O texto sobre “ser feliz” não foi a última homilia do papa Francisco, nem é de sua autoria

Após a morte do papa Francisco, em 21 de abril de 2025, tem sido compartilhado um texto nas redes sociais sobre “ser feliz”, com a falsa alegação de que se tratava de sua última homilia, proferida na celebração da Páscoa no Vaticano. Na verdade, o texto não foi a última homilia do jesuíta argentino e tampouco há registro dessas palavras nos canais oficiais da Santa Sé. O texto circula pelo menos desde 2010 e sua autoria é anônima.

“A homilia que o Papa Francisco fez, a última de sua vida, é uma daquelas que você nunca se cansará de ler, reler, ler e reler”, diz a legenda de uma publicação no Facebook e no Instagram.

O texto começa: “Você pode ter falhas, ser ansioso e viver com raiva às vezes, mas não se esqueça de que sua vida é o maior empreendimento do mundo. Só você pode evitar que ela vá por água abaixo. Muitos o apreciam, admiram e amam. Se você pensava que ser feliz significa não ter um céu sem tempestades, uma estrada sem acidentes, trabalho sem fadiga, relacionamentos sem decepções, você se enganou”

O conteúdo também circula em espanhol.

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Captura de tela feita em 23 de abril de 2025 de uma publicação no Facebook (.)

Francisco, o primeiro papa latino-americano, morreu em 21 de abril de 2025, aos 88 anos, após mais de uma década de pontificado. 

O jesuíta argentino, líder da Igreja Católica desde 2013, ficou hospitalizado durante 38 dias com pneumonia grave, até 23 de março. Apesar da saúde debilitada, participou no domingo, 20 de abril, da celebração da Páscoa no Vaticano, ocasião em que o cardeal Angelo Comastri leu a homilia do papa.

De acordo com a certidão de óbito emitida pela Santa Sé, Francisco morreu em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC), que o deixou em coma e causou uma insuficiência cardiocirculatória irreversível.

O texto não é a homilia de 20 de abril de 2025

Uma busca pela homilia do papa de 20 de abril de 2025 no site oficial do Vaticano levou ao texto original. Uma comparação entre os dois textos mostrou que eles não têm semelhança, nem frases semelhantes. 

“Maria Madalena, ao ver que a pedra do sepulcro tinha sido removida, começou a correr para ir avisar Pedro e João. Também os dois discípulos, tendo recebido aquela surpreendente notícia, saíram e – diz o Evangelho – «corriam os dois juntos»”, começa a homilia, diferentemente do texto viral. 

Uma segunda busca pelo texto nas redes sociais do Vaticano (1, 2, 3) não exibiu resultado semelhante ao visto nas publicações virais. Também não foi encontrada qualquer cobertura da imprensa sobre a leitura ou autoria deste escrito pelo papa. 

Algumas publicações em português atribuem a autoria do texto ao escritor Augusto Cury. Em espanhol, por sua vez, o texto é compartilhado desde setembro de 2010, mas sem identificar a autoria. 

Uma pesquisa por termos do texto em inglês exibiu uma outra publicação, de 2020, na qual o texto é atribuído ao escritor português Fernando Pessoa, embora também não esteja claro quem é o autor. Em 2006 foi debatido se Pessoa teria escrito um discurso muito semelhante.

Referências

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