Publicações enganam ao atribuir exercício militar realizado desde 2018 a suposto rompimento da FAB com o governo federal
- Publicado em 6 de agosto de 2025 às 23:21
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
“EXÉRCITO BRASILEIRO FAZ ACORDO COM EXÉRCITO AMERICANO. Num gesto que quem abandona lulis, as FFAA fazem acordo com o exército dos EUA. 2 aviões cheios de soldados chegam em Cuiabá”, diz a legenda de um vídeo que circula no X, no Facebook, no Instagram, no Threads e no TikTok.
No vídeo, o narrador afirma que “após 48 horas de comunicado oficial que as Forças Armadas Brasileiras decidiram firmar aliança com os Estados Unidos e abandonar Lula totalmente (...). Os Estados Unidos através de Trump faz aceno e manda dois megacargueiros repleto de militares americanos para o Brasil”.
Ao final do conteúdo, é informado que as aeronaves pousaram em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, para o exercício militar Tápio 2025.
De fato, a Base Aérea de Campo Grande recebeu entre julho e agosto de 2025 aeronaves e militares norte-americanos para um exercício militar, chamado Tápio, para simulações de missões de paz, guerra irregular, guerra eletrônica e ajuda humanitária. O objetivo é fortalecer a cooperação entre a FAB, o Exército, a Marinha e forças estrangeiras.
Mas, diferentemente do que as peças de desinformação levam a crer, esse exercício militar conjunto com os Estados Unidos não representa um rompimento da FAB com o governo brasileiro.
Uma busca no site da FAB pelo termo “Tápio” levou a diferentes notícias que informam que a operação é realizada desde 2018.
Em 2 de maio daquele ano, foi noticiado que o Exercício Operacional (EXOP) Tápio iria reunir mais de 700 militares e mais de 20 esquadrões para um treinamento na Base Aérea de Campo Grande.
Segundo o texto, aquele era o primeiro grande exercício militar desde a reestruturação da FAB e tinha como objetivo preparar os militares para ações de Força Aérea em cenário similar ao de missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em maio de 2019, a segunda edição do treinamento foi realizada e, além dos esquadrões aéreos da FAB, e também contou com a participação de outras unidades, como a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF).
No entanto, foi em 2021 que as outras Forças Armadas e a USAF começaram a participar efetivamente da operação com meios aéreos e militares em missões compartilhadas, que simulam um cenário de guerra irregular.
Com a integração de militares das outras Forças Armadas e norte-americanos, que também estiveram no Brasil em 2022 e 2023, o treinamento passou a se chamar Exercício Conjunto (EXCON) Tápio.
Imprensa não publicou rompimento da FAB com governo
A narração do vídeo compartilhado nas peças de desinformação também aponta que fontes militares ouvidas pela imprensa, como a CNN Brasil, afirmam que um “processo de realinhamento estratégico e institucional” das Forças Armadas, que “abandonaram” Lula, ocorre “em reação ao crescente isolamento geopolítico” e pela escalada de tensão com o presidente norte-americano.
A citação se refere ao aumento da tensão entre Brasília e Washington devido à imposição de uma taxa de 50% sobre as importações brasileiras, anunciada no último dia 9 de julho pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma carta endereçada a Lula.
Na carta, Trump chama de “caça às bruxas” o julgamento do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, acusado de uma tentativa de golpe de Estado em 2022 para impedir a posse de Lula.
A taxa entrou em vigor em 6 de agosto com uma lista de exceções de quase 700 produtos.
O governo de Trump também revogou os vistos de oito magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF), corte que julga o caso Bolsonaro, e aplicou sanções econômicas pela Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes.
Contudo, também não é verdadeiro que a imprensa noticiou um rompimento da FAB diante desse cenário.
Na aba de notas oficiais do site da FAB não foram encontrados documentos que informem sobre tal rompimento.
Uma busca com o termo “militar” no site da CNN Brasil tampouco levou a notícias que abordem informações do tipo.
Em 23 de julho de 2025, o veículo noticiou que, frente à escalada da tensão entre Washington e Brasília devido ao tarifaço de Trump, as Forças Armadas brasileiras estariam preocupadas com o efeito da medida em negócios e exercícios militares conjuntos.
Em outra notícia, publicada em 29 de julho, os militares ouvidos pela reportagem reafirmaram a preocupação com os impactos nos projetos estratégicos da base industrial de defesa.
Mas em nenhum dos textos é abordada uma suposta ruptura da FAB com o governo Lula.
Esse conteúdo também foi checado pelo Estadão Verifica.
Referências
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