
Haddad não afirmou que governo anterior cobrava pouco imposto da população; ministro falava sobre bets
- Publicado em 15 de outubro de 2025 às 17:49
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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Em 7 de outubro de 2025, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concedeu uma entrevista coletiva sobre a sua expectativa para a análise de uma medida provisória que previa o aumento de tributação de aplicações financeiras. Desde então, publicações visualizadas mais de 400 mil vezes compartilham um trecho da entrevista com a alegação de que o ministro reclamou que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cobrava pouco imposto da população. Na realidade, Haddad disse que o governo anterior não cobrou os impostos devidos de empresas de apostas online, as chamadas bets.
“URGENTE - Haddad reclama que Bolsonaro cobrava poucos impostos do povo. ‘O governo anterior não cobriu os impostos devidos’”, diz a legenda de um vídeo que circula no X.
A gravação também circula no Telegram, no TikTok, no Threads, no Kwai, no Instagram e no Facebook, e foi compartilhada por políticos da oposição (1, 2, 3).

Na sequência, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirma que “houve um entendimento de que a Receita Federal teria muita dificuldade de cobrar pelo passado”. “O governo anterior, como vocês sabem, não cobrou os impostos devidos (...) O governo anterior não zelou com as cautelas devidas para fazer valer a legislação brasileira”, ouve-se o ministro dizendo.
Em uma tarja na parte inferior, lê-se: “Haddad repercute MP que tributa investimentos”.
Os posts sugerem que o ministro estaria se referindo a impostos sobre a renda da população como um todo. Isso não é verdade.
Uma busca no Google com os termos “Haddad”, “MP” e “investimentos” levou a uma versão mais longa da gravação compartilhada nas redes, publicada pela TV Senado no YouTube em 7 de outubro de 2025.
A descrição informa que o ministro concedeu uma entrevista coletiva nessa data sobre a sua expectativa quanto à análise da Medida Provisória 1.303/2025, que iria tramitar na Câmara dos Deputados.
Durante a entrevista, Haddad responde a perguntas sobre a proposta e, a partir de 2 minutos e 20 segundos, afirma que dois pontos do texto foram discutidos com mais “ênfase” pelo governo com o relator Carlos Zarattini (PT-SP).
Dentre esses pontos, o ministro cita a tributação de empresas de aposta de quota fixa, as chamadas bets, como um desses pontos. É, então, que inicia-se o trecho visto nas publicações virais em que Haddad diz que a Receita Federal tem dificuldade em cobrar o retroativo referente ao tempo que essas empresas operaram no Brasil sem regulamentação, atingindo “lucros exorbitantes” e enviando remessas para fora do país uma vez que “o governo anterior não cobrou os impostos devidos pela operação”.
As citações que o ministro faz às bets durante a sua fala foram recortadas da sequência viralizada:
A medida provisória da qual Haddad falava foi proposta pelo governo para unificar a tributação de aplicações financeiras em 17,5% e era uma alternativa para aumentar a arrecadação após a revogação de outra medida que elevava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
O texto também previa a repatriação de valores enviados ao exterior pelas empresas de apostas online com tributação de 15% e multa adicional de 15%. Em determinado trecho dos conteúdos virais, Haddad cita essas alíquotas, mas as referências às bets em sua fala também são omitidas.
As casas de apostas esportivas online foram legalizadas por meio da lei 13.756/2018, que previa a regulamentação em até dois anos com a possibilidade de prorrogação para outros dois anos. Em 2022, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não assinou o decreto que criava regras e tributos para o mercado e perdeu o prazo.
A regulamentação do setor aconteceu somente no início de 2025.
A proposta mencionada por Haddad na gravação passou por uma série de mudanças antes de tramitar na Câmara com o intuito de garantir a viabilidade, mas foi derrubada em 8 de outubro após perder a validade na Câmara dos Deputados.
Esse conteúdo também foi verificado por Fato ou Fake e pela Reuters.
Referências
- Vídeo com a entrevista coletiva do ministro Haddad
- Parecer com a versão final da MP 1.303/2025
- Notícias sobre a movimentação da MP (1, 2, 3)