
Homem com “guarda-sol” ao lado de Wagner Moura em ato político é um artista que se apresenta com sombreiro
- Publicado em 25 de setembro de 2025 às 15:19
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Wagner Moura colocou uma mulher negra para segurar um pesado guarda-sol para seu conforto na luta contra a ‘extrema-direita’”, diz uma legenda sobreposta a um vídeo que circula no Instagram.
Mensagens similares com uma gravação em que se vê um homem segurando um sombreiro sobre o ator Wagner Moura circulam no Facebook, no X, no TikTok e no Kwai.

O conteúdo circula após os protestos realizados pelo país contra a PEC da Blindagem, proposta aprovada dias antes pela Câmara dos Deputados que previa a autorização prévia do Congresso Nacional para ações penais contra parlamentares. A proposta foi rejeitada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado três dias após os atos, em 24 de setembro.
Os manifestantes também se posicionaram contra o projeto de anistia que poderia beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e três meses por tentativa de golpe de Estado após perder as eleições para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
Os atos foram realizados em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Salvador, em Belo Horizonte e em outras dezenas de cidades com a presença de diversos artistas, como Gilberto Gil, Chico Buarque e Caetano Veloso.
Na capital baiana, o ato foi conduzido pela cantora Daniela Mercury e marcado pela participação do ator Wagner Moura.
No entanto, não é verdadeiro que o ator tenha contratado o homem que aparece nas imagens virais com um sombreiro para protegê-lo do sol.
Participação de artista de bloco afro
Segundo registros da imprensa, o ato em Salvador também recebeu o Cortejo Afro, um grupo que desenvolve trabalhos sociais e que tem uma banda e bloco de carnaval que combina música, artes visuais e dança.
Pelas redes sociais do grupo (1, 2, 3) é possível visualizar diferentes registros de apresentações com o mesmo homem que carrega o sombreiro de renda branca visto nas imagens virais (1, 2, 3).
Nos registros, é possível ver que as apresentações do grupo são acompanhadas pelas performances com o sombreiro.
Em um vídeo publicado no canal do grupo no YouTube em 2014, o fundador, Alberto Pitta, conta sobre o bloco e explica o uso do objeto nas apresentações, que é considerado o“símbolo-mor” da estética do Cortejo e é carregado pelo artista Veko Araújo.
Outros registros do ato de 21 de setembro em Salvador mostram o artista com o sombreiro pelo palco, enquanto dança e interage com outros manifestantes (1, 2, 3). Também há imagens de outros momentos da fala de Wagner Moura em que Araújo tampouco mantém o sombreiro sobre o ator.
Tradição de mais de 20 anos
Em conversa com o Checamos em 23 de setembro, o artista Veko Araújo negou que tenha sido contratado por Daniela Mercury ou por Wagner Moura para protegê-los do sol: “Eu não estava ali para cobrir ninguém do sol, até porque aquele sombreiro não cobre ninguém do sol. Ele é de renda. O sol perpassa as tramas daquele sombreiro”.
Já o fundador do Cortejo Afro, Alberto Pitta, explicou ao Checamos que o bloco foi convidado por Mercury no dia anterior ao ato para participar. Como não seria viável estar o grupo inteiro, que conta com percussionistas e cantores, Pitta decidiu marcar presença com Veko para representar o bloco, conhecido justamente pelo sombreiro de renda branca.
Diferentemente do que apontam as peças de desinformação, Pitta explica que o sombreiro não é utilizado nas apresentações para proteger artistas do sol. Para o Cortejo Afro, ele assume outro significado: é a releitura do Alá de Oxalá, um grande pano branco utilizado pelos fiéis das religiões de matriz africana.
“Eu não posso botar um Alá, são quatro pessoas que seguram no candomblé. Então eu inventei o sombreiro há 27 anos. Um sombreiro rendado branco para dar conta de uma coisa cerimoniosa, para dar conta de um cortejo, para fazer sentido ao nome que eu inventei”, contou Pitta, que reforçou que o objeto tem a simbologia de harmonia e unificação. “Ele não estava ali [no ato] numa posição de subserviência”.
Pitta também ressaltou que o momento visto nas imagens virais faz parte das performances de Araújo, que, por vezes, gira o sombreiro sobre as pessoas durante as apresentações, como é possível ver em outros registros.
“Eu só estava querendo ali compartilhar, na verdade, com Wagner [Moura], com Daniela [Mercury], com Lan Lan, com o Baco [Exu do Blues], o meu instrumento. É muito além de estar cobrindo, de estar protegendo (...) Essa subserviência não tem nada a ver. Ali é o meu protagonismo”, ressaltou Araújo.