Protesto na Hungria não tem relação com estadia de Bolsonaro em embaixada do país em Brasília
- Publicado em 2 de abril de 2024 às 23:07
- 4 minutos de leitura
- Por AFP Brasil
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“Depois do The New York Times vazar imagens do Bolsonaro se escondendo na embaixada da Hungria, manifestantes pedem demissão do primeiro-ministro. O mundo odeia Bolsonaro”, lê-se no texto que acompanha o vídeo no X, no Facebook, no Instagram e no Kwai.
A gravação viral mostra milhares de pessoas gritando palavras de ordem em húngaro com tochas e bandeiras do país, enquanto um homem fala ao microfone em cima de um palco.
A sequência começou a circular após reportagem do jornal The New York Times revelar, em 25 de março de 2024, imagens de um vídeo de vigilância que mostram Bolsonaro na embaixada da Hungria em Brasília entre 12 e 14 de fevereiro de 2024.
Segundo o diário norte-americano, a estadia do ex-presidente na embaixada sugere que Bolsonaro tentava “fugir do sistema judiciário brasileiro”, uma vez que quatro dias antes seu passaporte havia sido apreendido pela Polícia Federal em uma operação que investiga uma suposta tentativa de golpe de estado.
Após a publicação da reportagem, o embaixador húngaro, Miklos Temás Halmai, foi convocado para prestar esclarecimentos sobre a estadia à secretária de Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores, Maria Luísa Escorel. O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes deu 48 horas para a defesa do ex-mandatário explicar o caso, que retornou apontando ser “ilógica” a hipótese de fuga do país.
Contudo, as publicações virais enganam ao relacionar esse episódio a um protesto na Hungria.
Escândalo de corrupção
Uma busca no Google com as palavras-chave “protestos” e “Hungria” levou à mesma sequência, publicada em 27 de março de 2024 pelo veículo UOL no YouTube com o título “Protesto na Hungria: Escândalos levam milhares a pedir renúncia de Orbán, que deu abrigo a Bolsonaro”.
Na descrição do vídeo, é informado que o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, enfrentou uma manifestação pedindo a sua renúncia após escândalo de corrupção e interferência no judiciário.
O UOL credita as imagens a uma publicação feita pelo meio de comunicação do leste europeu NextaTV, no X. Uma busca neste perfil levou à postagem original, com a informação de que o protesto aconteceu após Peter Magyar, um ex-funcionário do governo húngaro, divulgar uma gravação de áudio denunciando um suposto caso de corrupção.
People took to the streets of Budapest demanding Orban's resignation
— NEXTA (@nexta_tv) March 27, 2024
Thousands of people protested outside #Hungary's parliament in #Budapest, demanding the resignation of chief prosecutor and Prime Minister Viktor Orban after a former government official accused a top Orban… pic.twitter.com/M0A5OiA4qQ
A AFP também informou sobre a manifestação, que aconteceu em 26 de março.
Convocação de Magyar
Uma busca no perfil de Magyar no Facebook permitiu identificar a postagem em que ele divulga a gravação de áudio denunciando o suposto caso de corrupção. Também foi possível encontrar outras publicações em que ele convoca seus apoiadores para a manifestação de 26 de março (1, 2).
Em uma mensagem desse dia, por exemplo, ele escreve que se exigirá “uma investigação sobre o maior escândalo político e de corrupção das últimas décadas, a demissão do governo e do Procurador-Geral” e pede que as pessoas levem bandeiras da Hungria e tochas, cenário similar ao que se vê no vídeo viral.
O protesto também foi noticiado pela imprensa húngara, com imagens que repetem o cenário visto no vídeo viral (1, 2). Em nenhuma dessas notícias ou em postagens de Magyar é citada a estadia de Bolsonaro na embaixada húngara em Brasília como motivação para a manifestação.
Outra alegação sobre Bolsonaro na embaixada húngara foi verificada pelo AFP Checamos.
Esse conteúdo também foi checado por Aos Fatos.
Referências
- Vídeo do UOL publicado em 26 de março de 2024
- Publicação original do NextaTV
- Postagem de Péter Magyar sobre o áudio
- Notícias internacionais sobre o protesto (1, 2)
Convocação de Péter Magyar para a manifestação (1, 2, 3)