
A Namíbia não anunciou o cancelamento da exploração de petróleo e gás com os Estados Unidos
- Publicado em 16 de junho de 2025 às 21:47
- 4 minutos de leitura
- Por Tendai DUBE, AFP África do Sul
- Tradução e adaptação AFP Brasil
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“A Namíbia cancelou o contrato com os EUA da mineração do seu PETRÓLEO & GÁS”, afirmam publicações no Facebook, no Instagram, no Threads, no LinkedIn, no YouTube, no TikTok e no X.
“Eles terminaram o contrato de Petróleo & Gás com os EUA e disseram ao Governo dos EUA para parar imediatamente todas as operações de mineração na Namíbia à medida que a Namíbia se aventura em operações de mineração estatais”, diz a mensagem, que também circula em inglês.
A alegação é compartilhada junto a imagens dos mandatários da Namíbia, Netumbo Nandi-Ndaitwah, e dos Estados Unidos, Donald Trump.

Nandi-Ndaitwah, eleita em março de 2025, colocou as indústrias de petróleo e gás do país sob controle direto da Presidência no dia seguinte à sua posse. Anteriormente, esses setores estavam sob responsabilidade do Ministério de Minas e Energia.
No entanto, o governo não anunciou o cancelamento de nenhum contrato de energia com os Estados Unidos.
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Uma pesquisa no Google pelos termos “Namíbia”, “petróleo”, “gás” e “Estados Unidos” em inglês não mostrou nenhuma nota oficial ou reportagens com esse teor. A busca exibiu textos informando sobre a posse de Nandi-Ndaitwah e a mudança na administração das operações de petróleo e gás, agora sob supervisão do gabinete presidencial.
Como noticiado pela AFP em abril de 2025, Nandi-Ndaitwah explicou que esse setor tem o potencial de transformar a economia da Namíbia nos próximos cinco anos, garantindo o fornecimento de energia e criando empregos.
“A mineração contribui com 12% do nosso produto interno bruto e com mais de 50% das nossa receita cambial. Lamentavelmente, esse número não reflete o verdadeiro potencial da mineração e dos nossos recursos minerais”, afirmou a mandatária.
Em 15 de abril de 2025, o perfil oficial da Presidência da Namíbia no X classificou as publicações virais como “notícias falsas”.
— Namibian Presidency (@NamPresidency) May 30, 2025
A Presidência da Namíbia reiterou essa declaração à AFP, em 4 de junho de 2025.
“O governo da Namíbia não cancelou, em nenhum momento, quaisquer contratos com investidores dos Estados Unidos nos setores de mineração, petróleo e gás”, afirmou o secretário de imprensa, Alfredo Hengari.
Ele acrescentou que “não é política do governo cancelar contratos vinculantes”.
Em 11 de junho de 2025, um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano disse à AFP que “as alegações online de que a Namíbia cortou relações com os Estados Unidos nos setores da mineração e gás são falsas”.
Investimento estrangeiro
Ao contrário do que as publicações virais sugerem, a Namíbia se tornou um ponto de interesse global, com várias empresas internacionais de gás e petróleo explorando ativamente suas costas nos últimos anos.
No início de 2025, a empresa norte-americana Chevron anunciou que não encontrou gás comercialmente viável na Bacia de Orange, na Namíbia.
Em abril, no entanto, a empresa confirmou que continuaria a exploração na Bacia de Walvis em 2026 ou 2027, onde empresas como TotalEnergies, Shell e Galp fizeram descobertas.
Da mesma forma, a multinacional britânica Shell informou, em janeiro de 2025, que suas descobertas de petróleo na Namíbia não eram comercialmente viáveis devido aos altos níveis de gás.
No entanto, a francesa TotalEnergies acredita que pode lidar com esses desafios geológicos, embora sua decisão de investir dependa de manter os custos de produção abaixo de US$ 20 por barril.
Outra empresa norte-americana, a ExxonMobil, está investigando (1, 2) o potencial de recursos na Bacia do Namibe.
A própria Namíbia, por meio da estatal Corporação Nacional de Petróleo (Namcor), detém uma participação de 10% na parceria de exploração com a TotalEnergies (50,5%), QatarEnergy (30%) e Impact Oil and Gas (9,5%).
Como um dos maiores produtores de urânio, a Namíbia também anunciou, em abril de 2025, que iniciará este ano negociações para a construção de sua primeira usina de energia nuclear, com o objetivo de explorar sua rica base de recursos naturais para transformar a economia.