Vídeo de 2019 é falsamente ligado a "reabertura" do caso Celso Daniel em 2024; crime prescreveu

  • Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 20:26
  • 3 minutos de leitura
  • Por AFP Brasil
Em 2019, a TV Record exibiu uma matéria sobre um depoimento do empresário Marcos Valério que supostamente implicaria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como mandante do assassinato do político petista Celso Daniel, em 2002. Um trecho da reportagem voltou a ser compartilhado em 24 de janeiro de 2024 em publicações com mais de 2 mil visualizações que alegam que a investigação foi reaberta. Na verdade, o caso prescreveu em 2022. As investigações foram encerradas e apontaram apenas um mandante, que morreu antes de ser julgado.

Vê a Bronka, o Caso Foi Reaberto”, diz a legenda de um vídeo que circula no Telegram, no Facebook e no Twitter. Nas publicações, é possível ver uma matéria do Domingo Espetacular, da TV Record, sobre o assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel.

O político petista foi encontrado morto em janeiro de 2002, na cidade de Juquitiba, em São Paulo, após ser sequestrado. As investigações sobre o crime foram concluídas e reabertas três vezes ao longo dos anos.

O trecho compartilhado nas publicações repercurte um depoimento dado por Marcos Valério, empresário preso por envolvimento no mensalão, que teria relacionado o presidente Lula e o PT ao assassinato de Celso Daniel.

Image
Captura de tela feita em 29 de janeiro de uma publicação no Telegram (.)

No entanto, as investigações sobre o caso não foram reabertas em 2024.

Delação de Marcos Valério

Por meio de uma busca pelas palavras-chave “Marcos Valério”, “Celso Daniel” e “Domingo Espetacular”, o AFP Checamos localizou a reportagem original em uma publicação de outubro de 2019 no canal do YouTube do Domingo Espetacular. O vídeo viral, contudo, foi editado, com cortes de elementos que indicavam se tratar de um conteúdo anterior a 2024. Por exemplo, no vídeo original, o apresentador diz que o “caso Celso Daniel está de volta às manchetes 17 anos depois” e o repórter chama Lula de “ex-presidente”.

A matéria da Record afirma que o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) reabriu o caso em 2018, por não concordar com a tese da Polícia Civil de que o assassinato teria sido um crime comum, e que o depoimento de Marcos Valério faria parte da nova investigação, conduzida pelo promotor Roberto Wider Filho.

Valério teria afirmado que o empresário Ronan Maria Pinto, condenado por lavagem de dinheiro em 2017, disse em uma reunião que apontaria Lula como mandante do assassinato de Celso Daniel.

O suposto trecho do depoimento de Marcos Valério também foi divulgado em uma reportagem da Veja de outubro de 2019.

Mas, no mesmo período, o jornal El País publicou uma entrevista com Wider Filho, em que o promotor diz que enviou um depoimento de Valério ao Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), mas que não ouviu a versão que apontaria Lula como mandante do crime.

Investigações encerradas

Em 2012, o MP-SP acusou o segurança de Celso Daniel, Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, de ser o mandante do crime. No entanto, ele morreu em 2016, antes de ser julgado. Outras seis pessoas já tinham sido condenadas à prisão por envolvimento no assassinato.

De acordo com uma matéria da revista Veja, publicada em julho de 2022, investigações conduzidas pelo MP-SP e pelo Gaeco foram encerradas em dezembro de 2021 e teriam concluído que o assassinato não foi um crime comum. No entanto, as investigações não apontaram outros possíveis mandantes.

Não foram encontradas informações sobre uma reabertura recente do caso.

A assessoria de imprensa do MP-SP informou à AFP que as investigações “estão encerradas porque operou-se a prescrição do crime, após 20 anos do seu cometimento”.

Referências

Há alguma informação que você gostaria que o serviço de checagem da AFP no Brasil verificasse?

Entre em contato conosco