
Homem que fala sobre os atos de 8 de janeiro de 2023 em vídeo viral não é o relator da OEA
- Publicado em 20 de março de 2025 às 16:07
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Relator da OEA acaba de anunciar que o 8 de janeiro foi tudo programado”, diz uma mensagem escrita no vídeo que circula no Facebook. O conteúdo também foi compartilhado no Instagram, no TikTok e no Kwai.

Na gravação que acompanha as publicações, é possível ver o trecho de uma fala de um homem sobre os ataques aos Três Poderes de 8 de janeiro: “(...) Com emissão da Portaria 69. Eles, esses casos, não começaram com os infelizes eventos de 8 de janeiro de 2023. Isso é um pretexto”.
Em 30 de janeiro de 2025, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) — um órgão autônomo ligado à OEA — anunciou que faria uma visita ao Brasil para analisar a situação da liberdade de expressão no país.
Em 28 de fevereiro de 2025, a CIDH emitiu um comunicado informando que a visita havia sido realizada entre os dias 9 e 14 de fevereiro, em resposta a um “convite oficial do Estado brasileiro.”
“A delegação foi chefiada pelo Relator Especial para a Liberdade de Expressão, Pedro Vaca Villarreal, que, junto de integrantes da RELE e da Secretaria Executiva da CIDH, visitou as cidades de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, onde pôde ouvir uma ampla gama de vozes”, diz o texto.
Até o momento da publicação desta verificação, o relatório não foi divulgado. No comunicado de 28 de fevereiro, a CIDH “reconhece a abertura do Brasil à observação internacional na área da liberdade de expressão, o que é um sinal de seu compromisso com as instituições democráticas e os direitos humanos”.
Homem do vídeo não é Pedro Vaca
Uma busca no Google pelo nome informado no comunicado da CIDH, Pedro Vaca Villarreal, mostrou que a pessoa do vídeo não é o relator da OEA.

Uma pesquisa no Google pela frase exata dita pelo homem do vídeo viral levou a uma sequência publicada em 15 de fevereiro de 2025 no YouTube, intitulada: “Van Hattem e advogado da ADF International explicam consequências da visita da CIDH/OEA”. Após cerca de 8 minutos e 30 segundos é possível ver o trecho compartilhado nas publicações.
Na gravação é dito que o homem do vídeo é Julio Pohl, advogado da Aliança em Defesa da Liberdade (ADF) — uma organização cristã e conservadora que atua em diversos países. Em sua fala completa, ele cita Pedro Vaca e diz que se reuniu com o relator para conversar sobre o que classificou como “casos de censura” por parte do Supremo Tribunal Federal (STF):
“Meu nome é Julio Pohl, advogado da ADF International. (...) Agradeço a visita do relator sobre liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Pedro Vaca, para investigar a situação da liberdade de expressão no Brasil. Tive a oportunidade de expressar ao relator que os casos de censura no Brasil começaram em 2019, com a emissão da Portaria 69”, diz Pohl, referindo-se à Portaria GP n.º 69, de 14 de março de 2019. O documento instaurou o Inquérito nº 4781 no âmbito do STF, conhecido como “Inquérito das Fake News”, que investiga a disseminação de notícias falsas, ameaças e calúnias contra integrantes da Suprema Corte.
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