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Esta menina não está grávida: ela tem talassemia, que pode provocar inchaço abdominal
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- Publicado em 21 de agosto de 2020 às 22:22
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil, AFP Espanha
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“Mãe, morta. Pai, preso. Menina morava com os avós. Tio(estuprador) preso em 2010, ganhou saidinha em 2014 sendo recuperado pela polícia em 2015. Ganhou alvará de soltura em 2018 indo morar com a família. A garota vive uma vida conturbada. [...] Uma criança de 10 anos que sofreu abusos e engravidou decorrente destes abusos, foi chamada aos berros na porta do hospital, de assassina. [...] Igual a ela, tem várias por aí. Sofrendo caladas”, dizem as legendas das postagens, que registraram milhares de compartilhamentos no Facebook (1) em menos de um dia.
As duas imagens desta menina já circularam em postagens em português, inglês e espanhol, mas com a atribuição de que seria uma criança de 9 anos que engravidou após se casar com um muçulmano.
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Por meio de uma busca reversa das fotos dessa criança em motores como Google e Yandex, a equipe de verificação da AFP chegou ao site turco Dogrula que, em março de 2019, desmentiu uma postagem similar de que a criança estava casada com um imã.
A menina em questão se chama Roya, vive no Afeganistão, e tem uma doença chamada talassemia maior, de acordo com uma informação sobre o seu estado de saúde, fornecida em 27 de janeiro de 2019 no site da organização norte-americana Child Foundation, quando ela estava com oito anos.
A talassemia é uma doença hereditária que provoca, entre outros efeitos, uma diminuição da hemoglobina e de glóbulos vermelhos no sangue. Entre os sintomas da talassemia está o inchaço abdominal, como é o caso de Roya.
À AFP, o conselheiro sênior da Child Foundation Masoud Modarres desmentiu a gravidez de Roya: “Roya nunca esteve grávida”. A fundação norte-americana ajuda crianças com talassemia em Mazar-e-Sharif, no Afeganistão, e ela recebeu tratamento no centro administrado por esta organização, em um hospital nesta localidade afegã.
A fundação ajudou a família de Roya “com transfusões de sangue em um hospital de Mazar-e-Sharif”, contou Modarres. “Como a sua família é muito pobre e não sabia muito sobre esta doença, só levavam-na ao médico nos piores momentos. Aparentemente, não ministraram os remédios que deveriam dar a ela, fazendo com que o rim e o baço de Roya aumentassem de tamanho”, lembrou.
Devido à falta de recursos, a Child Foundation conseguiu para a família da menina “um visto, um passaporte, auxiliamos em sua viagem à cidade de Mashad, no Irã, onde um bom samaritano [encontrado também através da fundação, segundo esta] pagou pela sua cirurgia”, afirmou Modarres. De acordo com o site da fundação, a viagem ocorreu em 1º de fevereiro de 2019, a cirurgia foi um sucesso e Roya e sua família retornaram ao Afeganistão.
O presidente da Associação Espanhola de Luta contra as Hemoglobinopatias e Talassemias, Antonio Cerrato, explicou à equipe de verificação da AFP que a talassemia “é uma anemia grave”. As pessoas que têm essa condição - que são aquelas cujos pais são portadores da alteração genética - “requerem transfusões de sangue desde que nascem para poder sobreviver”, além de um tratamento por via oral para eliminar o ferro pelas transfusões.
Cerrato também indicou que “a única cura é um transplante de medula [óssea], mas para um transplante de medula, precisa haver um doador 100% compatível”. Ele ainda explicou que “com o tratamento adequado, um paciente pode ter uma boa qualidade de vida e uma expectativa de vida normal”.
Gravidez aos 10 anos
O caso de uma menina do Espírito Santo, estuprada desde os seis anos e hoje com 10 anos, ganhou grande repercussão no país, principalmente depois que a Justiça decidiu que ela poderia fazer um procedimento abortivo.
No último dia 17 de agosto, foi realizada a interrupção da gravidez em um hospital em Pernambuco, que foi palco de protestos de manifestantes religiosos contrários ao aborto.
No Brasil, o aborto é permitido em caso de risco de morte à gestante, gravidez decorrente de estupro e em caso de feto anencéfalo.
Em resumo, é falso que a criança vista nas imagens que ilustram as publicações viralizadas esteja grávida. Na verdade, ela tem uma doença chamada talassemia maior, que afeta o sangue e pode causar inchaço abdominal devido ao aumento de tamanho de algum órgão.