É falso que Adélio Bispo prestou novo depoimento e “entregou” políticos envolvidos no crime

  • Publicado em 6 de fevereiro de 2024 às 17:33
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
É falso que Adélio Bispo, autor da facada contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018, tenha delatado a participação de José Dirceu, Gleisi Hoffmann (PT) e Manuela D’Ávila (PCdoB) no crime, como alegam publicações com mais de 4 mil compartilhamentos nas redes sociais desde 11 janeiro de 2024. Na verdade, foram abertos dois inquéritos para investigar o caso e ambos concluíram que ele agiu sozinho. A defesa do réu informou ao AFP Checamos que não tem conhecimento sobre Adélio ter feito alguma declaração nesse sentido.

O Adélio Bispo entregou TUDO na polícia na sexta feira: Mandantes da facada no Bolsonaro: Zé Dirceu e Gleise Hoffmann. Chamaram a Manuela D'Ávila pra fazer a logística. Ela resolveu todo o processo, passagens de avião, aluguel de carros, hotel e etc”, diz a legenda de um vídeo que circula no Telegram, no Twitter, no Facebook, no Instagram, no Kwai e no LinkedIn.

A alegação também foi encaminhada ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usuários podem enviar conteúdos, se duvidarem da sua veracidade.

As publicações são acompanhadas de um vídeo de 24 segundos do deputado federal Gustavo Gayer (PL), no qual ele diz: “O PT mandou Adélio Bispo matar o até então candidato à presidência Bolsonaro, quem fala isso é o próprio assassino”.

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Captura de tela feita em 2 de fevereiro de 2024 de uma publicação no X (.)

Contudo, não é verdade que Adélio tenha prestado novo depoimento nem que tenha citado a participação do ex-ministro da Casa Civil (2003 -2005) José Dirceu, da presidente do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann e da ex-deputada federal Manuela D’Ávila.

Boato antigo

O AFP Checamos não conseguiu localizar a publicação original feita pelo deputado, mas o vídeo circula desde fevereiro de 2022 em publicações com mais de 27 mil visualizações (1, 2). 

Nos vídeos de maior duração, Gayer cita como fonte uma publicação feita por perfil no X que se identificava como parte do grupo de hackers Anonymous. A conta, contudo, foi suspensa. A postagem de 12 de fevereiro de 2022 alegava, sem citar provas, que “Adélio Bispo prestou depoimento gravado plea PF dizendo que a facada teria sido encomendada pela campanha de Haddad em 2018”.

Na época, a Polícia Federal informou ao Estadão que o depoimento não aconteceu. 

Dois inquéritos foram abertos pela PF para investigar o caso, um finalizado em 2018 e outro em 2020, com a conclusão de que Adélio agiu sozinho. Os relatórios de ambos (1, 2) tampouco apontam o envolvimento dos políticos citados nas publicações. O último inquérito, como já mostrado pelo Checamos, ressalta que não foi comprovada a “participação de agremiações partidárias” no crime.

Procurada pela AFP, a assessoria de imprensa da PF comunicou que todas as operações são divulgadas oficialmente no site da organização e que “qualquer informação que circule nas redes sociais que não tenha partido dos nossos canais oficiais de comunicação é de total responsabilidade de quem a divulgou”.

O AFP Checamos não localizou qualquer atualização sobre o caso na página da PF.

Atualmente, Zanone Manuel de Oliveira Júnior e outros advogados que fizeram inicialmente a defesa de Adélio são investigados por suposto envolvimento com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

No final de 2019, Adélio solicitou que a Defensoria Pública da União (DPU) assumisse sua defesa e, desde então, ele é representado pela instituição.

Contatada pelo Checamos, a assessoria da DPU comunicou que “não foi notificada sobre qualquer depoimento do Sr. Adélio Bispo, que segue custodiado na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS)”.

O último depoimento do assistido conhecido por esta defensoria foi prestado no dia 19/08/2019. Por tanto, não temos novidade sobre o assunto”, informou.

A DPU também reiterou que no último depoimento de conhecimento da instituição, Adélio não citou a participação de outras pessoas no crime: 

“Os fatos que são públicos e que foram demonstrados até hoje foi que o assistido agiu sozinho, sem a participação de terceiros”.

Procurando pelo Checamos, Gustavo Gayer não respondeu até a publicação desta verificação.

O AFP Checamos já verificou outros conteúdos relacionados a supostos envolvimentos de Adélio com políticos (1, 2).

Referências

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