Vídeo de extração de madeira com fila de caminhões na Amazônia circula desde 2018

  • Publicado em 21 de fevereiro de 2024 às 19:53
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Um vídeo que mostra caminhões com toras de madeira “na região de Cachoeira do Aruã”, no Pará, e carregados de “ipês” não foi feito durante o atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao contrário do que afirmam publicações com mais de 75 mil interações desde 15 de fevereiro de 2024. A gravação circula, pelo menos, desde 2018.

“Governo Lula e Marina Silva ‘cuidando da Amazônia’”, diz a legenda de publicações no Facebook, no Instagram, no TikTok, no Kwai e no X.

A gravação, de pouco mais de dois minutos, exibe uma fila de caminhões carregando toras de madeira enquanto uma pessoa diz: “A filmagem aqui para mostrar a extração de madeira aqui na região de Cachoeira do Aruã. Esses são os caminhões todos carregados (...). Só no ipê ‘brabo’. Diamante da Amazônia”.

Image
Captura de tela feita em 16 de fevereiro de 2024 de uma publicação no X (.)

Uma pesquisa no Google pela frase “extração de madeira na Cachoeira do Aruã”, citada na gravação viral, exibiu um vídeo publicado em 31 de dezembro de 2018 no YouTube sob o título “Santarém: Extração de madeira criminosa em Cachoeira do Aruã”. A publicação, no entanto, não traz informações sobre quando o registro foi feito. 

Cachoeira do Aruã é uma comunidade ribeirinha localizada na região do rio Arapiuns, no Pará, a 100 quilômetros do município de Santarém.

Uma pesquisa semelhante no Facebook trouxe como resultado um vídeo publicado em 22 de dezembro de 2018 com a legenda “Extração de madeira na região de Cachoeira do Aruã”. À época, o presidente do Brasil era Michel Temer (MDB)

Uma outra pesquisa pelas palavras-chave “extração de madeira”, “ipê” e “Amazônia”, filtrando pelos anos de 2010 a 2019, não trouxe resultados.

Uma busca no site do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) também não exibiu registros de uma operação com imagens ou informações semelhantes às do conteúdo viral. 

A AFP consultou o Ibama sobre a gravação viral e, em 21 de fevereiro de 2024, o instituto enviou ao Checamos um vídeo publicado no YouTube em 7 de junho de 2019 sob o título “Crime ambiental no Baixo Amazonas”, que traz as mesmas imagens do conteúdo que voltou a circular em 2024. 

O Ibama informou que a gravação viral é antiga, “excluindo a possibilidade de terem sido registradas durante o terceiro mandato” de Lula, e acrescentou que no mesmo ano “chegou a realizar planos de manejo [documento que estabelece normas, restrições para o uso, ações a serem desenvolvidas e manejo dos recursos naturais de uma Unidade de Conservação] no local mencionado”.

O instituto ainda disse “que a localização exata da origem da madeira não pode ser confirmada apenas pelas imagens do vídeo ou pelo suposto local de gravação”.

Desmatamento na Amazônia

Uma outra pesquisa pelos termos “extração”, “Amazônia” e “Aruã” exibiu uma reportagem publicada em 8 de junho de 2019 pelo site Correio da Amazônia sobre a extração ilegal de ipê no Pará. 

A matéria reproduz a sequência de caminhões com toras de madeira e informa que a gravação teria sido feita por um agricultor. Ainda de acordo com o texto, o desmatamento ilegal estaria sendo feito por madeireiros em conivência com órgãos de fiscalização. À época em que o artigo foi publicado, o presidente do Brasil era Jair Bolsonaro (PL).

Em 16 de fevereiro de 2024, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) afirmou em nota que os conteúdos compartilhados nas redes sociais trazem “imagens antigas” e são “peças de desinformação”.

Em 9 novembro de 2023, já sob o governo Lula, o sistema Prodes, que realiza o monitoramento por satélites do desmatamento por corte raso na Amazônia Legal, informou que, após quatro anos seguidos com taxas superiores a 10 mil km2, o desflorestamento do bioma caiu para uma taxa estimada de 9.001 km2.

Este conteúdo também foi verificado por Aos Fatos e Agência Lupa.

Referências

Há alguma informação que você gostaria que o serviço de checagem da AFP no Brasil verificasse?

Entre em contato conosco