Vídeo de militares fora do Capitólio dos EUA é de 2021 e não indica aplicação da lei marcial
- Publicado em 7 de fevereiro de 2024 às 19:18
- 5 minutos de leitura
- Por Roxana ROMERO, AFP Estados Unidos, AFP Brasil
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“LEI MARCIAL na Casa Branca em Washington”, diz a legenda de publicações no Facebook, no Telegram e no X.
O conteúdo circula em meio ao confronto entre a administração Biden e o governador republicano do Texas, Greg Abbott, sobre as diferenças no tratamento da migração irregular na fronteira.
Abbott começou a colocar arame farpado na fronteira do Texas em maio de 2023, antes de expirar a política sanitária conhecida como Título 42, que durante dois anos bloqueou a entrada de migrantes sob o argumento da pandemia de covid-19 para evitar a propagação do vírus.
Após uma disputa nos tribunais, em 22 de janeiro de 2024, a Suprema Corte norte-americana proferiu uma decisão favorável ao governo Biden e permitiu que agentes da Patrulha de Fronteira cortassem, ou removessem, o arame farpado na fronteira com o México para dissuadir os migrantes.
Mas, apesar do parecer, o estado continuou fortalecendo as margens do Rio Grande, impedindo o acesso de agentes federais a alguns setores.
“O arame farpado do Texas é um impedimento eficaz contra as travessias ilegais da fronteira incentivadas pelas políticas de abertura de fronteiras de Biden. Continuamos instalando este arame farpado para impedir a imigração ilegal”, escreveu Abbott em seu perfil no X em 24 de janeiro de 2024.
A lei marcial, mencionada nas publicações, concede poderes extraordinários às Forças Armadas em virtude de circunstâncias “urgentes” e, eventualmente, implica na suspensão de alguns direitos civis.
Uma pesquisa no Google pela frase “Washington Martial Law”, limitada ao último mês, não mostrou notícias que confirmassem que isso teria acontecido até o momento.
Vídeo antigo
Uma busca reversa no Google por trechos da sequência levou a uma publicação no X, feita em 19 de janeiro de 2021, que mostra a mesma sequência de imagens vista no conteúdo viral compartilhado em 2024.
A pesquisa também levou a um vídeo publicado no canal do veículo norte-americano MSNBC no YouTube, em 14 de janeiro de 2021, que traz imagens semelhantes às da sequência viralizada com militares em frente ao Capitólio.
“Há mais tropas dos EUA em Washington do que no Afeganistão e no Iraque, além de novas ameaças de violência extremista antes da posse”, diz a reportagem.
O repórter menciona que além do FBI (a Polícia Federal dos Estados Unidos), especialistas em Inteligência e a polícia do Capitólio teriam recebido informações sobre ameaças.
Uma comparação entre os dois vídeos mostrou que a partir dos 22 segundos da sequência publicada pela MSNBC é possível identificar elementos semelhantes, como as bandeiras dos Estados Unidos no prédio e os veículos estacionados; uma placa, grades, além de outras bandeiras e cones colocados na rua, que também aparecem na gravação viralizada.
Uma pesquisa no Google pelas palavras-chave em inglês “Guarda Nacional”, “Capitólio” e “posse de Biden” levou a um vídeo publicado em 16 de janeiro de 2021 pelo site Today. Na gravação, a partir de três segundos, vê-se elementos semelhantes aos da sequência viralizada.
Uma comparação entre esta reportagem e o vídeo compartilhado nas redes sociais mostra detalhes similares, como a disposição das grades e os cones de sinalização na cor laranja.
Ataque ao Capitólio
Em 6 de janeiro de 2021, o Congresso dos Estados Unidos iria se reunir no Capitólio para oficializar a vitória eleitoral de Joe Biden sobre Donald Trump.
Um grupo de manifestantes reunido em frente ao prédio ultrapassou a segurança do local e entrou, após ser incentivado por Trump. O ataque ao Capitólio deixou cinco mortos e mais de 700 pessoas foram presas.
Um mês antes, o The New York Times havia revelado que a equipe de Trump, então mandatário, considerava invocar a lei marcial para “reverter” o resultado das eleições de 3 de novembro de 2020.
Nos dias que antecederam a posse de Biden como presidente, cerca de 20 mil membros da Guarda Nacional foram enviados para proteger o Capitólio e a Casa Branca.
A AFP registrou a militarização no Capitólio com fotografias:
Em 22 de julho de 2022, entretanto, um grupo de congressistas norte-americanos que conduziu uma investigação sobre os acontecimentos de janeiro de 2021 concluiu que o então presidente Donald Trump teria “fracassado em seu dever” durante o ataque e deveria ser responsabilizado legalmente.