Caminhoneiros não foram afetados por “bloqueio de internet da Starlink”; empresa teve contas bloqueadas

  • Publicado em 12 de setembro de 2024 às 21:45
  • Atualizado em 13 de setembro de 2024 às 18:22
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Após suspender a rede social X no Brasil por falta de representante legal, o ministro do STF Alexandre de Moraes pediu o bloqueio das contas bancárias da empresa Starlink, também de Elon Musk, para garantir o pagamento de multas. Nesse contexto, usuários compartilham um vídeo de caminhões estacionados, alegando que suas operações foram paralisadas devido a um suposto "bloqueio de sinal de internet e GPS" da companhia. Mas a decisão da Corte bloqueou apenas ativos financeiros da Starlink. Diferentes órgãos de trânsito e uma das empresas de logística vistas no vídeo negaram paralisações.

“Caminhoneiros já estão sofrendo consequências do Bloqueio do X-Twitter e sinal de Internet da Starlink, ambos do Elon Musk (...) Da mesma forma, os sistemas de GPS de alguns caminhões via Starlink, já foram bloqueados e as seguradoras estão impedindo os caminhoneiros viajarem sem rastreamento. O caos já está começando no país”, diz a legenda que acompanha o vídeo visualizado mais de 100 mil vezes  no Instagram, no Facebook, no Threads, no Telegram, no Kwai, no TikTok e no X*, desde 2 de setembro.

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Captura de tela feita em 10 de setembro de uma publicação no Facebook (.)

Na sequência viral, um homem grava alguns caminhões estacionados e narra a cena alegando que, após o “careca brigar” com o bilionário Elon Musk, os caminhoneiros não estariam conseguindo emitir notas fiscais e, por isso, estavam parados. 

O conteúdo faz referência ao capítulo mais recente da queda de braço entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Musk, quando o magistrado determinou a suspensão do X, após a rede social do magnata descumprir medidas judiciais e não apresentar um representante legal no Brasil. 

O ministro também determinou o bloqueio de ativos financeiros da Starlink, empresa de internet via satélite de Musk, para o pagamento das multas aplicadas ao X, sob o entendimento de que as empresas fazem parte de um “grupo econômico de fato”

Mas uma consulta ao site do STF com o termo “Starlink” não identificou qualquer decisão sobre um bloqueio de serviços da empresa, como alegam os posts virais. 

Bloqueio financeiro, não do serviço

A decisão que embasou a suspensão da rede social e o bloqueio das contas bancárias da Starlink é a Petição 12.404, proferida em 30 de agosto por Moraes e referendada posteriormente pela Primeira Turma do STF. Uma consulta ao teor do texto mostrou que não é citada a suspensão no fornecimento de internet da empresa no país.

O que o texto afirma, como citado anteriormente, é que a Starlink e o X fazem parte de um “grupo econômico de fato” e que, por isso, fica determinada a “responsabilidade solidária” de ambas as empresas “para adimplemento das multas diárias decorrentes de desobediência às ordens judiciais”

De fato, em 30 de agosto, a CNN Brasil reportou que intermediários da Starlink afirmaram que o bloqueio das contas não afetaria o fornecimento de internet da empresa. 

Após a decisão do STF, Musk informou que a Starlink forneceria internet gratuita para os brasileiros até que a suspensão das contas fosse resolvida.

Sem registros de paralisações 

As peças de desinformação alegam que o suposto bloqueio do GPS e internet da Starlink afetou a emissão de notas fiscais e o rastreamento para os caminhoneiros, que, por isso, estavam paralisados. 

Em um frame da sequência, é possível ler a logomarca da empresa Tecpet em um dos caminhões. Em contato com a equipe do AFP Checamos, em 10 de setembro de 2024, o diretor da empresa, Ericson Biagi, afirmou que a Tecpet não utiliza nenhum serviço da Starlink e que desconhece “qualquer equipamento para caminhões” da empresa.   

Sobre o contexto em que a sequência foi gravada, Biagi apontou suspeitar “ser algum posto no qual o motorista parou para horário de almoço, descanso etc”. 

Também em contato com a AFP por e-mail, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que não foram registradas paralisações recentes de caminhoneiros em rodovias, “tampouco que tenham como motivação a rede citada”. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) afirmou não ter informações sobre o assunto.

Por fim, a Associação Brasileira de Caminhoneiros (ABCam), que representa cerca de 600 mil trabalhadores, informou que não houve registros de impedimentos de emissão de notas fiscais e rastreamento por supostos bloqueios de serviços da Starlink: “Consultando nossas bases localizadas em todo o território nacional, nada foi confirmado”

Esse conteúdo também foi checado por Aos Fatos, Agência Lupa, Estadão Verifica e Boatos.org.  

* As publicações do X foram acessadas por integrantes da AFP localizados fora do Brasil devido à suspensão da plataforma no país.

Referências 

Atualiza link da decisão referente à Petição 12.404
13 de setembro de 2024 Atualiza link da decisão referente à Petição 12.404

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