
Publicações enganam ao atribuir exercício militar realizado desde 2018 a suposto rompimento da FAB com o governo federal
- Publicado em 6 de agosto de 2025 às 23:21
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“EXÉRCITO BRASILEIRO FAZ ACORDO COM EXÉRCITO AMERICANO. Num gesto que quem abandona lulis, as FFAA fazem acordo com o exército dos EUA. 2 aviões cheios de soldados chegam em Cuiabá”, diz a legenda de um vídeo que circula no X, no Facebook, no Instagram, no Threads e no TikTok.
No vídeo, o narrador afirma que “após 48 horas de comunicado oficial que as Forças Armadas Brasileiras decidiram firmar aliança com os Estados Unidos e abandonar Lula totalmente (...). Os Estados Unidos através de Trump faz aceno e manda dois megacargueiros repleto de militares americanos para o Brasil”.
Ao final do conteúdo, é informado que as aeronaves pousaram em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, para o exercício militar Tápio 2025.

De fato, a Base Aérea de Campo Grande recebeu entre julho e agosto de 2025 aeronaves e militares norte-americanos para um exercício militar, chamado Tápio, para simulações de missões de paz, guerra irregular, guerra eletrônica e ajuda humanitária. O objetivo é fortalecer a cooperação entre a FAB, o Exército, a Marinha e forças estrangeiras.
Mas, diferentemente do que as peças de desinformação levam a crer, esse exercício militar conjunto com os Estados Unidos não representa um rompimento da FAB com o governo brasileiro.
Uma busca no site da FAB pelo termo “Tápio” levou a diferentes notícias que informam que a operação é realizada desde 2018.
Em 2 de maio daquele ano, foi noticiado que o Exercício Operacional (EXOP) Tápio iria reunir mais de 700 militares e mais de 20 esquadrões para um treinamento na Base Aérea de Campo Grande.
Segundo o texto, aquele era o primeiro grande exercício militar desde a reestruturação da FAB e tinha como objetivo preparar os militares para ações de Força Aérea em cenário similar ao de missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em maio de 2019, a segunda edição do treinamento foi realizada e, além dos esquadrões aéreos da FAB, e também contou com a participação de outras unidades, como a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea dos Estados Unidos (USAF).
No entanto, foi em 2021 que as outras Forças Armadas e a USAF começaram a participar efetivamente da operação com meios aéreos e militares em missões compartilhadas, que simulam um cenário de guerra irregular.
Com a integração de militares das outras Forças Armadas e norte-americanos, que também estiveram no Brasil em 2022 e 2023, o treinamento passou a se chamar Exercício Conjunto (EXCON) Tápio.
Imprensa não publicou rompimento da FAB com governo
A narração do vídeo compartilhado nas peças de desinformação também aponta que fontes militares ouvidas pela imprensa, como a CNN Brasil, afirmam que um “processo de realinhamento estratégico e institucional” das Forças Armadas, que “abandonaram” Lula, ocorre “em reação ao crescente isolamento geopolítico” e pela escalada de tensão com o presidente norte-americano.
A citação se refere ao aumento da tensão entre Brasília e Washington devido à imposição de uma taxa de 50% sobre as importações brasileiras, anunciada no último dia 9 de julho pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma carta endereçada a Lula.
Na carta, Trump chama de “caça às bruxas” o julgamento do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, acusado de uma tentativa de golpe de Estado em 2022 para impedir a posse de Lula.
A taxa entrou em vigor em 6 de agosto com uma lista de exceções de quase 700 produtos.
O governo de Trump também revogou os vistos de oito magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF), corte que julga o caso Bolsonaro, e aplicou sanções econômicas pela Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes.
Contudo, também não é verdadeiro que a imprensa noticiou um rompimento da FAB diante desse cenário.
Na aba de notas oficiais do site da FAB não foram encontrados documentos que informem sobre tal rompimento.
Uma busca com o termo “militar” no site da CNN Brasil tampouco levou a notícias que abordem informações do tipo.
Em 23 de julho de 2025, o veículo noticiou que, frente à escalada da tensão entre Washington e Brasília devido ao tarifaço de Trump, as Forças Armadas brasileiras estariam preocupadas com o efeito da medida em negócios e exercícios militares conjuntos.
Em outra notícia, publicada em 29 de julho, os militares ouvidos pela reportagem reafirmaram a preocupação com os impactos nos projetos estratégicos da base industrial de defesa.
Mas em nenhum dos textos é abordada uma suposta ruptura da FAB com o governo Lula.
Esse conteúdo também foi checado pelo Estadão Verifica.