Fabricante de automóveis Toyota não lançou um motor movido a água

A meta global de alcançar meios de transporte com emissões zero tem sido alvo frequente de desinformação. Em novas postagens sobre o tema, com mais de 100 mil interações nas redes sociais desde abril de 2025, usuários afirmam que a fabricante automotiva Toyota lançou um motor que utilizaria água como combustível, sem necessidade de “bateria de lítio” ou estações de recarga, como no caso dos veículos elétricos. Porém, à AFP, a companhia japonesa desmentiu a alegação, e especialistas indicaram que a suposta tecnologia seria muito ineficiente caso desenvolvida.

“Num movimento que vai abalar a indústria automóvel global, a Toyota acaba de revelar um motor movido a água alimentado por hidrogênio criado através da eletrólise - emitindo apenas vapor de água! Sem lítio. Sem postos de carregamento. Apenas pura interrupção”, diz uma das mensagens que circulam no Facebook, no Instagram, no X, no TikTok e no YouTube.

Publicações semelhantes circulam em inglês, espanhol, búlgaro e francês.

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Captura de tela feita em 6 de agosto de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

As postagens indicam que, com a suposta inovação, a empresa “destruirá” a indústria dos carros elétricos e redefinirá o conceito de mobilidade sustentável.

Porém, a Toyota negou o teor das mensagens à AFP em 23 de julho de 2025, classificando-as como “notícias falsas”. “Não estamos desenvolvendo nada que possa ser definido como um ‘motor de água’”, disse Jean-Yves Jault, responsável pela comunicação da companhia japonesa.

Jault também mencionou um artigo publicado pela Forbes que desmentiu a mensagem. Nele, o engenheiro químico Robert Rapier explica que a água não é um combustível, mas um produto que surge da combustão do hidrogênio. “A ideia de que a água seja fonte de energia de um veículo é sem sentido”, afirmou.

A companhia, na verdade, fabrica veículos, como o Toyota Mirai, que usa células de combustível de hidrogênio para gerar a energia que alimenta o motor elétrico. No entanto, o modelo requer estações de recarga especializadas e incorpora baterias de lítio, ao contrário do que indicam as mensagens virais.

A Toyota patenteou em 2023 um motor de hidrogênio com um sistema de refrigeração a água. Nesse caso, a água não seria usada como combustível, mas sim como um meio de refrigeração do motor em vez do ar, ajudando a reduzir a temperatura gerada pela combustão do hidrogênio.

Como se geraria hidrogênio com água

Algumas publicações se referem à eletrólise como o modo pelo qual o automóvel separaria “o hidrogênio da água e o usaria como energia”.

A eletrólise é um processo químico que utiliza a eletricidade para separar os elementos de um composto. Isso poderia ser aplicado à água para produzir oxigênio e hidrogênio.

Para que este processo ocorresse em um automóvel, seria necessário uma fonte de eletricidade. “Essa energia provavelmente viria de uma bateria”, explica Rapier no artigo indicado, classificando a medida como algo “ineficaz”. “No lugar de usar uma bateria para produzir hidrogênio através de eletrólise e depois convertê-lo em energia para impulsionar um carro, seria muito mais eficiente (e prático) usar diretamente a eletricidade inicial”, disse o engenheiro.

Essa conclusão foi confirmada pelo professor da Universidade Técnica de Sófia (Bulgária), Plamen Punov, à AFP em 7 de julho de 2025. Punov, que trabalha com estudantes em projetos de células de combustível de hidrogênio, indicou que o elemento não é produzido dentro do veículo. “Não conheço nenhum veículo deste tipo e, incluindo em termos teóricos, seria extremamente ineficiente e impraticável”, considerou.

Por sua vez, Boriana Tzaneva, professora de Química na mesma universidade, explicou à AFP que a eletrólise poderia utilizar “a energia residual de um veículo em movimento”. Porém, o uso “não se justifica economicamente”, não só pelo alto custo e peso adicional que seria necessário, mas também porque poderia representar problemas de segurança. Além disso, ela explicou que a quantidade de energia gerada seria insignificante.

Mensagens virais sobre veículos movidos a água não são novidade. A AFP já verificou anteriormente, em outros idiomas, alegações sobre motores movidos a água que não gerariam poluição (1, 2).

Referências

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