Vídeo não mostra a embaixada da França sendo queimada na República Democrática do Congo
- Publicado em 16 de fevereiro de 2024 às 19:53
- 4 minutos de leitura
- Por Erin FLANAGAN, AFP Àfrica, AFP Brasil
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“Embaixada da França é incendiada no Congo. É a luta contra imperialista renascendo no continente africano”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook, no X e no Telegram.
A alegação também circula em inglês.
Em 12 de fevereiro de 2024, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) disse que a “escalada de violência” no leste da RDC era preocupante, reprovando a ofensiva lançada no início de fevereiro por rebeldes do grupo M23 perto da cidade de Goma.
A RDC, a ONU e países do Ocidente afirmam que a Ruanda — país vizinho — está apoiando os rebeldes em uma tentativa de controlar inúmeros recursos minerais. O governo ruandês, por sua parte, nega as alegações.
Em 11 de fevereiro de 2024, prédios de embaixadas e veículos das Nações Unidas em Kinshasa foram alvo de manifestantes que acusavam potências ocidentais de apoiar os rebeldes.
As publicações com a alegação de que a embaixada francesa foi queimada compartilham um vídeo de 29 segundos em que um grupo de pessoas protesta do lado de fora de um grande muro de concreto com os dizeres, em francês, “Embaixada da França”. Alguns manifestantes atiram garrafas de plástico em direção ao muro enquanto pilhas de pneus são queimadas na calçada. Nenhum outro foco de incêndio é visto na gravação.
Sobreposto ao vídeo, um texto diz, em francês, “confusão na embaixada da França devido à guerra em Goma, primeira parte”.
Mas apesar da concentração de manifestantes na frente da embaixada da França, o prédio não foi queimado.
Embaixada francesa em Kinshasa
Uma busca pelas palavras-chave, em inglês, “embaixada da França RD Congo”, levou à localização exata do local visto nas filmagens.
Alguns elementos presentes no vídeo viral, como o muro de concreto com as inscrições da embaixada e o prédio visível ao fundo, podem ser identificados em uma foto disponível no Google Maps, feita em 2017, comprovando se tratar do mesmo lugar.
Embora a entrada da embaixada fosse marrom em 2017, outra fotografia do Google Maps, de 2022, mostra o seu estado atual, pintada de branco com arame farpado no topo. O muro com as inscrições do local está apenas parcialmente visível na imagem de 2022.
Um jornalista da AFP baseado em Kinshasa confirmou que manifestantes se reuniram em frente à embaixada, mas que ela não sofreu danos.
“Ela não foi incendiada, mas houve um pequeno protesto na frente da embaixada na sexta-feira, e alguns pneus foram queimados.”
A AFP entrou em contato com a embaixada francesa, que confirmou a informação. “A embaixada não foi incendiada, ela estava fechada e ninguém estava lá”, disse um representante à AFP.
O repórter da AFP em Kinshasa também confirmou que houve protestos similares em frente a outras embaixadas ocidentais, e que alguns carros da ONU foram incendiados, mas os incidentes ainda assim foram “limitados”.
A embaixada dos Estados Unidos em Kinshasa publicou um alerta de segurança, dizendo que “nesta última semana, ocorreram protestos em embaixadas estrangeiras, escritórios de organizações internacionais e estabelecimentos de proprietários estrangeiros”.
Em 12 de fevereiro, o governo congolês anunciou reforços na segurança das embaixadas, além da intensificação do policiamento em vários locais da capital.