Vídeo mostra exercícios de escola naval na Nigéria, não escravizados no Congo
- Publicado em 29 de maio de 2024 às 20:56
- 3 minutos de leitura
- Por Samad UTHMAN, AFP Nigéria, AFP Brasil
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“Estamos no século XXI, e ainda toleramos a escravidão moderna. Escravos no Congo, servindo aos interesses da mineração ocidental (estadunidense e Europa ocidenta)”, diz uma das publicações que circulam no Facebook e no X.
A sequência com a mesma alegação também circula em inglês em diferentes plataformas e países.
O vídeo que acompanha as postagens mostra um grande grupo de jovens com cabeças raspadas, amontoados em uma vala coberta de lama e sendo comandados pelo o que parecem ser instrutores militares, que vestem calças pretas e camisas azuis.
No texto sobreposto às imagens, lê-se, em inglês: “Isso é como aconteceu há 400 anos. Eles foram levados para a praia onde foram vendidos”. Nos comentários, muitos usuários parecem acreditar na alegação (1, 2).
Mas a afirmação de que o vídeo mostra um mercado de escravizados na RDC é falsa.
Exercícios militares
Uma busca reversa por fragmentos da gravação com a ferramenta InVid-WeVerify levou ao mesmo vídeo publicado no TikTok em 17 de junho de 2023. Na legenda da publicação, o usuário diz: “Esse sempre será um dia memorável”. A AFP tentou contato com o autor da publicação, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.
No entanto, também é possível identificar na publicação marcações de outras contas do TikTok, entre elas a do Instituto de Tecnologia em Transporte e Gestão (ITMT), uma escola militar com sede em Lagos, na Nigéria.
Procurada pela AFP, a diretora acadêmica da instituição, Cynthia Chidera Ahamefule, informou que a cena no vídeo mostra exercícios militares de uma turma de novos cadetes para 2023-2024.
“O vídeo é do nosso instituto e é um pouco surpreendente como muitas pessoas são ignorantes sobre essas coisas. Isso é um exercício chamado ‘batismo’, para os novos cadetes que acabaram de ser admitidos na escola”, disse Ahamefule à AFP.
Ela acrescentou que o ritual anual faz parte da introdução dos novos recrutas ao “mundo militar”.
Ahamefule também enviou vídeos e fotos da última solenidade de recepção aos recém-chegados, que participaram do mesmo ritual em 24 de maio de 2024.
As imagens mostram os recrutas usando camisas e shorts brancos antes da cerimônia e, assim como no vídeo viral, cobertos de lama ao final do evento.
Os instrutores também utilizam os mesmos uniformes azuis e pretos vistos nas publicações virais.
Contexto no Congo
A República Democrática do Congo possui algumas das maiores reservas de metais preciosos da África, entre eles o cobalto, cobre, ouro, lítio, tântalo, estanho e titânio.
Porém, a indústria de minério do país enfrenta muitos desafios, que incluem conflitos, riscos de segurança, problemas de infraestrutura, instabilidade política e no preço das matérias-primas.
O comércio de minerais tem incentivado a continuação de conflitos que já duram décadas, uma vez que grupos armados controlam locais de mineração.
A mineração também foi associada a abusos de direitos humanos, como despejos forçados e escravização ou trabalho forçado nas minas.