Lula não indicou esposa de Marcola para Segurança Pública

  • Publicado em 12 de março de 2024 às 16:46
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
É falso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha indicado a esposa de Marcola, apontado como líder da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), para o cargo de ministra da Segurança Pública, como sugerem publicações com mais de 2 milhões de visualizações nas redes sociais. As mensagens, que voltaram a circular em 2024, distorcem o trecho de um programa da Jovem Pan de 2022. Não há registros dessa nomeação e a Secretaria de Comunicação da Presidência informou que o governo não irá fazê-la nem tampouco “irá dividir o Ministério da Justiça e Segurança Pública”.

“ESPOSA DE LÍDER DO PCC É A FUTURA MINISTRA DA SEGURANÇA PÚBLICA”, diz a legenda de publicações no Facebook.

A alegação é compartilhada junto a um vídeo, de 40 segundos de duração, onde se vê o logotipo do programa 4 por 4, da Jovem Pan, enquanto o jornalista Luís Ernesto Lacombe diz: “Da Segurança Pública de Lula, que ele já prometeu que também pretende criar essa pasta. São 13 pastas que ele pretende criar, além das que já existem. Ele acaba de assumir, o Toron, a defesa de Cynthia Herbas, mulher de Willians Camacho, o Marcola, chefe do PCC… Tá bom, Ana? Alguém que defende uma pessoa, de certa forma ligada ao PCC, não deixa de ser, já que o marido é o chefe do PCC, como ministro da segurança pública? Show, hein”.

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Captura de tela feita em 6 de março de 2024 de uma publicação no TikTok (.)

O conteúdo já havia circulado no Telegram, no TikTok e no Kwai em 2022, durante o governo de transição implementado após a vitória de Lula nas eleições presidenciais.

Em 2024, o vídeo voltou a ser compartilhado em meio a mudanças no Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), que passou a ser comandado por Ricardo Lewandowski. Ele substitui Flávio Dino, que assumiu uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF).

Mas, em nenhum momento do trecho viral, é dito que Cynthia Herbas teria sido indicada para assumir o “Ministério da Segurança Pública”.

Vídeo de 2022

Uma pesquisa por palavras-chave no canal do programa 4 por 4 no YouTube mostrou que a fala de Lacombe foi retirada do programa que foi ao ar em 6 de novembro de 2022. 

A partir de 1 hora, 18 minutos e 34 segundos da transmissão, o jornalista comenta sobre um  texto que havia sido publicado naquele dia pelo colunista Lauro Jardim:  “O Globo, [...] Lauro Jardim, é de hoje: ‘Advogado que sonha ser ministro de Lula assume defesa de mulher de Marcola, do PCC’”

O texto citado afirma que o advogado criminalista Alberto Toron, “que ambiciona ser ministro da Segurança Pública de Lula (se a pasta for mesmo criada)”, tinha assumido a defesa de Cynthia Herbas.

Era, portanto, a Toron que Lacombe se referia quando afirmou, no trecho viral, que “alguém que defende uma pessoa de certa forma ligada ao PCC” poderia ser ministro da Segurança Pública. 

A coluna tampouco diz que Herbas teria sido indicada ao cargo.

A eventual indicação de Toron nunca foi concretizada e, embora no passado Lula tenha dito que avaliava a criação de uma pasta focada exclusivamente na segurança pública, não há notícias recentes sobre o tema.

Sem indicação

Uma pesquisa geral por “Cynthia Herbas” no Diário Oficial da União (DOU) não levou a nenhum resultado sobre sua suposta nomeação a um cargo público. Uma pesquisa avançada, filtrando por “Ministério da Justiça e Segurança Pública” e “Seção 2”, que indica as nomeações feitas pelo Executivo, tampouco mostrou que ela tenha sido nomeada como ministra da pasta. 

A título de exemplo, quando o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski foi escolhido pelo presidente Lula para assumir o MJSP, sua nomeação foi publicada na Seção 2 da edição extra do DOU de 22 de janeiro de 2024. 

Em 24 de março de 2023, a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República publicou uma nota desmentindo que o governo federal iria indicar a esposa do traficante como ministra de uma eventual pasta da Segurança Pública. 

Procurada pela AFP, a Secom classificou, em 7 de março de 2024, o conteúdo compartilhado nas redes sociais como “falso” e afirmou que “o governo federal não irá dividir o Ministério da Justiça e Segurança Pública, como também não irá nomear a cidadã citada pela reportagem”.

“A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República lamenta a divulgação de desinformação”, completou. 

Referências

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