Este “kit COVID” foi distribuído, na verdade, pela Prefeitura de Tucumã, no Pará
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- Publicado em 21 de maio de 2020 às 18:10
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- Por AFP Brasil
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“No Piauí quem é atestado covid19 já sai do posto de saúde com seu kit [sic]”, “Olha o que a Prefeitura de Áfuá está distribuindo o Kit Básico para início do tratamento de COVID [sic]”, “Diagnóstico positivo para COVID 19 no município de Parnaíba o paciente já sai com o kit , Mão Santa não brinca [sic]” e “Atenção!Governador de Alagoas No Paraná e assim que se faz o cidadão e diagnósticado com o covid já saí com seu kit tratamento [sic]”, são algumas das legendas das postagens no Facebook (1, 2), que, juntas, somam mais de 3,1 mil compartilhamentos desde 17 de maio de 2020.
A imagem, contudo, mostra um kit de medicamentos distribuído pela Prefeitura de Tucumã, no Pará, não nas outras localidades indicadas nas publicações viralizadas, como foi confirmado pelo Checamos com a Secretaria de Saúde do município de Tucumã.
Um vídeo do secretário de Saúde, Raphael Antônio, falando sobre o kit e uma foto semelhante à viralizada nas redes sociais foi enviado à AFP. O secretário explicou que “todos os pacientes que entram em contato com a equipe de saúde passam a ser monitorados pelos médicos e enfermeiros. E se são considerados como suspeitos já começam a fazer uso desse kit [...]”, uma vez que “o teste rápido, como todos sabem, só sai o resultado depois de oito dias de sintomas, e até lá o paciente pode evoluir para um estado grave”.
E continuou indicando que “quando você é considerado suspeito, já passa a tomar [os medicamentos do kit], depois de oito dias faz o teste, se der negativo você para de tomar os remédios, e se der positivo o médico continua te acompanhando e te prescrevendo medicações”.
A informação também foi esclarecida pelo próprio site da Prefeitura de Tucumã e em um vídeo foi publicado na página do Facebook do secretário de Saúde do município.
O kit distribuído pela Secretaria de Saúde de Tucumã é composto por cloroquina, azitromicina, ivermectina, entre outros medicamentos prescritos dependendo de cada paciente, mas cuja eficácia ainda não foi comprovada pela comunidade científica.
A assessoria de imprensa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável por autorizar formalmente, entre outros itens, os medicamentos para consumo da população, indicou ao Checamos que “apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da COVID-19. Portanto, não há recomendação da Anvisa, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus”.
Apesar disso, no último dia 25 de abril, a Secretaria de Estado de Saúde do Pará (Sespa) divulgou uma nota técnica com orientações e critérios de uso de alguns medicamentos em pacientes com COVID-19, como a cloroquina.
Segundo a Sespa, este remédio pode ser administrado em pacientes confirmados, ou que tenham os sintomas da doença. “Em todos os contextos, a prescrição cabe ao médico em decisão compartilhada com o paciente (ou familiar) após a explicação de que não existe, até o momento, comprovação de qualquer benefício ao tratamento da COVID-19, explicando também os efeitos colaterais possíveis”.
No último dia 20 de maio, o Ministério da Saúde alterou o protocolo para uso da cloroquina em pacientes com a COVID-19. Com esta nova orientação, a cloroquina poderá ser usada - a critério do médico e com a ciência do paciente - já a partir do momento da identificação de sintomas ou sinais leves da doença.
Anteriormente, o Ministério da Saúde indicava a aplicação do medicamento apenas “em casos confirmados [...] como terapia adjuvante no tratamento de formas graves, em pacientes hospitalizados”.
Detectado na cidade chinesa de Wuhan no final de dezembro de 2019, o novo coronavírus deixou até 20 de maio de 2020 mais de 18 mil mortos no Brasil, além de mais de 291 mil infectados, colocando o país como terceiro com maior número de casos no mundo.
Em resumo, a foto viralizada de um “kit COVID-19” é verdadeira, mas ele está sendo distribuído em Tucumã, no Pará, não em localidades como Piauí, Parnaíba, Paraná, Afuá, como mencionado em publicações viralizadas. Além disso, o kit é entregue para pessoas já com a suspeita da doença causada pelo novo coronavírus, não apenas para os pacientes confirmados. A cloroquina, no entanto, ainda é alvo de debates no país e não foi recomendada por agências de regulamentação, como a Anvisa.
Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.