São falsos os anúncios de venda de malas perdidas em aeroportos do Brasil e de Portugal
- Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 17:19
- 5 minutos de leitura
- Por Manuela SILVA, AFP Uruguai, AFP Brasil
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“Bagagem extraviada por apenas 10BRL Precisamos descartar rapidamente a bagagem perdida de nossos clientes, pois não conseguimos localizar o proprietário e nosso estoque está cheio! Celulares, laptops, joias valiosas e muitas outras coisas legais podem ser encontradas em malas. Somente on-line”, diz a legenda de uma publicação no Facebook de uma página que se apresenta como sendo do Aeroporto de Brasília.
Publicações semelhantes também circulam relacionadas a aeroportos de Portugal. “O aeroporto descarrega o seu stock e vende bagagem perdida por 2 euros! Todas as malas estão recheadas com vários artigos e eletrónica quase nova. Entrega em todo o país”, afirma a publicação de uma página chamada “Aeroporto de Lisboa Portugal”.
Anúncios do tipo são compartilhados, ainda, em espanhol, italiano e alemão.
Imagens adulteradas
Por meio de buscas reversas, a AFP localizou as imagens que ilustram os anúncios em publicações antigas relacionadas a outros aeroportos.
A foto que supostamente seria do aeroporto de Brasília, por exemplo, foi encontrada em uma publicação de julho de 2022 no X relacionada ao aeroporto de Heathrow, no Reino Unido. A foto original, porém, não apresenta a placa vista na imagem viral, onde se lê “Bagagem perdida 10 BRL”.
Outras imagens, usadas em anúncios associados a aeroportos de Portugal, foram encontradas em publicações de 2019 ligadas a aeroportos russos (1, 2). As fotos originais tampouco apresentam a placa indicando o valor das malas.
A AFP não conseguiu localizar a origem da imagem usada pela página “Aeroporto de Lisboa Portugal”, mas a mesma foto foi publicada por outras páginas que anunciam venda de malas relacionadas a aeroportos da Áustria, da Nova Zelândia, do Japão e da Bélgica, com placas de preço editadas nos idiomas e nas moedas de cada país.
Perfis e comentários falsos
As redes sociais oficiais dos aeroportos de Brasília e Lisboa estão listadas em seus sites (1, 2) e são diferentes das páginas no Facebook que divulgam a venda de bagagens.
Além disso, é possível observar que em publicações antigas essas páginas compartilhavam outros tipos de conteúdos, relacionados à saúde e até à venda de portas para animais domésticos (1, 2).
A AFP também identificou outras evidências nas informações de transparência das páginas (1, 2). O falso perfil do Aeroporto de Brasília já teve o nome “Vihda+”. Já os administradores da página Aeroporto de Lisboa acessam a conta do Vietnã e das Filipinas.
Outro ponto que coloca a veracidade das publicações em dúvida são os comentários. A AFP identificou um padrão: várias contas criadas recentemente compartilharam as mesmas imagens de bagagens abertas agradecendo o suposto serviço, como se pode ver nos exemplos abaixo:
Procurada, a assessoria de imprensa do Aeroporto Internacional de Brasília informou que não realiza esse tipo de serviço e que a página é “fake”. “Nós realizamos a denúncia do perfil e fizemos alertas nas nossas redes sociais sobre o golpe”, reiterou.
Já o Aeroporto de Lisboa exibe um aviso na página inicial de seu site alertando sobre a fraude. “Encontra-se em circulação uma página fraudulenta no Facebook/Instagram/META com uma publicação falsa em nome da ANA - Aeroportos de Portugal, SA / Aeroporto de Lisboa que promove a venda de bagagens perdidas”, diz a mensagem.
“A ANA está a fazer todos os esforços para que a página fraudulenta seja eliminada, bem como as referidas publicações, para que os responsáveis sejam identificados e legalmente responsabilizados por este ato ilícito”, completa.
Uma fraude em ascensão
Depois de analisar algumas publicações, o mexicano Carlos Ramírez Castañeda, especialista em segurança cibernética e tecnologia da informação, disse à AFP que se tratam de “técnicas de engenharia social que criminosos e cibercriminosos utilizam para obter diversas coisas, incluindo informações ou dinheiro” através de um link.
O especialista explicou que esses anúncios “costumam ser atrativos desde o primeiro momento (…) e as pessoas, cegas por esta suposta oferta, acessam imediatamente as URLs”, o que pode levar ao “roubo de informação, a pequenas cobranças ou microfurtos. É mais simples roubar pequenas quantias do que grandes quantias de uma só vez”, afirmou.
Ao analisar todos os links que acompanham as publicações, a AFP confirmou que elas levam o usuário a portais de compra.
Ramírez garantiu que golpes desse tipo “já estão em alta há alguns meses e, de fato, estão crescendo (...) aproveitando a ignorância ou algo que pode ser considerado muito atraente, como uma oferta, que é onde começa o ‘gatilho’".
“Como sempre e em muitos outros crimes, devemos primeiro verificar a URL e quando algo na internet parece muito atraente, devemos duvidar”, concluiu o especialista.
Referências
- Foto das malas publicadas no X em 2022
- Imagens de bagagens publicadas em 2019 por sites russos (1, 2)
- Aviso no site do Aeroporto de Lisboa
