MP não determinou que Ponto venda produtos com desconto por “piada no Carnaval”

  • Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 14:47
  • 4 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
A rede de comércio varejista Ponto, do Grupo Casas Bahia, não terá que prestar “uma indenização coletiva” e vender produtos a preço de custo, ao contrário do que alegam  publicações com milhares de interações nas redes sociais desde 14 de janeiro de 2024. As mensagens são embasadas em uma suposta matéria da Folha de S.Paulo sobre uma decisão tomada pelo Ministério Público após a empresa fazer uma “piada de mau gosto sobre o Carnaval”. Mas todos os elementos que compõem a história são falsos e as publicações têm indícios de golpe.

“Ponto Frio faz piada de mau gosto sobre o carnaval e é punida tendo que vender fogão e cervejeira por menos de R$ 200. Após a empresa realizar uma postagem no Facebook que gerou polêmica, ministério público interviu e obrigou a empresa a prestar uma ‘indenização coletiva’”, diz uma das publicações que circulam no Facebook e no X.

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Captura de tela feita em 20 de fevereiro de 2024 de uma publicação no Facebook (.)

Algumas publicações compartilham um link para uma suposta matéria da Folha de S.Paulo sobre o tema. Ao clicar no conteúdo, o usuário é direcionado para um site com os mesmos elementos visuais do jornal e a manchete: “Ponto Frio faz piada de mau gosto sobre o carnaval e é punida tendo que vender fogão e mais 2 produtos por menos de R$ 300”

O texto é acompanhado por uma captura de tela da suposta “piada de mau gosto” feita pelo Ponto nas redes sociais: “Para os homens no carnaval, temos cervejeira em promoção! Já para as mulheres que vão ficar em casa, temos uma promoção imperdível de fogão 4 bocas”

A suposta reportagem também apresenta um “comunicado oficial”, no qual a empresa diz estar cumprindo as determinações do Ministério Público, como a venda dos produtos com desconto e a remoção do conteúdo de suas plataformas. 

Para conferir os produtos em promoção, o leitor é indicado a clicar em um botão que diz “Acessar o site oficial agora” e é levado a uma página que simula o portal do Ponto. Os produtos que estariam disponíveis são: um fogão quatro bocas, uma Airfryer e uma cervejeira, todos por R$ 179,90.

Mas os elementos que compõem as publicações são falsos: a empresa não realizou a postagem de cunho machista em suas redes sociais e, portanto, não houve determinação do Ministério Público, nem matéria jornalística sobre o tema.

Páginas e conteúdos falsos

Uma busca em perfis oficiais do Ponto no Facebook, no Instagram e no X não localizou qualquer publicação com o teor citado nas redes. O mesmo ocorreu ao procurar registros do conteúdo no Wayback Machine, plataforma que permite arquivar e consultar páginas removidas da internet. 

A captura de tela da suposta postagem da empresa apresenta elementos visuais do Facebook, mas há indícios de que se trata de uma montagem. 

A foto de perfil exibida não é a mesma utilizada pela conta oficial do Ponto na rede social, por exemplo. Além disso, a postagem não contém o selo de verificação que a conta da empresa possui, nem uma marca d’água de direitos autorais presentes em publicações da marca nas redes sociais.

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Comparação feita em 21 de fevereiro de 2024 entre a publicação viral (E) e uma postagem do perfil oficial do Ponto no Facebook (.)

Uma pesquisa por palavras-chave no site da Folha de S.Paulo tampouco levou a uma matéria publicada sobre o tema. 

Também foi realizada uma busca filtrando pela data de 1º de fevereiro de 2024, quando o conteúdo teria sido publicado, e pelo nome da repórter, Júlia Moura, que teria assinado a matéria. A pesquisa não retornou resultados compatíveis. 

Por fim, uma análise do material permitiu identificar inconsistências com conteúdos publicados pela Folha de S.Paulo. 

Primeiro, o domínio utilizado no link que acompanha as publicações virais (“sp-folha.com”) é diferente do oficial da Folha (folha.uol.com.br). Além disso, o portal não conta com peças de publicidade e uma barra de navegação superior, há erros de concordância no texto e o material se refere à rede do comércio varejista pelo nome antigo, “Ponto Frio”. A empresa mudou de nome em 2021, quando passou a se chamar Ponto.

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Comparação feita em 20 de fevereiro de 2024 entre capturas de tela do conteúdo viral (E) e uma matéria original da Folha de S.Paulo (.)

À AFP, o Ponto disse que a alegação acerca da suposta publicação e posterior punição “é falsa”

Uma busca por palavras-chave no site do Ministério Público Federal também não levou a nenhuma informação sobre a suposta determinação contra a empresa.

No último dia 15 de fevereiro, a Folha de S.Paulo denunciou a ação de criminosos que têm clonado seu site para aplicar golpes. De acordo com um levantamento da empresa de cibersegurança Kaspersky, feito a pedido do jornal, ao menos 13 sites falsos que simulam publicações da Folha circulam em redes sociais como Facebook, Instagram e Messenger. A matéria menciona o caso do Ponto como exemplo. 

Conteúdo semelhante foi checado pelo Boatos.org.

Referências

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