas de tela viralizadas. O tuíte faz referência a uma festividade indígena comemorada todo 21 de junho em comunidades da Bolívia, Chile, Argentina e Peru para marcar o início de um novo ciclo agrícola.
Esta mensagem realmente foi publicada por Áñez no Twitter, em 20 de junho de 2013, véspera da comemoração, e posteriormente apagada. A publicação ainda pode ser acessada na plataforma Wayback Machine, que permite arquivar páginas web.
Além disso, vários usuários compartilharam capturas de tela do tuíte feitas de dispositivos diferentes (1, 2, 3), e a publicação pode ser encontrada ao fazer uma busca avançada no Google.
A equipe de checagem da AFP encontrou, além disso, outro tuíte de Áñez sobre a celebração, publicado em 31 de dezembro de 2016: “E aos que celebram o ano novo aimara em não sei qual mês, não quero vê-los bêbados amanhã dizendo: ‘feliz ano novo’”.
Bolívia “livre” de indígenas
Não há registro. Uma das capturas de tela mais compartilhadas é a de um suposto tuíte de 14 de abril de 2013, no qual Áñez teria dito, em tradução livre: “Sonho com uma Bolívia livre de rituais satânicos indígenas, a cidade não é para os índios, eles que vão para o Altiplano ou para o Chaco”.
Neste caso, a captura de tela é a mesma em todas as publicações viralizadas no Facebook e no Twitter: não há variação na quantidade de compartilhamentos, nem capturas da publicação feitas no “modo noturno” do Twitter - o que poderia demonstrar que o print foi feito de um dispositivo diferente -, nem variação na foto do perfil da governante, que é a que Áñez tinha antes de assumir a Presidência.
A equipe de checagem da AFP acessou o histórico de capturas de tela de tuítes da presidente boliviana no Wayback Machine e não encontrou registros desta publicação. A busca avançada no Google tampouco encontrou resultados.
Evo, o “pobre índio”
Este tuíte é verdadeiro. Também circulam em redes sociais a captura de tela de uma publicação de 5 de outubro de 2019, na qual Áñez chama o então presidente da Bolívia, Evo Morales, de “pobre índio” “agarrado ao poder”. O tuíte é acompanhado por uma ilustração do ex-governante abraçado a uma cadeira, sob a mensagem “últimos dias” em letras amarelas.
Um jornalista da AFP conseguiu fazer uma captura de tela do tuíte publicado na conta de Áñez minutos antes de a mensagem ser deletada. A publicação também consta nos arquivos do Wayback Machine.
Dúvidas sobre povos nativos
Este tuíte também é verdadeiro. Outras publicações difundem a captura de tela de um tuíte, no qual Áñez se pergunta se pessoas vistas em uma foto com sapatos são “nativas”. A postagem data do último dia 6 de novembro, pouco antes de sua posse, e foi apagada posteriormente. O tuíte permanece registrado no Wayback Machine e também pode ser encontrado em busca avançada no Google.
O posicionamento de Áñez
Em meio a questionamentos sobre seus tuítes, Áñez rejeitou em 15 de novembro que tenha feito publicações “mal intencionadas” e acusou o antigo governo de Evo Morales de empregar “guerreiros digitais” para falsificar contas.
“Eu vi um par de tuítes que jamais escrevi, e já fizemos o esclarecimento com ‘falsidade’”, afirmou Áñez em coletiva de imprensa, sem precisar a quais publicações se referia.
“Um dos mecanismos de manipulação que o governo de Evo Morales utilizava era justamente este das redes sociais com os famosos ‘guerreiros digitais’ que (...) se ocupavam de observar as redes sociais de políticos como eu, que temos outro pensamento, que optamos por viver em democracia e liberdade e que estamos lutando por isso, e falsificam contas”, disse a presidente interina da Bolívia.
EDIT 21/11: Altera o primeiro parágrafo do texto para esclarecer que não foi encontrado registro de um dos tuítes na Internet