Ilustração em que Lula é retratado como um macaco não foi publicada pelo The New York Times

  • Publicado em 22 de fevereiro de 2024 às 15:41
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparando a atuação de Israel em Gaza ao Holocausto provocou fortes reações nas redes sociais e abalou a relação do Brasil com o governo israelense em fevereiro de 2024. Neste contexto, uma charge em que Lula é retratado como um macaco, balbuciando sobre Gaza e o Holocausto, foi compartilhada mais de 3,7 mil vezes nas redes sociais com a alegação de que teria sido publicada pelo jornal norte-americano The New York Times. Mas isso é falso: a ilustração foi feita por um usuário do Instagram e não tem relação com o veículo. 

“LULA é comparado a um MACACO FALANTE pelo ‘The New York Times’, o mais famoso Jornal do Mundo. Lula passa vergonha e faz o Brasil passar vergonha”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no Instagram, no X e no Telegram.

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Captura de tela feita em 21 de fevereiro de 2024 de uma publicação no X (.)

O conteúdo começou a circular após uma declaração polêmica de Lula sobre a guerra entre Israel e Hamas, desencadeada em 7 de outubro de 2023, quando o grupo islamista palestino lançou um ataque sem precedentes contra Israel, deixando mais de 1.160 mortos e sequestrando 250 pessoas. Em represália, Israel lançou uma ofensiva que deixou mais de 29 mil mortos em Gaza. 

Durante uma entrevista concedida pelo presidente enquanto participava da 37ª Cúpula da União Africana, em Adis Abeba, na Etiópia, em 18 de fevereiro de 2024, Lula disse que o conflito não era uma “guerra”, mas um “genocídio”: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando Hitler resolveu matar os judeus”

As falas do mandatário suscitaram uma crise diplomática com Israel, além de intensas e divergentes reações nas redes sociais. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, escreveu em sua conta no X que as declarações de Lula eram “sérias e vergonhosas”, e que ele havia cruzado “uma linha vermelha”. Além disso, Netanyahu divulgou ter ordenado a convocação do embaixador do Brasil em Israel para uma “dura reprimenda”.

As publicações, por sua vez, compartilham uma ilustração de um macaco gritando no galho de uma árvore enquanto usa uma faixa com o nome de Lula. Em um balão de diálogo ao lado destacam-se, em meio a onomatopeias, as palavras “Gaza” e “Holocausto”, em inglês. 

Na parte de cima, à esquerda, nota-se uma assinatura e o ícone do Instagram junto ao nome de usuário “@j.majburd”. Já no canto superior direito, um recorte de uma manchete do jornal norte-americano The New York Times diz, em inglês: “Presidente do Brasil enfurece Israel após comparar guerra em Gaza ao Holocausto”.

Contudo, a charge viralizada não é de autoria do The New York Times, mas de um usuário independente no Instagram. 

Charge de Lula

Uma pesquisa no Instagram pelo nome de usuário exibido nas imagens levou ao perfil de Jonathan Majburd, que se descreve como um militante da causa de Israel “lutando contra o radicalismo islâmico e o antissemitismo”. Na descrição, ele também estabelece que “todos os direitos são reservados a J. Majburd”.

Uma busca no perfil levou à publicação, feita em 19 de fevereiro de 2024, da charge crítica à fala de Lula, com a legenda, em inglês, “O discurso do macaco”

Na conta de Majburd no Instagram também é possível encontrar uma série de ilustrações baseadas em matérias de diferentes veículos jornalísticos (1, 2, 3).

Uma nova pesquisa, dessa vez pelas palavras-chave contidas na manchete exibida na publicação, levou à reportagem publicada em 18 de fevereiro de 2024 pelo The New York Times, ilustrada apenas por uma fotografia de Lula feita por Ricardo Stuckert, recebida através do serviço de imagens da AFP. 

A mesma pesquisa não encontrou qualquer registro de que o jornal tenha publicado a charge de Majburd.

Uma busca pelas palavras-chave “New York Times” e “Jonathan Majburd” não obteve nenhum resultado que indicasse um vínculo do ilustrador com o jornal.

Esse conteúdo também foi checado por Aos Fatos.

Referências

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