Manifestantes não fizeram deputados estaduais reféns em protesto na Alep

  • Publicado em 10 de junho de 2024 às 21:37
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Em 3 de junho de 2024, manifestantes invadiram a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) para protestar contra o programa “Parceiro da Escola”, que pretende privatizar a gestão de escolas públicas do estado. Desde então, publicações que somam mais de 10 mil interações nas redes sociais compartilham um vídeo do protesto com a alegação de que deputados estaduais que estavam presentes no prédio “foram feitos reféns” na ocasião. Mas a alegação não procede. À AFP, a Alep informou que o protesto provocou confrontos, mas negou que os manifestantes tenham mantido reféns.

“Movimentos terroristas, utilizando violência política, cercaram e fizeram reféns vários deputados paranaenses dentro do prédio legislativo. Os políticos permanecem retidos no local, enquanto forças de segurança tentam negociar a liberação dos reféns e restaurar a ordem”, diz uma das publicações que circulam no X, no Instagram, no Facebook, no TikTok e no Kwai.

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Captura de tela feita em 5 de junho de 2024 de uma publicação no X (.)

Na gravação que acompanha as publicações, é possível ver o momento em que manifestantes invadem um prédio e passam por seguranças que tentam conter a entrada.

O conteúdo circula em meio à greve de professores e servidores da rede pública do Paraná, contrários a um projeto do governo que pretende privatizar a gestão de 200 escolas públicas do estado e pelo pagamento da data-base dos educadores e servidores.

Em 27 de maio de 2024, o governo estadual do Paraná enviou à Assembleia Legislativa a proposta do Projeto de Lei 345/2024, conhecido como programa “Parceiro da Escola”, que pretende terceirizar a gestão de ao menos 200 escolas públicas do estado. 

O projeto foi aprovado em três turnos pelos deputados, em 4 de junho de 2024, e sancionado na mesma data pelo governador Ratinho Junior (PSD). De acordo com a Secretaria da Educação do Paraná, o programa será implementado a partir de 2025.

O movimento grevista no Paraná tem sido acompanhado da paralisação de profissionais da educação de institutos federais e universidades em outras regiões, que reivindicam reajuste salarial. Ao todo, 55 universidades seguem em greve no país.

Manifestação na Alep em junho de 2024

Uma busca reversa por fragmentos do registro viralizado levou a um vídeo publicado pelo UOL em 3 de junho de 2024. Na gravação, a partir de 40 segundos, é possível ver a mesma sequência que acompanha as publicações virais, que o portal diz ser uma reprodução das redes sociais.

De acordo com o UOL, as imagens registraram a Assembleia Legislativa do Paraná sendo invadida por manifestantes contrários ao projeto que seria votado no plenário da Casa.

Uma busca por palavras-chave no Google com os termos “protesto” e “Alep” levou a mais informações sobre o caso em outros portais de notícia (1, 2). As reportagens informam que o ato dos professores provocou tumultos e confrontos com os policiais, mas nenhuma delas menciona que os parlamentares teriam sido mantidos reféns na ocasião.

Matérias publicadas sobre o episódio no site da Alep tampouco mencionam o suposto crime cometido pelos manifestantes. Em uma delas, reportou-se uma “reintegração de posse” do prédio, após a Procuradoria-Geral do Poder Legislativo obter uma liminar para retirar professores e estudantes que ocuparam o interior do edifício durante os protestos.

Nesta data, os deputados estaduais discutiam a proposta enviada pelo governo do PL 345/2024, cuja votação, após a invasão dos manifestantes, precisou ser remarcada para uma sessão remota.

À AFP, a assessoria de imprensa da Alep confirmou que houve confrontos dos manifestantes com os policiais e prejuízos ao patrimônio público: “As imagens mostram a entrada das galerias da Casa, que já estavam ocupadas pelos manifestantes em sua totalidade, cerca de 300 pessoas. Nesta situação, manifestantes que estavam fora da Assembleia e invadiram a Casa quebrando o portão de entrada, tentaram invadir as galerias, que já estavam cheias”.

A Alep informou também que no momento da gravação os policiais e seguranças do Gabinete Militar da Casa tentavam impedir a entrada de mais pessoas.

A assessoria, no entanto, negou a alegação de que houve reféns na ocasião: “Os deputados estaduais não foram feitos de reféns”.

Procurado pelo AFP Checamos, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), responsável pela convocação do ato, assinalou que “a confusão aconteceu porque os manifestantes foram impedidos de entrar no prédio que é a Casa do Povo”, mas que “nenhum deputado foi impedido de entrar nem de sair do prédio”.

O AFP Checamos entrou em contato com a Polícia Militar do Paraná, que também participou do efetivo da segurança na ocasião, mas não obteve retorno até o momento.

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