Vídeo de 2023 mostra mulher queimando bandeira francesa no Marrocos, não na França

Um vídeo de uma manifestante pró-palestinos queimando uma bandeira francesa não mostra uma “imigrante muçulmana” na França em junho de 2024, ao contrário do que indicam publicações visualizadas milhares de vezes nas redes sociais desde 19 de junho. A sequência foi filmada em outubro de 2023 em frente ao consulado francês em Tânger, no Marrocos. Na ocasião, protestos condenavam a visita do presidente francês, Emmanuel Macron, a Israel, após o início da guerra entre as forças israelenses e o Hamas na Faixa de Gaza.

“Mulher muçulmana queima bandeira da França, mas… foi morar na França? Essa galera do amor não vem com o objetivo de integração, eles vêm com ódio daqueles que os recebem e que muitas vezes pagam a sua moradia e a sua comida. E vêm para colonizar também! Eles nem disfarçam mais”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram e no X.

Alegações similares circulam em espanhol, inglês e tailandês.

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Captura de tela feita em 27 de junho de 2024 de uma publicação no X (.)

Na sequência, em meio ao que parece ser um protesto pró-palestinos, uma mulher vestindo um hijab ateia fogo a um pedaço de papel com a bandeira da França impressa.

Contudo, o vídeo não mostra a ação de uma imigrante na França em 2024, mas uma demonstração ocorrida no Marrocos em outubro de 2023. 

Vídeo de 2023

Uma busca reversa por fragmentos da filmagem no Google levou a uma publicação de 25 de outubro de 2023 no canal da Tanja News TV, portal de notícias marroquino, no YouTube.

O vídeo, intitulado, em árabe, “Queimando a bandeira da França em frente ao seu consulado em Tânger”, mostra um grupo de pessoas entoando cantos e balançando bandeiras palestinas enquanto são cercados por policiais.

Na gravação publicada pela Tanja News TV, é possível identificar os mesmos elementos vistos na sequência viral, como a farda de um policial e um homem de jaqueta bege atrás da mulher que queima a bandeira francesa:

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Comparação feita em 27 de junho de 2024 entre capturas de tela de uma publicação no X (E) e o vídeo publicado no canal da Tanja News TV no YouTube (.)

O emblema visível na farda que aparece em primeiro plano na gravação também corresponde ao utilizado por policiais marroquinos, conforme é possível constatar por meio de fotografias registradas pela AFP (1, 2).

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Comparação de emblemas policiais feita em 27 de junho de 2024 entre a captura de tela de uma publicação no X (E) e uma fotografia da AFP (.)

Consulado francês em Tânger

A partir de uma busca por imagens do consulado francês em Tânger no Google Earth, é possível identificar elementos comuns aos da sequência publicada no YouTube, como o prédio amarelo e as árvores ao fundo:

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Comparação feita em 27 de junho de 2024 entre capturas de tela de um vídeo publicado no YouTube (E) e uma imagem do consulado francês em Tânger no Google Earth (.)

Uma pesquisa por palavras-chave da sequência, em árabe, conduziu a uma reportagem sobre a manifestação publicada pelo jornal marroquino Achkayen em 25 de outubro de 2023.

A matéria explica que “na noite de ontem, terça-feira, 24 de outubro, aqueles em solidariedade a Gaza levantaram slogans fortes contra o presidente francês Macron, criticando a sua visita a Tel Aviv, em um protesto na frente do consulado da França em Tânger”.

O artigo acrescenta que os manifestantes queimaram a bandeira francesa para protestar contra Macron, que visitou Israel no mesmo dia.

O presidente francês havia sido o mais recente de uma série de líderes ocidentais a demonstrar apoio à resposta de Israel ao grupo islamista palestino Hamas após os ataques de 7 de outubro, que resultaram na morte de 1.195 pessoas, a maioria civis, de acordo com um levantamento da AFP baseado em dados israelenses oficiais.

No ataque sem precedentes, integrantes do Hamas também capturaram 251 reféns, dos quais 116 permanecem em cativeiro na Faixa de Gaza, de acordo com Israel. O Exército israelense afirma que 42 destes estão mortos.

A ofensiva retaliatória de Israel já matou mais de 37 mil pessoas, a maioria também civis, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas em Gaza.

O AFP Checamos já verificou no passado outras alegações relacionadas ao conflito entre Israel e Hamas.

Referências

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