Em áudio, Bolsonaro não acusa Flávio por “rachadinhas”, e sim reclama de investigações
- Publicado em 24 de julho de 2024 às 17:14
- 6 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“URGENTE: No fim do áudio abaixo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acusa Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de ser o grande responsável por um esquema de rachadinhas chamado de Furna da Onça, que ocorreu no Rio de Janeiro”, lê-se na legenda de uma das publicações compartilhadas no X. O conteúdo também circula no Instagram, no Facebook, no Kwai e no TikTok.
As publicações reproduzem o trecho de um áudio, em que inicialmente se ouve uma mulher falando da possibilidade de anular a operação Furna da Onça, que investigou casos de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Em seguida, se ouve Jair Bolsonaro falando: “O maior culpado na Furna da Onça etc. é o Flávio”.
A afirmação, no entanto, foi uma crítica à condução da operação que mirava o seu filho, quando ainda era deputado estadual no Rio, no suposto esquema de desvio de recursos públicos. Flávio atuou na Alerj por quatro legislaturas, entre 2003 e 2019.
Áudio divulgado pelo STF
Uma busca no Google por palavras-chave da fala do ex-presidente sobre a “culpa” de Flávio direcionou a matérias informando que, no último dia 15 de julho, o Supremo Tribunal Federal retirou o sigilo de uma gravação feita pelo então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, em agosto de 2020. A decisão ocorreu no âmbito de investigação que apura a formação de uma “organização criminosa” dentro da agência de inteligência para monitorar importantes figuras públicas durante o governo Bolsonaro (2018-2022).
No áudio, publicado no site do STF, ouve-se uma reunião entre o ex-presidente, as advogadas Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, que representavam Flávio Bolsonaro na época, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno e o hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Ao ouvir a gravação e analisar sua transcrição, também divulgada pelo STF, é possível conferir o contexto correto da fala viralizada nas redes.
Na conversa, as advogadas detalham a estratégia que pretendiam utilizar para desmontar a investigação das “rachadinhas” contra Flávio, que, segundo elas, estaria sendo instrumentalizada para perseguir o atual senador.
“Existe uma organização [na Receita Federal], que hoje eu entendo ser uma organização criminosa, que tem o objetivo de destruir desafetos e inimigos”, diz Bierrenbach. Ao longo da reunião, elas repetem não ter certeza nem provas dessas acusações, mas que, caso obtivessem a comprovação, seria possível anular a operação.
Após a explicação, Bolsonaro questiona se os demais deputados investigados estariam trabalhando para se defender, mas uma das advogadas assegura que mais ninguém estaria ciente das informações discutidas.
O ex-presidente, então, se queixa de como o filho estava sendo responsabilizado pelo esquema, enquanto o então presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), estaria “tranquilo”. A Furna da Onça havia identificado a movimentação de R$ 49 milhões por quatro servidores do gabinete de Ceciliano.
O trecho pode ser lido na transcrição abaixo, retirada do arquivo sonoro disponibilizado pelo STF:
“Juliana Bierrenbach: Então, com isso, a gente consegue anular a Furna da Onça de um modo geral.
Luciana Pires: É, mas a outra ação seria uma reclamação no Supremo quando foi julgado, quando foi julgado aquele recurso, no sentido de que poderia começar a investigação.
Jair Bolsonaro: [inaudível] julgados na Furna da Onça, os deputados estão trabalhando para se defender?
Luciana Pires: Não, não, ninguém, não. Ninguém tem noção disso aqui.
Jair Bolsonaro: O maior culpado da Furna da Onça etc. é o Flávio.
Juliana Bierrenbach: É verdade, é isso. Não só não é que ele é o maior culpado, ele é o único culpado.
Jair Bolsonaro: Os demais, então, tão tranquilos. Aquele de 49 milhões, ele representa a Alerj.”
Logo em seguida, Bierrenbach afirma não ter identificado indícios de que Flávio seria culpado pelo esquema de desvio de dinheiro. “Tudo que eu estudei, tudo que eu estudei do Flávio, dos imóveis do Flávio e tudo mais, a gente não tem, não tem nada. Aí eles reclamam que a gente não entra no mérito, mas a gente não tem que entrar no mérito agora, porque o processo é totalmente ilegal”, argumenta.
Após a viralização dos conteúdos enganosos, o senador Flávio Bolsonaro publicou, em 16 de julho de 2024, um vídeo em seu perfil no Instagram contextualizando a fala do pai. “O trecho que o Gabinete da Ousadia tira de contexto é uma frase irônica, feita pelo presidente Bolsonaro, para tentar entender por que apenas o nome Flávio Bolsonaro ganha as manchetes”, afirmou.
Este conteúdo também foi verificado pela Reuters e Aos Fatos.