Políticos listados em vídeo não são citados em investigações sobre a fraude no INSS

  • Publicado em 4 de setembro de 2025 às 16:26
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Após o Senado instaurar em 20 de agosto de 2025 uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar as fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), um vídeo foi compartilhado mais de 5 mil vezes como se revelasse uma lista de parlamentares envolvidos no esquema. Entretanto, esses políticos não aparecem nas investigações sobre o caso. Na verdade, eles foram apontados em uma matéria do Metrópoles por terem apresentado emendas redigidas por uma das entidades investigadas, com o objetivo de alterar a Medida Provisória que buscava combater descontos irregulares no INSS.

Você viu esta lista aqui? Que a CPMI do INSS realmente esclareça tudo”, diz a legenda de um vídeo no X. Conteúdos semelhantes também foram compartilhados no Kwai, no Facebook, no Threads e no Instagram.

Na gravação, um homem cita nomes de políticos principalmente de esquerda e comenta: “Eu fico pensando, esse povo brabo lá dentro do Congresso (...) e o [portal] Metrópoles detonou aqui. Com isso aqui, vocês nem têm como dizer que o esquema vem mesmo do governo Bolsonaro, vem. Mas porque vocês derrubaram a medida provisória”.

O conteúdo começou a circular inicialmente em julho de 2025 e voltou a ser compartilhado após o Senado aprovar no último 20 de agosto a instalação da CPMI que vai investigar as fraudes na previdência social.

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Captura de tela feita em 2 de setembro de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

Em abril de 2025, a Controladoria Geral da União (CGU) e a Polícia Federal (PF) deflagraram uma operação para investigar entidades de classe que teriam realizado descontos associativos na folha de pagamento de aposentados e pensionistas do INSS sem a autorização dos beneficiários.

Contudo, os políticos citados no vídeo viral não são investigados pela fraude.

O que diz a matéria do Metrópoles

Uma busca reversa na plataforma Lenso.ai levou ao vídeo original, publicado em 18 de junho de 2025 no canal do apresentador da TV Norte Joslei Cardinot. Na gravação, ele repercute uma reportagem do Metrópoles sobre parlamentares que apresentaram emendas para alterar a Medida Provisória n° 871, de 2019, que visava combater fraudes no INSS.

Apesar de as emendas terem as assinaturas dos políticos, o portal constatou por meio de metadados que elas foram redigidas, na verdade, pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), uma das entidades suspeitas de realizar descontos indevidos.

A matéria cita 15 parlamentares, nove do PT, dois do PCdoB, dois do PSD, um do MDB e um do PL. São eles: Jaques Wagner (PT-BA), Jean Paul Prates (PT-RN), Daniel Almeida (PCdoB-BA), Humberto Costa (PT-PE), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), João Carlos Bacelar (PL-BA), Marcon (PT-RS), Otto Alencar Filho (PSD-BA), Patrus Ananias (PT-MG), Paulo Rocha (PT-PA), Rubens P. Júnior (PT-MA), Tereza Nelma (PSD-AL), Valmir Assunção (PT-BA), Zé Neto (PT-BA) e Celso Maldaner (MDB-SC).

Segundo a reportagem, o lobby da Contag foi responsável por derrubar a ideia do governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL) de realizar a revalidação anual de descontos associativos. As emendas analisadas pelo portal afirmavam que seria “praticamente inviável” fazer a renovação nessa periodicidade.

Os parlamentares citados enviaram ao Metrópoles explicações sobre as emendas que continham suas assinaturas.

Em momento algum, a matéria do Metrópoles diz que eles são investigados ou que tiveram participação no esquema de descontos irregulares.

Quem são as investigados

Entre os suspeitos de participar das fraudes estão funcionários do INSS, empresários e lobistas ligados às entidades que realizaram os descontos. Os parlamentares citados na matéria não aparecem como investigados em notícias sobre as operações da PF nem são citados no relatório apresentado pela CGU em abril.

Em 2 de setembro, a CPMI do INSS aprovou um requerimento que pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão preventiva de 21 pessoas denunciadas por envolvimento no esquema. Os parlamentares não estão entre os denunciados.

Também em 2 de setembro, a CGU instaurou processos administrativos contra 38 associações e três empresas. Os processos se somam aos 12 instaurados em maio pelo INSS e avocados pela CGU.

Este conteúdo também foi checado pelo Estadão Verifica.

O Checamos já verificou outros conteúdos relacionados à fraude no INSS.

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