Chocolates brasileiros não passaram a conter "borracha"; vídeo mostra aviso de alergênicos
- Publicado em 23 de agosto de 2024 às 15:17
- 3 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“Comemos chocolate com borracha agora!”, diz uma das publicações compartilhadas com o vídeo no Facebook, no Instagram, no X, no TikTok e no Kwai.
O conteúdo também foi enviado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem encaminhar mensagens vistas em redes sociais, se duvidarem da sua veracidade.
No conteúdo viral, um homem filma prateleiras de um supermercado e afirma que “os chocolates brasileiros, muitos deles, já estão usando látex natural na sua composição”, o que significaria que a população brasileira estaria consumindo “borracha de origem da seringueira”.
Em seguida, ele analisa o rótulo de algumas barras de chocolate e caixas de bombons de diferentes fabricantes, destacando o trecho em que o látex natural, supostamente um dos ingredientes, é listado. Ao fim do vídeo, ele conclui: “A partir de agora, você está comendo borracha”.
Contudo, assim como é visível no rótulo exposto pelo autor do vídeo, a descrição do látex natural faz parte de uma indicação obrigatória para a prevenção de alergias.
Lista de alergênicos
Em várias das embalagens exibidas no vídeo, é possível ver que o látex natural, escrito em letras maiúsculas, está inserido em uma lista específica: a de alergênicos.
No rótulo do chocolate Talento, por exemplo — o primeiro a ser mostrado —, lê-se: “Alérgicos: contém castanha-de-caju, castanha-do-pará e derivados de leite e de soja. Pode conter amendoim, amêndoa, avelã, nozes, aveia, cevada, centeio, trigo e látex natural”. Portanto, a embalagem não informa que o látex faz parte dos ingredientes do produto, mas sim que pode estar contido nele.
Uma pesquisa por “Ministério da Saúde”, “látex natural” e “rótulo” levou a um documento sobre rotulagem de alimentos alergênicos, publicado em janeiro de 2016 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A publicação explica que o látex natural foi incluído na lista de principais alergênicos da Anvisa devido à Lei nº 12.849/2013, que obriga fabricantes de produtos que o contenham a advertir nas embalagens sobre a presença da substância.
Cecília Cury, doutora em Direito Constitucional e diretora-executiva do movimento Põe no Rótulo, afirmou à AFP em 16 de agosto de 2024 que a legislação teria sido “fruto de pedidos feitos por profissionais de saúde, incluindo a Asbai [Associação Brasileira de Alergia e Imunologia]”, e encontra respaldo nas diretrizes da Anvisa desde 2015.
A publicação da agência em 2016 detalha que a presença do látex pode ser rastreada a “materiais que entram em contato com o alimento”, como luvas, materiais de selagem de latas, adesivos para selagem, redes de embalagem e equipamentos de processamento.
Nos casos de “risco de presença involuntária, por algum contato em alguma etapa da produção”, como explicou Cury, a Anvisa determina que deve ser exposta a mesma indicação vista no vídeo viral, em negrito: “ALÉRGICOS: PODE CONTER LÁTEX NATURAL”.
Para Cury, o alerta exibido em destaque e de forma legível “é condição essencial para que seja garantida a segurança” na alimentação da população que convive com alergias.
O AFP Checamos já verificou outras peças de desinformação sobre rótulos de alimentos.
